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27/04/2016

Casa de António Nobre e Prédio Art Nouveau



Entre os exemplos típicos de casas ou de prédios lado-a-lado degradados da cidade do Porto temos estes dois notáveis imóveis na Foz (Nºs 531 e 523, respectivamente), na Avenida Brasil, que se distinguem por dois motivos distintos: um é a casa onde residiu e veio a falecer o poeta António Nobre e o outro é um prédio elegante com uma morfologia e elementos Arte Nova (atendendo que a arquitectura Art Nouveau no nosso território é rara e muito presa a características tradicionais, este prédio revela ser bem interessante).

A casa onde veio a falecer António Nobre (1867 – 1900) permite esclarecer um detalhe no que toca ao património edificado, que é o facto de que uma casa que não revele características únicas ou dada relevância em termos de tendências da arquitectura, não deixa de ser valiosa devido à sua importância cultural e histórica. Curiosamente, a par de algumas outras casas onde vieram a residir escritores do Porto, nunca foi classificada e a Câmara Municipal não demonstra o menor interesse ou a intenção de fazê-lo – ou seja, tem demonstrado abertura para a cultura só para algumas coisas, para outras nem por isso.

Não conseguimos descobrir as origens do Nº531, onde veio a residir o poeta que felizmente ainda é relembrado por muitos, mesmo sabendo sem sombra de dúvida, de que se trata de uma casa da segunda metade do século XIX (mesmo pequena e simples, quantos não a desejariam, no local onde se encontra?). No entanto, obtemos mais informação sobre o prédio Nº523, que foi construído entre 1911 – 1912, após a demolição da casa possivelmente contemporânea da de António Nobre que a antecedeu. De fachada elaborada e de contornos elegantes, com painéis de azulejos de motivos florais dignos de apreciação, teve como proprietário António Rodrigues Cardoso e o seu mestre-de-obras foi o experiente Manuel Ferreira da Silva Janeira, residente na Foz e certamente bem conhecido na área.

O Nº523, tratando-se de uma verdadeira moradia situada num local invejável, virada para o mar, também exibe os sinais de estar desabitada há anos e não tem o gradeamento original da varanda central (que deveria ser sinuoso os restantes), mas continua bem caiada de branco e mantém de tal modo a sua beleza que nos custa acreditar que até ao momento, mesmo sendo o seu preço elevado, que não tenham surgido muitos interessados em adquiri-la.


31/03/2016

Moradia de Joaquim Soares da Silva Moreira

Já aprendemos há algum tempo que nem as obras dos mais notáveis arquitectos de Portugal escapam a este desprezo e total ausência de manifesta vontade por parte das autoridades competentes ou gente responsável que permitem que casas únicas sejam votadas ao abandono durante muitos anos a fio e acabem por se degradar. Receamos que o mesmo venha a acontecer com esta moradia que se situa na Rua de D. João IV, tendo sido projectada pelo distinto arquitecto José Marques da Silva.

Na época em que foi erguida esta era a Rua Duquesa de Bragança que replicava o exemplo de construção de palacetes e mansões de uma burguesia próspera que eram vísiveis noutras ruas da freguesia do Bonfim (talvez a mais rica em termos de arquitectura civil e particular da cidade do Porto), fenómeno que já se vinha a verificar desde finais do século XIX. 

Esta moradia, procurando imitar alguns dos modelos existentes, mas ainda assim original em vários aspectos, foi erguida segundo vontade do proprietário Joaquim Soares da Silva Moreira, comerciante de torna-viagem original de Moreira da Maia, que não só foi vereador da Câmara Municipal do Porto e comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, como se destacou enquanto administrador do Banco Aliança e como accionista da Companhia Aurífica. Marques da Silva projectou-a em 1904 para o seu cliente, mantendo alguma fidelidade para com a arquitectura portuense da época, mas ainda assim conjugando-a com as linhas das Beaux-Arts de Paris, tendo escolhido os melhores materiais através de uma notória ausência de restrinções orçamentais.

Mais tarde a moradia sofrerá novas alterações. Em 1914 é acrescentada uma varanda virada para o jardim e em 1925 uma garagem no quintal, dispondo de arrecadações no piso superior. Ainda hoje se distingue pelo seu jardim, que cobre uma área situada num estreito entre a Rua D. João IV e a Rua Comandante Rodolfo de Araújo, ambas com ligação à Rua de Fernandes Tomás. Os gradeamentos de linhas sinuosas e os jarrões em granito que ladeiam os portões são um exemplo de outros detalhes interessantes.

29/03/2016

Moradia Nº140 na Rua Joaquim António Aguiar
























Entre os vários prédios revestidos a azulejos na urbanização do Cirne, no Bonfim, caracterizados por uma ténue ou mais completa influência Art Nouveau, não passa despercebida esta antiga moradia na esquina do cruzamento da Rua Joaquim António de Aguiar com a Rua do Duque da Terceira. Os elementos vegetalistas não só marcam presença nos seus azulejos verdes e nos seus gradeamentos como ainda são reconhecidos através da sinuosidade de molduras das janelas e portas ou de outros contornos que lembram a arquitectura barroca – se bem que mais estilizada.

As acácias das ruas ensombram um pouco o imóvel, mas longe de serem incoerentes com a sua arquitectura e a aprazibilidade que transmite esta velha urbanização, dão-lhe um efeito “vivo”, perdendo apenas por estar abandonado e em processo de degradação.

