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05/04/2016

Ruínas do Hospício de S. Francisco de Paula


Não deve existir cidadão consciente residente em Lordelo do Ouro que não continue a lamentar o estado de ruína em que se encontra este conjunto edificado do século XVIII que corresponde ao velho Hospício de S. Francisco de Paula, também conhecido por Quinta dos Frades, situado na Rua de Serralves.

Enquanto a icónica Fábrica de Lanifícios de Lordelo que se situa em frente apresenta uma melhor imagem devido à sua reabilitação recente – mesmo que venha a servir para propósitos diferentes dos originais – parece que este antigo edifício vai permanecer no mesmo estado durante muitos anos, se não vier a arruinar-se mais, já que por motivos que nos são alheios deixou de estar referenciado pelo IGESPAR e actualmente não dispõe de qualquer protecção legal.

Fundado no ano de 1780, a arquitectura do velho hospício apresenta-se como interessante, já que se trata de um casamento entre as linhas barrocas e neoclassicistas que vão marcar este período de tempo, sendo esse exemplo mais bem reconhecido na sua capela, cuja frontaria apresenta um pórtico encimado por um frontão triangular e é sobrepujada por um largo frontão interrompido marcado por elementos sinuosos. De resto, é certo que tenha vindo a sofrer alterações posteriores. Aqui estiveram instalados os frades “Mínimos” que cuidavam de outros religiosos doentes ou que necessitavam de cuidados, mas sendo de tal modo dependentes de esmolas para manter o hospício e a sua capela, foram forçados a abandonar o local por alturas da Segunda Invasão Francesa, em 1809, quando os recursos económicos e a mão-de-obra disponíveis para completar as obras do conjunto inacabado eram escassos.



Há elementos num dos edíficios contíguos do hospício que remontam a uma fase posterior de ocupação, nomeadamente durante o século XIX (gradeamentos em varas, painéis de azulejos) e caixilhos de madeira em janelas que certamente não poderiam durar tanto tempo, fazendo-nos interrogar em que circunstâncias é que o antigo hospício foi reocupado e desocupado novamente − estarão directamente relacionadas com a Fábrica de Lanifícios que ocupou parte da antiga propriedade dos frades ou com o misterioso ocupante conhecido por Gouveia, que fez do antigo hospício quinta e mesmo assim não chegou a recuperar a capela e parte da casa inacabadas? (Daí o nome «Quinta do Gouveia», pelo qual também é conhecido o conjunto de ruínas, embora um dos cidadãos locais presuma que Gouveia era o nome de um proprietário anterior à fixação dos «Mínimos»)

É incrível que ainda hoje, passados mais de duzentos anos, se verifique em vários locais do Porto e nos seus arredores as marcas devastadoras das Invasões Francesas – principalmente em antigas propriedades de campo, muitas das quais recuperadas em tempos mais recentes; mas mais incrível ainda é a falta de vontade em relação às autoridades competentes em procurar salvaguardar alguns exemplos que resistiram a esse período de tempo e clamam por maior valorização como marca indelével da nossa história e cultura.

21/03/2016

Padrão do Bom Jesus


Causa desconforto pensar que um dos mais importantes monumentos de Matosinhos encontra-se desprotegido e exposto ao vandalismo de uma forma que roça o ridículo ou a pura negligência de quem é responsável por cuidar do mesmo (não há outra forma de descrever a situação). Este conjunto edificado do século XVIII não está só relacionado com uma das lendas mais significativas do concelho como é emblemático e se encontra classificado.

Qual é o motivo então para que à mínima aproximação alguém se pasme pelos danos presentes na azulejaria que reveste a cruz de pedra do altar, pela degradação das esculturas de santos a necessitar de um sério restauro, para que o tecto da abóboda do grande alpendre de granito que o envolve revele escoriações gravosas com sinais de infiltrações de água e que os frontões da fonte que faz parte do conjunto se encontrem quebrados? Não é só um caso de falta de manutenção ou de exposição aos elementos – a altura baixa do gradeamento que o rodeia e a ausência de vigilância adequada é um completo convite ao vandalismo.

