09/09/2014

Moradia na Rua de Círiaco Cardoso


Nunca tivemos a menor dúvida que uma descoberta fortuita pode levar ao reconhecimento, classificação e proteção do nosso património para júbilo dos cidadãos que se interessam por esse mesmo tema (já de si tão indignados ou incapazes de compreender o estado de desprezo a que foram votados tantos monumentos belos numa cidade tão rica em história). Felizmente, a moradia Nº31 da Rua de Círiaco Cardoso parece ser um desses casos: Apesar do seu estado de degradação e abandono, esta tornou-se notória quando foi feita a revelação em Março de 2014 de que terá sido desenhada pelo arquitecto Raul Lino (1879 - 1974), ilustre cultor da "Casa Portuguesa". 

O mérito desta descoberta recaí sobre a investigadora Carla Garrido de Oliveira, arquitecta e professora de História de Arquitectura Portuguesa na Universidade do Porto. Não pretendemos esmiuçar muito mais os detalhes ou os contornos da investigação que levou a esta fortuita descoberta (a qual, esperamos, pode levar à classificação ou exigência de preservação deste imóvel). Evidenciaremos antes que se foi identificada uma obra de Raul Lino na cidade do Porto, temos toda a legitimidade para lançar a suspeita de que muito provavelmente não é a única. 

E por isso lançamos a questão:

Podem várias das moradias mais notáveis abandonadas do Porto das primeiras décadas do século XX ter sido projectadas por arquitectos portugueses famosos cuja história foi esquecida ou nos passou despercebida até à actualidade? 




Esta moradia encontra-se à venda e é verdadeiramente única. Apesar das alterações que sofreu ao longo dos anos, não deixa de ser uma casa portadora dos elementos que facilmente atribuímos à obra de Raul Lino, que podemos descrever como "neotradicional", com paredes de pedra (granito, neste caso) caiado, vãos emoldurados, utilização de alpendres e no uso da cobertura de telha sanqueada. 

O seu proprietário original era o médico João de Almeida e a assinatura do projecto da casa foi assinada pelo arquitecto José do Santos, uma curiosa lacuna (entre muitas nos projectos e licenças de obra antigas) que nos leva a pensar na existência de outros possíveis exemplos do muito que ainda há por descobrir e no mistério das obras notáveis de autores anónimos, que podem ter sido mais famosos do que em príncipio julgamos.

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