A moradia foi erguida para nela habitar António Joaquim Moreira de Sousa, que adquiriu o terreno onde se encontra em 1908, confiando o seu projecto a Manuel Ferreira Ribeiro. Todavia, o projecto original foi alterado e rectificado ao longo dos anos, tendo levado a vários acrescentos que são facilmente distinguidos. Mais tarde, com a morte do seu proprietário, a casa passa para as mãos de um sobrinho que a vende a Francisco José Leite em 1922. No ano de 1929 é comprada por Adriano Rebelo de Melo Cabral, que nela habita até aos finais do século XX. Os seus herdeiros venderam a moradia à empresa Valaminaz – Arquitectura e Construção, mas por motivos que nos são alheios o imóvel permaneceu vazio e sem um projecto para reabilitá-lo desde então.

28/03/2016

Moradia Nº289 na Rua de Alexandre Herculano


Na esquina do cruzamento da Rua de Alexandre Herculano com a Rua Duque de Loulé, que marca justamente a fronteira entre a freguesia da Sé e a do Bonfim, encontra-se uma das grandes moradias históricas mais devolutas da cidade do Porto.

É distinta e significativa, marcada por sinais de muitos anos de abandono e vandalismo, já que se encontra demasiado exposta e vulnerável. Apesar de uma elevada dimensão e de uma dada relevância a nível arquitectural, não se trata de uma casa com elevado valor histórico – embora patrimonial seja a palavra mesmo adequada, já que segue de perto um conceito similar ao dos notáveis palacetes dos finais do século XIX que podemos encontrar no Bonfim (demoli-la seria sem dúvida um crime). O seu primeiro proprietário era Joaquim José Dias Pereira, dono de uma série de terrenos na área, que a mandou erguer em 1888.

Além de ampla e possuir um muro gradeado que rodeia o que outrora terá sido um pátio ajardinado, dispondo de portões, a sua fachada virada para a Rua de Alexandre Herculano, detentora do Nº289, é dotada de maior interesse, contrastando um pouco com a sobriedade geral do edifício. Não é difícil discernir os elementos neoclássicos que vieram a ser implementados em muitos prédios da cidade do Porto: a janela central do segundo piso é encimada por um frontão triangular e o primeiro piso é dotado de blocos de alvenaria separados por juntas profundas, embora se limitem a servir de moldura.

Os maiores danos da casa são visíveis nas traseiras, embora seja claro que o telhado se encontre esburacado, as paredes revelam escoriações graves, filmes negros cubram o granito exposto, portas e janelas terão de ser substituídas, a exposição ao vandalismo comprovado pela presença de grafitis terá de ser contrariada e que o seu interior deverá conter obras de remodelação profundas ou completas para que volte a ser seguro circular entre as diferentes divisões. Encontra-se à venda já há uma série de anos e, lamentavelmente, é difícil concluir se o preço de compra iguala o elevado custo de reabilitação…

03/03/2016

Uma Moradia por detrás de Um Portão na Rua do Barão de Nova Sintra

Nem sempre o património que é de todos está acessível; e nem sempre tal se deve a motivos de segurança ou de zelo – em muitas situações o que se passa é mesmo o oposto! Há património de tal modo votado ao desprezo que os acessos e o mato que o envolvem não permitem mesmo que ninguém se aproxime para admirá-lo ou reconhecê-lo.

A moradia que se encontra por detrás de um portão com um interessante gradeamento enferrujado na Rua do Barão de Nova Sintra é disso um exemplo. Há muito que o mato cresceu de tal maneira que envolve completamente uma moradia histórica que, por estranho que pareça, também já esteve classificada e foi reconhecida como património municipal (nem temos a certeza se ainda mantém o mesmo estatuto). Poucos adivinharão que por detrás deste portão encontra-se uma ampla propriedade que se estende até à Travessa de Nova Sintra e à Travessa da China.

Noutros tempos, o que é hoje uma considerável extensão de mato que cresce de ano para ano descontroladamente, situava-se não só a moradia forrada a radiantes azulejos azuis do industrial António Dias Pereira como um armazém de cal, gesso e outros materiais de construção que funcionou entre os finais do século XIX e inícios do século XX. Do que sabemos sobre a moradia, completamente submersa pela vegetação, podemos descrever que se encontra muito danificada e que uma queda de uma árvore há cerca de 10 anos atrás causou-lhe estragos consideráveis. Tendo em conta o estado de abandono que já se encontra há algumas décadas, é provável que assim se mantenha durante os próximos tempos.

29/02/2016

Villa Isabel



O principal problema de investigar casas históricas em territórios fora da cidade do Porto mas que ainda assim pertencem à sua área metropolitana é a ausência de arquivos mais completos ou dados e informações tão bem documentados e conhecidos como é possível de obter numa das cidades mais importantes do país. Em Gondomar, por exemplo, não há registos e licenciamentos de obras anteriores a 1951. Prende-se a isso uma desvalorização ainda acentuada pelo património e até mesmo por casas classificadas, uma monografia desactualizada, parcas investigações de historiadores locais e até um elevado nível de desinteresse que marca uma população dividida entre o provincianismo e a indignação ou a procura de identificação com o Porto, renegando o seu local de residência como «apenas um dormitório» (infelizmente, correndo o risco de ofender vários leitores, não encontramos melhores termos para descrever a situação).

O património de Gondomar enfrenta sérios riscos na ausência de medidas adequadas de defesa ou de um reconhecimento cultural local porque de facto é difícil reconhecer uma identidade local. E se há, não se distingue certamente pela ligação da sua população com o património edificado, à excepção de alguns lugares assinalados pela presença de antigas quintas ou de algum património industrial e até religioso.