Não deve ser difícil zelar pelo Padrão do Bom Jesus e restaurá-lo na mesma medida em que se poderia efectuar a recolha de esmolas de fiéis para começar a fazê-lo, mas essa “solução” monetária serve apenas de sugestão. Se estamos a falar de um dos monumentos mais emblemáticos de Matosinhos, que por acaso nem ocupa uma ampla área, apesar de ser uma joia da arquitectura barroca que merece um dado destaque e importância na organização do espaço, estimá-lo deveria ser uma prioridade.

15/02/2016

Ruínas de Casa Barroca na Rua de Miragaia

Apesar do que pode ser identificado como um conjunto de ruínas encontra-se à venda há alguns anos como qualquer imóvel. Do que foi uma casa habitada durante boa parte do século XX é actualmente uma edificação parcial que envolverá obras profundas de reconstrução, paciência e muita boa vontade por um proprietário disposto a investir num imóvel com claro valor patrimonial na Rua de Miragaia para lhe restituir a sua aparência e utilidade originais.

Não sabemos quem foi o arquitecto responsável por erguer esta casa ou quem foram os proprietários que lhe deram a sua configuração actual. Pode ter sido reerguida ou remodelada no lugar de alguma habitação ainda mais antiga do período medieval ou renascentista. Mas até ao momento também são desconhecidas as pesquisas arqueológicas na área que nos elucidem mais sobre as suas fundações. Até é possível que sob estas ruínas também se encontrem vestígios de uma villa ou até de uma fábrica de produção de garum do período romano – quem sabe? Séculos de vestígios de diferentes épocas podem estar soterrados sob camada sob camada desta casa secular.

Curiosidades e especulações à parte, o que mais se torna distinta nesta casa é a sua fachada ornamentada com elementos barrocos que datam muito possivelmente do século XVII (se não serão já do século XVIII). Os frontões triangulares interrompidos sobre os três pórticos do piso do rés-do-chão, desgastados, são indicadores desse período. Uma vez que não encontramos nenhum brasão nesta casa, mas reconhecemos em vários detalhes uma certa erudição por parte do arquitecto que nela trabalhou (as molduras das janelas relembram-nos os tratados de arquitectura de Andrea Pozzo) e, face à área que ocupa, suspeitamos que tenha pertencido originalmente a uma rica família burguesa de Miragaia.




É certo que esta casa agora em ruínas passou de mãos por várias vezes e as intervenções de períodos posteriores são visíveis (como os gradeamentos simples das varandas e não só). Mas a sua fachada ainda resiste e confere-lhe uma dada notabilidade. 

09/02/2016

Casa Nobre do Cais Novo


Aquele que é um dos palácios do século XVIII mais notáveis do Porto e pertença de uma das famílias nobres mais ricas e ilustres na região durante este período de tempo é pouco mencionado ou referido pelo poder local ou pela instituição que explora aquele que é conhecido como o edifício dos Armazéns do Cais Novo – Museu do Vinho do Porto. O que não parece ser por acaso, dado o estado de degradação da Casa do Cais Novo (da qual até existe uma escassez notável de fotografias nos meios de divulgação públicas!), apenas alimenta a confusão entre aqueles que a relacionam com a antiga Fábrica de Louças de Massarelos ou até com uma casa de hóspedes e pertença do arruinado Convento de Madre Deus de Monchique.

Um olhar mais atento à Casa do Cais Novo comprova que na realidade se trata de um verdadeiro palácio senhorial e assim indica a presença do brasão dos Pinto e Cunha na fachada virada para o rio Douro, família ligada à produção do Vinho do Porto e estreitamente relacionada com a Companhia Geral da Agricultura e Vinhos do Alto Douro instituída em 1755 pelo então primeiro-ministro do reino Marquês de Pombal. Foi devido ao fluxo de negócios que a família projectou a construção dos seus armazéns para o desembarque de vinho que mais tarde, em 1822, chegou a servir de alfândega, ficando conhecida por Alfândega de Massarelos. Mas este amplo edifício que é agora um dos mais significativos museus da região tem como vizinha a casa nobre cujo estado de abandono deixa tão pasmados os turistas quanto o seu valor patrimonial, uma vez que é possível reconhecer alguns ornamentos barrocos que contrastam com a sua sobriedade geral. Não nos é possível saber quem foi o seu arquitecto, mas se tivéssemos de adivinhar ou especular teriamos de inclinar-nos para uma possível obra de José Figueiredo Seixas, responsável por um trabalho que seguiu as linhas do barroco e do rococó (rocaille) até acompanhar a arquitectura mais sóbria do período Pombalino.