Mas referimos tudo isto apenas para assinalar o problema de uma moradia singular que se encontra precisamente no centro de Gondomar, em São Cosme, numa subida para o Monte Crasto. Trata-se da Villa Isabel, assim identificada pelos seus azulejos Art Nouveau, que foi sofrendo algumas alterações ao longo dos tempos, embora seja assinalada por uma arquitectura típica do início do século XX. A fachada principal da casa detém os significativos painéis de azulejos e é possível reconhecer uma dada influência revivalista no corpo mais alto que contém a entrada principal, que lembra um torreão, com uma porta sob a varanda inspirada nas portas dos finais do século XV.



Há aqui alguns indícios que nos levam a especular que terá sido projectada pelo mesmo arquitecto ou mestre-de-obras da moradia em ruínas no alto da Carvalha em Fânzeres, em pertença da família dos Capotes, mas essa possibilidade não nos dá as respostas pretendidas, pois em comum têm apenas alguma linguagem residual das molduras simples que serviram para incorporar os vários painéis de azulejos (que provavelmente foram produzidos na mesma fábrica, a Fábrica do Carvalhinho). Mas não há (de momento) como saber a que família pertenceu a Villa Isabel, ou quem foi o seu primeiro proprietário, pois até mesmo a vizinhança não tem respostas. Encontra-se abandonada há muito tempo e é uma sorte ainda dispor da maioria dos seus coloridos azulejos com elementos floridos. Pouco ou nada se fez para preservá-la, ainda menos para classificá-la e o interesse que capta é de poucos.

A moradia está à venda, mas o seu estado visivelmente degradado parece afastar potenciais compradores. Num território onde facilmente se adulteram ou são demolidas casas com elevado valor patrimonial, (acabando-se por se ceder a vontades de investidores imobiliários ou até mesmo a cadeias de fast-food e colégios privados) é de se temer pelo futuro desta casa, que pode não ser risonho. 

23/02/2016

Moradia Nº119 na Rua de Cândida Sá de Albergaria



No cruzamento entre a Rua de Cândida Sá de Albergaria e a Rua de Diu, na Foz, situa-se esta velha moradia (ou o que resta dela) das últimas décadas do século XIX. Sóbria e sem grandes detalhes decorativos, adquire maior interesse pelas portas e janelões que rasgam todas as fachadas com um ritmo equilibrado, conferindo-lhe maior leveza através dos arcos de volta perfeita que os compõem.

Apesar de entaipada e sem o seu interior, as suas fachadas de granito encontram-se muito bem preservadas – um proprietário que a adquirisse teria de reconstruir de raiz o seu interior.

Esta moradia foi erguida segundo vontade de José Pinto da Silva Tapada em 1882, que nela residiu durante cerca de uma década. Era proprietário de algumas casas no Porto e, aparentemente, residente numa casa no antigo Sítio dos Guindais, que é agora a Avenida Gustavo Eiffel. Pelo seu nome, é possível que fosse um descendente da família Pinto e Silva Tapada, que foi proprietária da Quinta de São Salvador em Vila Nova de Gaia.

17/02/2016

Moradia de José Dias Alves Pimenta


Além de tristeza que causa por ser mais uma casa com alguma relevância histórica da cidade do Porto ao abandono, também causa uma certa indignação pensar que está classificada como património e que ficou inteiramente devoluta a partir do momento em que ficou em posse do município (mais precisamente das Águas do Porto) em 1990.

José Dias Alves Pimenta mandou construir esta sua casa em 1888 num terreno com uma das melhores vistas sobre o Douro, com um panorama sobre o Freixo e junto à Rua da China, com acesso à quinta homónima, onde residiu a pintora Aurélia de Sousa. É fácil imaginar o cenário idílico em que José Dias Pimenta escolheu dispor desta habitação, pois além de dispor de uma boa paisagem, a sua residência também contava com um espaço verdejante envolvente e uma dada tranquilidade, além de não se encontrar muito afastada do centro da cidade.

Convém relembrarmos José Dias Alves Pimenta enquanto negociante culto e empreendedor e importante membro do Ateneu Comercial do Porto, chegando a ser presidente nos anos de 1881, 1884, 1892 e 1899. Enquanto republicano participou também na revolução de 31 de Janeiro e fez parte do desenvolvimento do Núcleo Republicano Regionalista do Norte no início dos anos 20 do séc. XX. Coleccionava arte, mantendo várias pinturas de Aurélia de Sousa nesta sua moradia.

A partir de 1896 a sua propriedade sofre determinadas alterações, principalmente devido à abertura do Túnel do Seminário que permitiria a ligação entre a Estação de Campanhã e de S. Bento, enquanto que a frente da sua casa passa a integrar a Rua do Barão de Nova Sintra, alargada para permitir a deslocação e o movimento dos trabalhadores que laboravam no novo túnel de comboio. José Dias Alves Pimenta morreu em 1925 e a sua casa esteve na posse da sua família durante muitos anos, antes de cair na posse do município e ser completamente votada ao abandono. 