Junto à Casa do Cais Novo ainda subsistem as ruínas de uma antiga fábrica de encerados da primeira metade do século XX que terá sacrificado parte da casa. Mais tarde acabou também abandonada e devoluta, até se ter deflagrado um incêndio no seu interior que obrigou à demolição de uma parte do edifício no ano de 2010. Chegou ainda a ser utilizado por ocupas, mas acabaram expulsos pelas autoridades nesse mesmo ano. A casa senhorial, além da sua localização privilegiada, juntamente com as ruínas da fábrica de encerados, apresenta a nível de espaço e de interesse turístico todas as condições reunidas para ser reabilitada e transformada num hotel. E essa intenção parecia ter surgido há alguns anos atrás, tal é a sua relação com o Museu do Vinho do Porto, mas que infelizmente não se veio (até ao momento) a concretizar. 

Nº40 Rua da Bandeirinha


Entre os vários edíficios que nos cativa a curiosidade na estreita Rua da Bandeirinha encontra-se ocorrespondente ao Nº40. Na verdade trata-se de uma casa (burguesa?) com resquícios da arquitectura setecentista muito provavelmente contemporâneo do Palácio da Bandeirinha (ou das Sereias) do qual se vê o portão lavrado principal do mesmo local onde é possível analisar a fachada deste edifício peculiar.

É com pesar que anunciamos não saber a sua história, pelo que desconhecemos o nome dos seus primeiros proprietários, do seu arquitecto ou das alterações que foi sofrendo com o passar do tempo (porque foi sofrendo alterações, sem dúvida). Os principais indicadores da sua antiguidade são os elementos barrocos que se encontram em cada um dos flancos da sua fachada, nomeadamente as janelas emolduradas encimadas por remates sinuosos que sustentam fogaréus, relembrando-nos a decoração escultórica que é possível reconhecer no Nº14 do Passeio das Virtudes (da actual Cooperativa Árvore) e na Casa dos Pinto de Meireles (serão obras do mesmo arquitecto?).

Infelizmente, é mais uma que, além de ter uma história misteriosa, encontra-se abandonada, com a entrada entaipada, e já com alguns sinais visíveis de degradação…

28/01/2016

Quinta e Palacete da Ponte da Pedra


Perto da antiga estrada romana que ligava a cidade do Porto (Cale) a Braga (Bracara Augusta) situa-se uma propriedade de campo secular que se estende até à margem do rio Leça, que é atravessado justamente pela velha ponte de pedra medieval de fundação romana mais conhecida por Ponte da Pedra, que daria o nome à quinta.

Mesmo que se presuma que a propriedade de campo possa ser muito mais antiga – tal como são muitas quintas existentes nos arredores do Porto – o palacete que a caracteriza data do século XVIII e foi conhecido durante décadas pelos habitantes de Leça de Balio por Palacete Oitocentista. É certo que mereceu maior atenção durante o século XIX, pois foi ampliado e funcionou como residencial durante essa altura e tornou-se o local predilecto de Camilo Castelo Branco para passar férias no Porto, uma vez que dispunha de praia fluvial e aprazíveis jardins ideais para o repouso ou para a inspiração de um escritor tão dedicado (não é difícil imaginar que possam ter sido intervencionados pela arte decorativa de Nicolau Nasoni no século anterior).



Também se consta que neste palacete se chegou a instalar o rei D. Miguel durante a guerra que travou com o seu irmão D. Pedro IV. Mais tarde, no início do século XX, a proprietária da Quinta da Ponte da Pedra doou-a ao Estado Português por não possuir herdeiros e o local veio a servir de albergue das pessoas idosas. Essa condição de albergue continuou até à revolução de 25 de Abril de 1974, quando os idosos foram recolhidos no Lar do Monte dos Burgos e o palacete ficou disponível para acomodar famílias retornadas das ex-colónias.

Infelizmente, os maus tratos verificados no palacete da Quinta da Ponte da Pedra já se sucedem desde a altura em que foram acomodadas as famílias de retornados, que não pouparam nem os seus jardins ao completo vandalismo que se estendeu até 2001, ano em que foi retirada a última família. Para piorar a situação do monumento, deflagrou um incêndio em 2005 que devastou grande parte do palacete.



Ainda hoje, apesar do conjunto de intenções da Câmara Municipal de Matosinhos para proteger a propriedade e reabilitá-la, o palacete e os edifícios adjacentes da quinta continuam devolutos, ensombrado uma área repleta de história e vital para a arqueologia e para o desenvolvimento cultural de Leça de Balio, que é o rio Leça e as áreas de proximidade do seu notável mosteiro, que se situa nas imediações.

28/08/2014

Quinta dos Salgueiros ou dos Ingleses


Esta quinta situa-se na zona das Antas e é neste momento um verdadeiro conjunto de ruínas que acolhe toxicodependentes ou sem-abrigos temporários, bem como uma extensão de matagal propício à proliferação de ratos. Sem dramas e sem críticas de maior, escapa-nos o motivo pelo qual continua votada ao mais completo desprezo. Já está em ruínas há muito (demasiado) tempo, desde a altura em que foi construído o antigo Estádio das Antas. Está mais que comprovada a sua secularidade, nas quais detectamos elementos barrocos do século XVIII. Nos tempos em que foi habitada deve ter sido uma das propriedades mais aprazíveis da cidade do Porto; desde os finais do século XX que se encontra num estado lastimável.

Já muito foi escrito e debatido sobre esta propriedade abandonada (curiosamente, nunca foi sequer mencionada na Monografia de Campanhã). Estudos, soluções e interesses para reaproveitá-la nunca faltaram aos mais interessados instruídos no assunto. O que falta mesmo é uma acção para recuperá-la e restituí-la aos seus tempos de maior esplendor.


O número 341 ainda marca a entrada principal num portão da propriedade. Continuando por essa entrada deparamo-nos com um antigo obelisco barroco derrubado que fez parte de uma fonte. Atrás dessa fonte, escondida pelo mato, fica uma escadaria que liga à casa principal, de dois pisos e rasgada por várias janelas rectangulares, na qual ainda são vísiveis as várias chaminés das diversas lareiras que possuiu a casa. Do lado esquerdo de quem entra vê-se a capela; atrás da casa segue-se um conjunto de pátios, com mais ruínas de um tanque, de um estábulo e provavelmente do que deve ter sido a casa de criados. Tudo indica que noutra época deve ter tido um conjunto de jardins elegantes, que incluiriam os famosos salgueiros que baptizaram a propriedade.


Ignoramos se esta quinta terá sofrido com os combates do Cerco do Porto entre 1832-33 ou se nela se acomodaram tropas, uma vez que bem próximo existiram dois redutos fortificados onde foram colocados a artilharia dos liberais sitiados. Sabemos é que foi recuperada e continuou a ser habitada após o conflito, até meados dos anos 50 do século XX, pelo menos. Mas não foi a guerra que a destroçou, apesar da sua aparência; foi o desprezo, o tempo e o vandalismo de quem vê num conjunto histórico algo de pouco a estimar.

Poderiamos dizer muito mais sobre esta quinta, mas será escusado, pois as imagens do triste cenário falam por si. Talvez um dia alguém ainda se lembre de nela instalar uma pousada, por estar tão bem situada e conjugar elementos do campo e da cidade. Por enquanto, vai continuar a ser avistada por quem passa na VCI como o mais intrigante monumento no conjunto de outros tantos próximos da Alameda das Antas, que desce até ao Estádio do Dragão.