27/01/2016

Casa do Engenheiro Joaquim Gaudêncio Rodrigues Pacheco


No cruzamento da Rua de Diu e da Rua do Teatro, na Foz do Douro, quase passa despercebido um imóvel que vários definem como «prédio» ou «antigo teatro», pois afinal de contas terá existido um teatro na rua homónima e é natural, dadas às características únicas deste edifício, que se confundam com algo de mais notável que uma moradia. Mas trata-se realmente de uma moradia! E o antigo teatro que existiu na área situava-se junto a esta casa (muito provavelmente onde hoje se situa um prédio moderno da autoria do arquitecto Eduardo Souto Moura).


Apesar do conjunto de intenções e das várias intervenções que esta moradia tem tido no sentido de melhor preservá-la, principalmente a nível exterior, necessitará de obras mais profundas de reabilitação para estar pronta a ser habitada. Mas o pior tem sido no que toca à preservação dos painéis de azulejos – trata-se de um pequeno conjunto que se situa entre os melhores exemplares de cerâmica Arte Nova que se podem encontrar na área metropolitana do Porto e que nós atribuímos à Fábrica de Cerâmica das Devesas. Infelizmente, cerca de um terço dos azulejos já desapareceram e quase outro terço dos restantes apresentam danos que muito nos desagradam.

Além do seu valor a nível decorativo, a arquitectura da casa é elegante e denota um traço único pelas mãos do seu autor que, aliás, julgamos ser o seu primeiro proprietário: o engenheiro Joaquim Gaudêncio Rodrigues Pacheco (n. 1875), profissional a que temos de dar importância devido aos seus projectos a nível do alojamento operário e da Habitação Social, tendo seguido e acompanhado de perto as linhas programáticas do arquitecto José Marques da Silva (ver Nota no final). O proprietário, com apreço pelo detalhe e rigor, contou com o mestre-de-obras Licínio Teixeira Cardoso para construir esta moradia em 1910 mas, pouco satisfeito com o primeiro projecto, manda alterá-lo em 1912 consoante o seu próprio gosto. Só muito mais tarde, em 1923, nas traseiras do edifício, manda acrescentar uma garagem e é possível que várias alterações na casa decorram em linha com esta adição a partir dessa data, pois nesta secção já se reconhece uma influência Art Deco.


É precisamente nas traseiras desta casa, viradas para a Rua do Teatro que os danos e os sinais de abandono são mais visíveis. Lamentamos que assim seja - esta moradia é mais um pedaço de património da Foz do Douro que necessita de ser reconhecido... e bem protegido.


NOTA: Joaquim Gaudêncio Rodrigues Pacheco tornou-se engenheiro-chefe da 3ª Repartição da Câmara Municipal do Porto em 1909. Embora o seu papel como autor de importantes projectos na cidade ainda carecem de estudos mais profundos, alimentou-se a especulação entre vários investigadores de que poderia ser o verdadeiro autor (ou que tivesse de alguma forma contribuído) do antigo Matadouro Industrial de Campanhã e até da Escola Infantil do Passeio Alegre na Foz (inaugurada em 1916) inspirado pelas linhas de Marques da Silva, mas adicionando elementos mais “classicistas”, se bem que não tenhamos como o comprovar. Tal como o mais notável arquitecto da cidade do Porto, foi um pioneiro na área da Habitação Social: projectou o Bairro do Bonfim no Monte das Antas (inaugurado em 1904) e foi responsável pela Colónia Viterbo Campos na Arrábida (1916/17).

25/01/2016

Ruínas no Alto de Soutelo/Avenida da Carvalha


Desde há alguns anos que os habitantes do Alto de Soutelo, na freguesia de Fânzeres em Gondomar, lamentam o estado de declínio de uma casa em particular que sempre se destacou na Avenida da Carvalha – é comummente referida como a «antiga casa dos Capotes». Este nome chamou-nos a atenção, tanto mais que os descendentes desta família ainda são conhecidos por esta designação, tanto em Fânzeres como em Rio Tinto (já que o Alto de Soutelo ocupa a fronteira entre as duas freguesias e os “Capotes” foram donos de propriedades que ocupam esta área). Ainda hoje se debate entre os cidadãos se «Capote» é uma alcunha ou um nome próprio, embora a importância que este nome adquire para o nosso blogue diz respeito à história desta casa.

A importância da família para o local em questão corresponde precisamente ao “primeiro Capote”, comprovando-se, através de registos monográficos de Fânzeres, que se tratava da alcunha de José Martins Marques, que acabou por acompanhar os seus descendentes. José Martins Marques Capote era, por seu lado, herdeiro desta moradia que se presume ter sido erguida pelos seus pais algures entre os finais do século XIX e inícios do século XX, que já eram donos da fábrica ao lado, assinalada também por ruínas e um velho portão enferrujado, de acessórios para a indústria têxtil que já funcionava por volta de 1880. Mais tarde, em meados dos anos 30 do séc. XX, José Martins Marques instala na mesma avenida, em frente à sua casa, uma fábrica de produção de tecidos, expandindo o seu negócio, tornando-se uma das indústrias mais importantes do território.


Hoje em dia já não existe nenhuma fábrica ligada à indústria têxtil no alto da Avenida da Carvalha. A mais antiga, assinalada pelas ruínas, chegou a ocupar uma oficina automóvel durante os anos 80 que resistiu até aos primeiros anos do séc. XXI (e já nessa altura havia perdido todo o seu «brilho»). A fábrica em frente deixou de funcionar também e foi inteiramente demolida em 2004 para dar lugar a um prédio de habitação que dispõe de várias galerias comerciais. A bela moradia ainda resistiu… Ou foi resistindo, mediante o abandono (chegou-se a especular que seria motivo de litígio entre os herdeiros). Apesar do seu valor patrimonial, em termos históricos mas igualmente a nível de arquitectura e da azulejaria encontrava-se desclassificada (ainda se encontra!) e desprotegida, o que veio a facilitar o incêndio em Maio de 2013 que a destruiu e a transformasse no triste monumento que é hoje – um monumento em ruínas.