26/08/2014

Palacete da Rua das Taipas


Este palacete, tal como o vizinho Palacete de Vilar de Perdizes e o Palacete dos Maias na Rua das Flores, é uma das raras habitações de famílias nobres situadas dentro da cintura de muralhas da cidade do Porto, no meio da população. Tendo em conta que a presença e fixação de nobres eram escassas ainda durante o século XVI e que tal começa a intensificar-se apenas com o domínio filipino e durante o século XVII, presume-se que algumas das casas mais distintas da cidade pertenceram sobretudo a famílias burguesas e, tendo em conta a localização deste palacete, é provável que a sua origem remonte à residência de uma dessas ricas famílias de tradição mercante que então residiam na Rua das Taipas.

Certo é que o palacete com o número 74 foi alterado durante os dois séculos seguintes, embora mantenha uma sobriedade e características formais próprias do século XVII. O brasão em pedra que embeleza a entrada principal, apesar da moldura barroca, poderá ser apenas do século XIX, época em que terão sido sacrificados provavelmente alguns elementos decorativos de períodos anteriores e se fizeram profundas alterações a nível dos telhados (e possivelmente a redução da altura do primeiro piso, ao qual poderão ter sido sacrificados frontões que encimavam os janelões rectangulares deste). O brasão é o da família Leite – comprovando a sua fixação neste edifício talvez já no século XVIII (senão antes).

Não é fácil concluir quando o palacete deixou de ser uma residência nobre ou como acabou por ser cedido a outros particulares; talvez tenha sido abandonado durante o período do Cerco do Porto (1832 – 1833). No início do século XX serviu de sede ao Clube Inglês, que se fixou posteriormente noutro palacete nobre próximo, na Rua das Virtudes. Funcionou ainda como uma drogaria que aparentemente se manteve até à segunda metade do século XX, mas já durante esse período exibia alguns danos e sinais de desprezo que se intensificaram durante as últimas décadas, que resultaram em mais um exemplar do património abandonado na cidade do Porto.

Mais que ser reabilitado, este imóvel merece uma reavaliação e um digno estudo arqueológico para que as suas origens sejam mais conclusivas e o seu lugar na história da arquitectura privada do Porto seja devidamente reconhecido.

12/02/2014

Casa dos Maias


Na Rua das Flores temos um palacete exclusivo da época da Renascença, relevante pelo simetrismo da sua fachada comprida, pelo equílibrio das suas proporções, onde vigora a regra áurea que é evidente na altura do piso ao nível do solo em relação ao segundo, rasgado por janelas de molduras simples com frontões triangulares.

Este palacete, foi erguido para servir de habitação no século XVI pelo fidalgo Martins Ferraz. Só no século XIX foi adquirida por Domingos de Oliveira Maia, motivo pelo qual ficou conhecida por Casa dos Maias, época em que terão sido colocadas as oito varandas de ferro forjado salientes na fachada sobre as sobrelojas. No entanto, foi a família Ferraz que mais alterou e desenvolveu o palacete. As formas do barroco setecentista sobressaem no primeiro piso, onde estão os brasões da mesma família. No pátio das traseiras, definido pela planta em U da casa, terá sido construída uma fonte e uma capela, ambas do século XVIII, sendo a capela atribuída a Nicolau Nasoni. 

A Casa dos Maias esteve para ser reabilitada e servir de hotel, mas esse objectivo não se concretizou... até agora.


09/02/2014

Palácio de S. João Novo


Mencionado desde sempre em livros de história de arte ou do nosso património, reconhecido por historiadores do nosso país ou estrangeiros, cativante para turistas, o Palácio de S. João Novo foi atribuído durante décadas a Nicolau Nasoni. No entanto, estudos mais recentes colocaram essa teoria de parte, tendo-se atribuído o desenho da obra ao mestre António Pereira, que foi o principal arquitecto responsável pelas obras na Sé Catedral no início do século XVIII, com uma ampla actividade na nossa cidade (nem sempre reconhecida). O palácio foi erguido em 1727 para o fidalgo Pedro Costa Lima, administrador dos estaleiros da Ribeira e apresenta uma fachada elaborada.

Tal como muitos outros palácios e importantes casas do Porto, a prestigiada família que ali residia fugiu no contexto das Invasões Francesas, sendo o Palácio de São João Novo ocupado pelos franceses em 1811. Durante o Cerco do Porto serviu de hospital às tropas liberais. Após o final da guerra, o palácio foi devolvido aos seus proprietários originais, que o alugaram à Tipografia Comercial Portuense.


Nos anos 40 do século XX, o palácio foi transformado no Museu de Etnografia e História do Douro Litoral, um dos mais significativos museus da afirmação da nossa região, estando em linha com a temática educativa seguida pelo Estado Novo. Contando com o apoio de vários patronos, este rico museu que atraiu muitas visitas de estudo levadas a cabo pelas escolas, começou a dar sinais de degradação desde o início dos anos 70. Nos anos 80, o Instituto Português do Património Cultural ficou responsável pela manutenção do palácio, sofrendo com um incêndio devastador em 1984. Não intervindo de forma significativa no palácio, o mesmo instituto permitiu que a degradação aumentasse ao ponto de colocar em causa a segurança dos visitantes. 

A responsabilidade do monumento transitou do IPPC para o IPM (Instituto Português dos Museus) no ano de 1989, que teve o apoio do DGEMN para apreender importantes obras de recuperação ao nível das coberturas e da fachada. O IPM também foi responsável por salvaguardar o espólio do Museu de Etnografia, permitindo que fosse espalhado e entregue a diversos museus antes de se realizar um competente inventário.

Em 1992, o Museu de Etnografia e História fecharia para que o seu espólio (já espalhado) nunca mais fosse visto pelo público.

Temos aqui dois casos particulares, interligados: o do nosso valioso espólio que acabou por transitar entre diferentes lugares e do palácio que até hoje não foi recuperado. Esse espólio era uma colecção muito variada de valor incalculável que reunia peças arqueológicas, milhares de objectos, equipamentos e documentos relacionados com as artes, o artesanato, os ofícios, o folclore e a história da região (arte sacra, brinquedos, livros, armas antigas, peças romanas, utensílios pré-históricos, instrumentos científicos, mapas e plantas da cidade, mobiliário, etc.). Actualmente, a localização de uma parte significativa desta rara e valiosa colecção é uma incógnita.

O histórico palácio sempre atraiu a atenção dos jornais, e com essa mesma atenção surgiram as promessas das autoridades no sentido de reabilitá-lo e reaver a instituição que acolheu durante décadas. Essas promessas não se cumpriram e nem com a Porto 2001 o Palácio de S. João Novo voltou a readquirir a sua função ou dignidade.
O Palácio de S. João Novo não é apenas património classificado ao abandono. Pode ser um dos casos mais graves de completo assassinato cultural que aos habitantes da nossa região um pedaço importante e informativo da sua história, atentando contra as normas do progresso e da civilização!

17/01/2014

Torre/Mirante Quinta do Fojo


Uma das estruturas mais invulgares edificadas em Vila Nova de Gaia é uma torre arruínada que é possível avistar da autoestrada A1/IC1 na direcção da cidade do Porto.

Situada na área de Canidelo, não muito longe da fábrica abandonada do Fojo, é justo situar os primórdios desta construção no período medieval (senão mais antigo) onde serviu de atalaia e comunicava directamente por sinais de fumo e fogo com o antigo Castelo de Gaia, já que no local onde se situa era possível avistar uma larga área da costa marítima que antecedia a foz do Douro. Apresentando características que apontam provavelmente o século XII como principal período de construção (ou de reconstrução), a torre acabaria por perder a sua utilidade com o passar dos séculos.


Ora, no início do século XVIII, os terrenos em torno da torre medieval foram adquiridos pelo general inglês William Neville, que fundou e construiu a casa da Quinta do Fojo, uma rica propriedade que se estendia por uma vasta área. A torre acabou por ser aproveitada para servir de mirante para os proprietários da quinta; foi-lhe adicionada uma escadaria exterior de pedra e diversos elementos decorativos em cantaria, enquanto o interior foi preenchido de cascalho e enormes blocos de pedra.

Actualmente, a torre faz parte de um horto. Junto da mesma situa-se um tanque da quinta secular, também abandonado, e parte da estrutura encontra-se desmoronada e as suas paredes em risco de ceder ainda mais pela força das pedras interiores e do cascalho. As plantas trepadeiras que a envolvem também não ajudam, mas sem dúvida que é uma estrutura cujo valor patrimonial merecia ser reconsiderado. 