Mais recentemente, acompanhando o crescimento de mato incontrolado que agora envolve o que resta das ruínas, foram retirados (roubados?) os painéis de azulejos que eram visíveis no exterior da casa. Muito provavelmente são provenientes da antiga Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho (mas não tivemos como o comprovar). Nas áreas superiores os painéis eram bastante coloridos, de influência Arte Nova, com composições de flores. Na fachada principal, virada para a avenida, destacavam-se como elo de ligação entre as janelas da cave e do primeiro piso painéis de azulejos policromados, azuis, com a representação das margens do Douro e de barcos rabelos.

22/01/2016

Duas Distintas Casas na Avenida Fernão de Magalhães


Para quem costuma passear pela cidade do Porto, seja de carro ou a pé, não é invulgar encontrar duas casas ou dois prédios, lado a lado, abandonados e devolutos (até há exemplos de quatro ou cinco). Chamamos a esse fenómeno «Contágio Duplo» que, pela força de vários motivos que merecem ser estudados, leva-nos muitas vezes a confundir dois prédios como um só, principalmente quando a sua arquitectura não é muito distinta ou interpretamos dois casos distintos como se tratasse de algo único.

Esta confusão é justificável em muitos casos – ainda mais se julgarmos que duas casas ou dois prédios contíguos, idênticos, pertenceram ao mesmo proprietário. Mas no que toca ao exemplo de duas habitações na Avenida Fernão de Magalhães (os números 1207 e 1212 – 1216) não deveria haver margem para este género de equívocos. Cada uma apresenta diferentes características, já que são de épocas diferentes, embora não sejam completamente dissonantes entre si. Antes se diria que existiu uma procura de coerência no mais novo imóvel, que corresponde aos números 1212 e 1216.

Não sabemos quem foi o primeiro proprietário ou o arquitecto responsável pelo Nº1207, que apresenta alguns gradeamentos interessantes. A referência mais antiga desta casa refere uma proprietária, Eufrásia da Costa Gonçalves Vasconcelos, mas já é dos anos 30 e percebemos que fez obras de manutenção numa casa com já várias décadas de existência, datando possivelmente da mesma altura de abertura da Avenida Fernão de Magalhães (mas continuaremos a investigar para ver se descobrimos mais).



Em relação à casa com os números 1212 – 1216 dispomos de mais informação, que em termos históricos, principalmente no que toca à História da Arquitectura do Porto, é relevante. Um dos seus proprietários foi o arquitecto Mário Augusto Ferreira de Abreu, a cuja autoria correspondem alguns dos prédios mais notáveis da primeira metade do século XX situados na freguesia do Bonfim (e não só). O outro proprietário da casa (pois possuiu duas habitações separadas, ao contrário do que seria de esperar) era João Soares de Bastos, enquanto o principal técnico da obra foi o engenheiro Joaquim Mendes Jorge. Foi construída no ano de 1935 e reconhece-se uma ténue influência Art Deco (ou mais um vestígio severo) que podemos identificar noutros prédios da cidade, como os muito similares Nºs 32 – 36 da Rua de Brás Cubas da autoria de Mário Augusto Abreu, o que nos leva a concluir que esta casa foi desenhada precisamente pelo seu proprietário arquitecto. 

15/01/2016

Moradia Nº32 e 36 na Rua de Brás Cubas

Actualmente, a Rua de Brás Cubas é uma das artérias que mais passam despercebidas entre as várias ligações possíveis à Avenida de Fernão de Magalhães e poucos também se apercebem que Brás Cubas é o nome de um fidalgo português nascido em 1507 que fez algumas explorações por sua conta no Brasil, tendo mesmo fundado algumas povoações. Curiosamente, esta rua nem sempre teve o nome deste explorador português do séc. XVI, tendo sido antes, na sua origem e durante uns anos, conhecida por Rua Particular à Avenida Fernão de Magalhães (indicando o seu carácter privado).

Mas o que mais nos chama a atenção nesta rua estreita é história por detrás de uma moradia devoluta – aliás, não deixaremos de frisar que por detrás de cada bem patrimonial esquecido, abandonado, devoluto ou já em fase de ruínas existe sempre uma história por contar. Pois os imóveis do Porto são assim: sempre recheados de história. Esta casa que descrevemos corresponde aos números 32 e 36 e o seu projecto data de 1933, tendo sido erguida entre os finais desse ano e 1934. Não nos parece errado afirmar que está patente uma nítida influência Art Deco – recebeu uma influência severa, mas nítida a partir do corpo central da fachada e dos frisos superiores com uma estilização muito própria da época.

O proprietário que mandou erguer este imóvel chamava-se António de Sousa Ramos e fê-lo com o objectivo de o dividir em duas habitações para dois diferentes moradores. Tudo indica que fê-lo com o propósito de arrendar. O seu arquitecto foi Mário Abreu, um dos arquitectos mais activos do Porto que, em colaboração com Mário Augusto Ferreira de Abreu, durante os anos 30 e inícios dos anos 40 do século XX foi responsável por nos ter legado muitas obras privadas digno de interesse. 

18/09/2014

Conjunto de Moradias Geminadas na Rua 5 de Outubro



Não é exemplo único, mas um entre os vários conjuntos de habitações com décadas de existência que se encontram vazios de proprietários e com as entradas entaipadas. Este excepcional conjunto de moradias é paradigmático do que poderia ser considerado emblemático e digno de ser classificado como Imóvel de Interesse Público na nossa cidade. Ignoramos o motivo pelo qual as moradias se encontram devolutas e sem residentes. Sabemos apenas que a Câmara Municipal do Porto não se absteve de salvaguardar uma parte valiosa dos painéis de azulejos que outrora percorreram os frisos da parte mais antiga do conjunto, azulejos esses de estilo Arte Nova e reconhecidos como provenientes da célebre Fábrica de Sacavém (um painel desses mesmos azulejos pode ser admirado no Banco de Materiais da Câmara).



Aplaudiremos sempre a iniciativa de salvaguardar tão preciosos elementos históricos como os nossos azulejos, mas permitir a completa degradação de moradias como estas é que não. Mais uma vez somos levados a crer que a vontade de desenvolver novos conceitos de habitação social não alberga casas antigas com possibilidade de integrar mas apenas e sobretudo blocos de apartamentos que formam os bairros de exclusão que estão comummente afastados do centro de uma cidade cada vez mais deserta (a reabilitação da Ilha de S. Vítor e o programa daí decorrente parece ser a única excepção à regra).

Independentemente de se tratar de um conjunto privado ou não, o poder local não deveria permitir que um conjunto de habitações que poderia ser lar de várias famílias chegasse a este deprimente estado. E reabilitá-las enobrecia esta área da Rua 5 de Outubro, já que o conjunto foi inteiramente uma obra de dedicação do seu primeiro proprietário, que pediu licença para as construir nos anos 20.


Foi em 1922 que José de Passos Mesquita pediu licença de construção das primeiras moradias geminadas (supomos que para arrendar) neste local, correspondentes aos números 527, 535, 543 e 551, rasgadas por elegantes janelas e com típicos gradeamentos que juntamente com os azulejos enalteceriam o conjunto. Será no ano a seguir que José de Passos Mesquita se dedica às obras de ampliação e modernização das mesmas, acrescento barracões e lugares de garagem nas traseiras das mesmas. Foi um projecto faseado. Em 1930 dá início à construção de mais quatro moradias geminadas, em tudo similares às primeiras, contando com um projecto assinado pelo arquitecto Inácio Pereira de Sá (provável responsável pelo projecto do primeiro conjunto de moradias dos anos 20), correspondendo aos números 559, 567, 575 e 583, que dispõem de frisos de azulejos diferentes (serão igualmente provenientes da Fábrica de Sacavém?). Só em 1933 é que estas habitações ganham lugares de garagem nas suas traseiras, facilmente acedidas através da Rua Moreira de Sá.

Desagrada-nos muito o estado devoluto e o desaproveitamento de todo o conjunto que já se perpetua há demasiados anos – faz-nos antever o pior em relação ao futuro destas moradias, como se fossem mais um pedaço de história pronto a ser devastado para dar lugar a outros empreendimentos contrários aos interesses de uma sociedade que protege e cuida do seu património.

10/09/2014

Moradia Nº4875 na Avenida da Boavista


O caso desta ampla moradia chama-nos particular atenção devido ao mistério que envolve a mesma, além de evidenciar uma rica história que envolve uma ilustre família do Porto.

Qual é o mistério que a envolve? Em primeiro lugar, não conseguimos identificar ou descobrir registos que apontam para a data exata da sua construção (muito provavelmente terá sido nos anos 20 do século XX). Em segundo lugar, ainda desconhecemos quem terá sido o seu arquitecto. Em terceiro – cientes de que a casa terá sido efectivamente ocupada por um médico, devido a inúmeras radiografias que nos anos 90 estavam espalhadas por algumas divisões da casa – ainda não comprovamos que o seu proprietário era mesmo o Prof. António de Sousa Pereira (1904 - 1986), conceituado professor de anatomia a partir de 1930, tendo chegado ao cargo de reitor na Universidade do Porto entre 1969 e 1974.


O que podemos determinar, pelas proporções e devido aos inúmeros elementos que a compõem, é que esta moradia apresenta muitas características da chamada típica “Casa Portuguesa” que diz muito respeito à obra de Raul Lino (1879 – 1974); longe de apontarmos a sua autoria – que evidentemente não podemos comprovar – é mais que justo referir a influência do seu trabalho nesta moradia (existência de alpendre, paredes caiadas, cobertura de telha sanqueada com as curvas da arquitectura portuguesa tradicional…). Inicialmente, o terreno onde a casa se ergue pertenceu a Johann Wilhelm Burmester, responsável por erguer o muro em seu redor, pelo que será de concluir que a moradia foi construída por sua vontade para nela residir.

Johann Wilhelm Burmester era filho do rico negociante Gustav Adolf Burmester (1852-1940), conhecido residente na Casa Burmester, mais conhecida por Quinta do Campo Alegre, que actualmente pertence à Universidade do Porto.


09/09/2014

Moradia na Rua de Círiaco Cardoso


Nunca tivemos a menor dúvida que uma descoberta fortuita pode levar ao reconhecimento, classificação e proteção do nosso património para júbilo dos cidadãos que se interessam por esse mesmo tema (já de si tão indignados ou incapazes de compreender o estado de desprezo a que foram votados tantos monumentos belos numa cidade tão rica em história). Felizmente, a moradia Nº31 da Rua de Círiaco Cardoso parece ser um desses casos: Apesar do seu estado de degradação e abandono, esta tornou-se notória quando foi feita a revelação em Março de 2014 de que terá sido desenhada pelo arquitecto Raul Lino (1879 - 1974), ilustre cultor da "Casa Portuguesa". 