05/01/2014

Quinta do Covelo


As ruínas da Quinta do Covelo, em Paranhos, escondem uma história riquíssima. Era conhecida por Quinta do Lindo Vale ou da Boa Vista devido à beleza da paisagem circundante. Data de 1720 a sua construção e o seu primeiro proprietário foi o capitão Pais de Andrade, fidalgo da Casa Real, que deixou extensa propriedade às suas duas filhas. Veio posteriormente a ser conhecida por Quinta do Covelo quando foi comprada por um comerciante de Amarante chamado Manuel José do Covelo, que logo tratou de a melhorar e tirar máximo partido da mesma para produzir cereais e vinho.

Quando Manuel José do Covelo faleceu, acabou sepultado na capela anexa dedicada a Santo António, que não conserva a sua cruz de pedra no alto do frontão da frontaria, nem os sinos dos dois campanários desmantelados. A propriedade foi adquirida depois por Manuel Pereira da Rocha Paranhos, que a legou aos seus descendentes e essa é a principal razão pela qual veio a ser também conhecida por Quinta de Paranhos. 


Os principais danos sofridos pela casa e capela da quinta ocorreram em 16 de Setembro de 1832, na sequência das lutas entre liberais e absolutistas durante o Cerco do Porto. Foi precisamente naquele local estratégico que esteve situada parte da artilharia dos absolutistas que, ao transformar sem pudor a quinta numa autêntica fortaleza, vigiavam os movimentos dos civis de Paranhos para impedi-los de abastecer com alimentos a cidade cercada. Ora, nesse dia funesto para a quinta, os liberais avançaram para contrariar os propósitos dos absolutistas e arrasaram a dita quinta fortificada, desalojando o inimigo e incendiando-a (apesar de se sucederem outros combates pela posse da mesma).

Após a luta entre liberais e absolutistas no século XIX, a Quinta do Covelo nunca mais recuperou dos estragos sofridos. E nem lhe valeu que um dos descendentes de Manuel Pereira da Rocha Paranhos a deixasse parte da propriedade à Câmara Municipal do Porto e outra parte da mesma ao Ministério da Saúde para servir de unidade hospitalar no tratamento da tuberculose, em 2009.

A casa principal e a capela anexa da Quinta continuam a ser um conjunto de ruínas, junto a um parque infantil. Talvez, futuramente, as crianças que ali brincam podem um dia regozijar-se de assistir no mesmo espaço as batalhas recreativas das lutas entre liberais e absolutistas durante o Cerco do Porto, dando a conhecer a possíveis participantes e visitantes parte da nossa mais ilustre história.

01/01/2014

Quinta de Vila Meã


A Quinta de Vila Meã, ou da Mitra, situa-se na freguesia de Campanhã, é de origem remota e já no século XV estava na posse da nobre família dos Vieiras.

Vários registos escritos atestam que a propriedade pertenceu à família dos Vieiras durante muito tempo, até à sua união com a família Araújo. Em 1866, a propriedade foi vendida ao comendador José Joaquim Pereira de Lima. Nos anos 20 do século XX os herdeiros do comendador venderam-na à família Mitra, razão porque hoje em dia é mais conhecida por Quinta da Mitra.


Actualmente a parte edificada apresenta todas as características de uma rica propriedade do século XVIII, onde as linhas do Barroco serpenteiam nos pormenores decorativos da capela da casa. A extensão original dos seus terrenos cobria uma vasta área que hoje é ocupada por estradas e habitações – só para se fazer uma ideia, a propriedade estava compreendida entre a zona da Corujeira e o Monte Escoural, onde se situa a Quinta de Bonjóia.

É o Movimento Terra Solta, com a total colaboração da Junta de Freguesia de Campanhã, que hoje ocupa esta quinta e faz os possíveis para reabilitar e reconverter o espaço para transformá-la na Quinta Pedagógica da Mitra, explorando-a como local de cultivo biológico, respeitando os preceitos de maior coerência e sustentabilidade da agricultura urbana.

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