O mérito desta descoberta recaí sobre a investigadora Carla Garrido de Oliveira, arquitecta e professora de História de Arquitectura Portuguesa na Universidade do Porto. Não pretendemos esmiuçar muito mais os detalhes ou os contornos da investigação que levou a esta fortuita descoberta (a qual, esperamos, pode levar à classificação ou exigência de preservação deste imóvel). Evidenciaremos antes que se foi identificada uma obra de Raul Lino na cidade do Porto, temos toda a legitimidade para lançar a suspeita de que muito provavelmente não é a única. 

E por isso lançamos a questão:

Podem várias das moradias mais notáveis abandonadas do Porto das primeiras décadas do século XX ter sido projectadas por arquitectos portugueses famosos cuja história foi esquecida ou nos passou despercebida até à actualidade? 




Esta moradia encontra-se à venda e é verdadeiramente única. Apesar das alterações que sofreu ao longo dos anos, não deixa de ser uma casa portadora dos elementos que facilmente atribuímos à obra de Raul Lino, que podemos descrever como "neotradicional", com paredes de pedra (granito, neste caso) caiado, vãos emoldurados, utilização de alpendres e no uso da cobertura de telha sanqueada. 

O seu proprietário original era o médico João de Almeida e a assinatura do projecto da casa foi assinada pelo arquitecto José do Santos, uma curiosa lacuna (entre muitas nos projectos e licenças de obra antigas) que nos leva a pensar na existência de outros possíveis exemplos do muito que ainda há por descobrir e no mistério das obras notáveis de autores anónimos, que podem ter sido mais famosos do que em príncipio julgamos.

25/08/2014

Moradia Nº65 da Rua de Sacadura Cabral


Já há algum tempo que procuramos estudar e exemplificar este imóvel como mais uma obra de um conhecido arquitecto da cidade do Porto que está ao abandono e para o qual  não parece existir algum projecto para o recuperar.

O arquitecto Júlio José de Brito (1896 - 1956), que também merece um mais digno reconhecimento e ao qual a câmara municipal do Porto poderia promover um roteiro das suas obras - o mesmo propomos, evidentemente, para as obras do famosos arquitecto José Marques da Silva (entre outros que tanto marcaram a nossa cidade) -, projectou esta nobre moradia em 1930 para residência do proprietário João Rodrigues Assunção.

Construída no ano de 1931, a moradia apresenta alguns dos traços mais austeros da Art Deco, que são evidentes na fachada principal, na entrada correspondente ao número 65 que rasga uma parede em cantaria de apoio ao corpo saliente de uma janela dividida em três ângulos muito comuns na arquitectura portuguesa da época e com um magnífico vitral ainda intacto do alto janelão rectangular que ilumina a escadaria interna de acesso ao andar superior. Mas se nesta fachada é evidente alguma dessa linguagem formal, o mesmo não se pode dizer da fachada de muro curvo da entrada nº53 virada para o encontro da Travessa da Carvalhosa com a Rua de Sacadura Cabral, que apresenta uma inspiração mais clássica, erguida essencialmente em betão armado, com uma loggia simples e angular sobrepujada ao nível do primeiro andar com colunas e balaustrada.



É mais uma moradia única na cidade do Porto, similar a tantas por se encontrar vazia e com sinais de degradação. Júlio de Brito pode ter projectado o Teatro Rivoli, a Junta de Freguesia de Cedofeita e muitos outros edíficios marcantes da cidade do Porto durante parte do século XX, mas esta casa ainda não parece ter encontrado destaque pelos melhores motivos no seu currículo.

01/04/2014

Edifício de Habitação na Avenida de Montevideu


No ano de 1936, Alberto da Silva Marinho, então proprietário de um terreno junto ao Mar, em Nevogilde, e residente na Rua de Santa Catarina, desejou construir duas casas de habitação num único edifício nesse mesmo terreno. As obras deste projecto tiveram início em 1937 e foram acompanhadas pelo engenheiro Amândio Duarte Pinto. 

Existiu uma alteração do projecto original no andamento das obras, em 1938, mas no geral seguiu-se a orientação pré-definida da arquitectura desta moradia que apresenta dois espaços distintos de habitação. É um edifício que segue as linhas da Art Deco e não deixa de apresentar uma certa imponência, virado para o mar, com duas entradas junto à Avenida de Montevideu.


O mesmo edifício de habitação tem estado vazio de residentes durante bastante tempo e sabe-se que foi motivo de um litígio, quando as suas plantas foram requeridas em 1990 e novamente em 1998. Permanece abandonado e actualmente está para venda, assim, como a moradia vizinha, construída numa década posterior.

11/03/2014

Casa Neomanuelina da Foz


A Casa Neomanuelina, também conhecida por Casa do Relógio (por ter um relógio de sol incorporado) nunca deixou de atrair a curiosidade e o fascínio dos muitos visitantes que passam pela zona da Foz, na Avenida Brasil.

Fascinante e emblemática, é única na cidade do Porto. O projecto da casa terá sido desenvolvido por volta de 1907 e a sua construção prolongou-se até 1910, segundo vontade do capitão republicano Artur Jorge Guimarães e da sua mulher Beatriz. O desenho da casa é atribuído ao arquitecto José Teixeira Lopes − irmão do famoso escultor António Teixeira Lopes − igualmente responsável pelo projecto da sede do Banco de Portugal no Porto (em colaboração com Ventura Terra) e da casa do irmão (actual Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia).

Nesta casa, o revivalismo do Manuelino funde-se com os preceitos de uma bela moradia de quatro andares com um torreão central, quase palaciana, própria dos inícios do século XX. Realça-se a sua riqueza escultórica, de arcos e colunas, janelas emolduradas, a par dos magníficos azulejos com motivos dos Descobrimentos. Nos seus pormenores decorativos podemos contemplar cordames e as cruzes da Ordem de Cristo, além do relógio de sol que lhe deu o nome.


A questão é: Como pode uma casa tão emblemática permanecer neste estado, votada ao abandono? Aparentemente, a viúva do capitão Artur Jorge Guimarães deixou a moradia após o falecimento do marido, tendo-a deixado para os seus herdeiros, mas terá sido ilegalmente ocupada por um sapateiro durante os anos 70 do século XX, que dela fez a sua casa e local de trabalho. O sapateiro terá negligenciado a casa e entrou em litígio com os herdeiros da casa, processo que se arrastou nos tribunais durante anos e que nunca se acabou por resolver.

O sapateiro acabou por sair da casa, mas desde então, esta permaneceu abandonada. O seu interior acabou por servir os interesses de vândalos que não o pouparam. Para maior constrangimento da situação, as nossas últimas informações dão conta que a casa chegou a estar na lista para classificação de património, mas foi retirada pelo IGESPAR em 2008, por motivos que nos são alheios. Dificilmente ficaremos alheios à tristeza que causa aos que contemplam a sua impressionante fachada, virada para o mar, à espera de uma valorização mais adequada.

27/02/2014

Moradia Nº498 da Rua de Pinto Bessa


Na nossa cidade não faltam moradias únicas, cada qual com as suas características próprias, cada qual representando um pedaço valioso de história. No seu conjunto representam uma variedade enorme de estilos, muitos dos quais representativos dos últimos duzentos anos da arquitectura portuense, que contou com mestres criativos e especializados ao nível dos melhores desenhadores e arquitectos da Europa — facto que se torna ainda mais evidente no século XIX.

Talvez por não reconhecermos na interpretação pessoal e nacionalista dos nossos mestres artísticos a vanguarda que demasiadas vezes associamos aos grandes nomes franceses e alemães (entre outros), tendemos a esquecer e desvalorizar de forma injusta tudo aquilo que já se fez na nossa cidade no contexto das moradias e casas cujos elementos são muito representativos da Arte Nova combinada com preceitos muito característicos, muito nacionalistas e regionais.


A Moradia Nº498 na Rua de Pinto Bessa é um desses magníficos exemplos ecléticos, de elementos nacionais e influênciados pela Arte Nova. O arquitecto responsável pela moradia foi Francisco de Oliveira Ferreira, que foi aluno de José Marques da Silva. Do pouco que sabemos da história desta casa, podemos referenciar o ano de 1913 como o ano do início do projecto que deveria servir de habitação para Manoel de Miranda Castro, comendador residente em Paris. A obra foi acompanhada pelo seu sobrinho e procurador, o médico João Antunes Guimarães, que seria deputado entre 1935 e 1951. Aparentemente, alguns dos seus proprietários estiveram ligados ao Cine-Teatro Ódeon, que abriu ao público em 1929 na mesma rua da moradia, a curta distância.

Ignoramos se foi o seu estado devoluto o principal motivo pelo qual em 2005 a Câmara Municipal do Porto retirou da listagem do património a salvaguardar esta mesma casa, que se destaca em absoluto pelo seu torreão, pelos ornamentos elegantes, combinados com azulejos e pelas características varandas decoradas com trabalhos em ferro. A moradia esteve para ser demolida para dar lugar a um prédio de sete andares. Actualmente está à venda.

14/02/2014

Moradia Nº396 na Rua Carlos de Malheiro Dias


A Moradia Nº396, situada na Rua de Carlos Malheiro Dias, no Bonfim, data de 1941 (curiosamente, do mesmo ano em que faleceu Malheiro Dias, romancista, historiador, jornalista e político português). Nesse mesmo ano esta era a Rua Nova da Constituição e o proprietário da moradia era Alfonso Fernandez Cubeles, antigo morador da Avenida dos Aliados. Projectou-a o arquitecto e professor António de Brito, que apesar de não ser tão famoso como o seu irmão Júlio de Brito (responsável pelo Teatro Rivoli, pelo Café Aviz ou pela Junta de Freguesia de Cedofeita, entre muitos outros edifícios distintos), nesta casa esmerou-se. Assinou esta moradia juntamente com o engenheiro civil Alfredo Daniel.

Como moradia, é um exemplo claro das linhas mais sóbrias da Art Deco combinadas com as linhas mais rígidas do Português Suave que vingaram na arquitectura dos anos 40 do século XX (e não só). A área habitacional é considerável e não seria impróprio considerar esta moradia como um espaço de interesse público, cuja utilidade poderia servir de pequena biblioteca ou centro interpretativo da arquitectura portuense, para não colocar de parte a possibilidade de estar em estreita colaboração com a Escola Superior de Belas Artes do Porto, homenageando assim o arquitecto António de Brito, que foi justamente professor e director desta mesma instituição. Acaba sempre por ser uma sugestão entre tantas outras. 

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