08/04/2014

Edifício da Ourivesaria do Bolhão


Não pensamos em dar-lhe outra designação senão o edifício da «Ourivesaria do Bolhão», como foi tão conhecida durante décadas aquela esquina com o seu magnífico relógio de metal, de vitrines viradas para a Rua Formosa e a Rua Sá da Bandeira.

O edifício em questão começou a ser construído em 1916, por vontade do proprietário António da Cunha Tamegão e a sua arquitectura caracteriza-se por aquilo tantas vezes definido na cidade do Porto de Arte Nova Tardia, principalmente a nível das varandas e outros gradeamentos em ferro e dos azulejos com elementos vegetalistas, mas com características que ainda reconhecemos em edifícações mais antigas e com alguns mais modernos, ao qual não nos parece injusto designar o imóvel como portador de um eclectismo mais sóbrio. 

Originalmente, o edifício tinha uma planta triangular, mas sofreu várias alterações, com o passar dos anos, sendo os mais marcantes a partir dos anos 20. O primeiro proprietário já havia exigido o levantamento de mais um andar, e Maria Estela de Azevedo P. Spratley, proprietária nos anos 20, também foi responsável por acrescentar mais. O que mais marcou este edifício foi a fundação da primeira ourivesaria - a Ourivesaria Jaime Gomes da Costa e Filhos -que já desde essa mesma altura se instala numa das áreas do edifício que mais tarde dará origem à Ourivesaria do Bolhão.


Foi assim que o conhecemos e talvez seja assim pelo qual os cidadãos do Porto ainda se lembrarão deste imóvel. Este era o local da Ourivesaria do Bolhão. Também acomodou nos pisos superiores a famosa "Casa Forte", um dos locais de comércio mais distintos da cidade, octogenária, onde se vendiam os mais diversos artigos relacionados com vestuário, calçado e material desportivo, que fechou abruptamente em 2004. Os sinais de abandono do prédio eram visíveis em contraste com a ourivesaria resistente. As entradas das montras (e outras) emparedadas representam um sinal de tristeza na Rua Sá da Bandeira - juntamente com outros edifícios vizinhos. Mas a derradeira tristeza para os que muito lamentam os sinais de desertificação no centro histórico do Porto foi quando no final de 2013 se fechou a dita ourivesaria.

Há um relato rude e crítico da forma como foi anunciado o fecho da Ourivesaria do Bolhão: comerciantes e transeuntes assistiram impávidos ao grosseiro derrube do antigo relógio que ficava na esquina; preferiram derrubá-lo e destruí-lo à martelada, na rua, como se não fosse um pequeno pedaço de história elaborado mas um antes um artefacto incómodo e sem valor pronto a ir para o lixo, como acabam muitos bens aos quais nem sempre reconhecemos como elementos dignos de ser preservados...

Os últimos dados que tinhamos davam conta que o edíficio pertencia à Invesprédio, do grupo Bragaparques, que pretendia reabilitá-lo para acomodar lojas de luxo. Até hoje continua a ser mais um edíficio histórico vazio e desprezado, à espera de melhores dias.



03/04/2014

Parque de Estacionamento Silo-Auto


O grande parque de estacionamento situado na Rua Guedes de Azevedo, mais conhecido por Silo-Auto, tem como nome oficial Parque de Estacionamento Sá da Bandeira (ou das Carvalheiras). Na verdade, o nome pelo qual hoje os portuenses o designam provém do grupo Silo-Auto – Companhia dos Parques de Estacionamento S.A.P.L. que mais tarde tomou posse deste parque.

As opiniões dos cidadãos sobre este edifício que foi uma obra de modernização no centro do Porto dividem-se: há quem o designe como o “mamarracho” que ensombra a Rua do Bolhão e roubou um espaço verde à cidade, tornando-a ainda mais cinzenta como produto da especulação imobiliária que decorreu durante os anos 60 de século XX e se previa que fossem necessários mais locais de estacionamento no Porto; há quem o designe de uma obra bonita, moderna e com um bom impacto no sentido funcional, algo neutro na paisagem urbana. Mas no geral os portuenses consideram-no subaproveitado e menos atraente para o estacionamento automóvel do que seria (ou do que supostamente deveria ter sido) há décadas atrás.


Projectado pela Urbal – Urbanizadora Lda. em 1961, e construído durante os anos seguintes, o edifício pode ser descrito como uma estrutura de betão armado cilíndrica de sete pavimentos destinados ao aparcamento, dispondo ainda de estação de serviços, para o qual era ainda originalmente previsto um restaurante no 10º piso e uma pista de gelo para hóquei no 9º piso. Os pilares, as paredes, as vigas e lajes formariam um conjunto de grande pureza formal próprio da sua modernidade. E deveria ser ainda rematado por uma cúpula metálica.

Este projecto ambicioso contou com os arquitectos Alberto Pessoa e Joel Abel Manta, para além das assinaturas dos engenheiros Eduardo Henrique C. Carvalho, Joaquim da Silva Carvalho e Carlos A. Alvim de Castro, que testemunharam e protagonizaram sucessivas alterações no decorrer das obras ao longo da década. O complexo, que continuou em construção em meados dos anos 70, não chegou a ter a sua pista de gelo para hóquei, como se intencionava. E a dada altura, no espaço interior do que deveria ser a pista de gelo, chegou-se a imaginar um espaço a descoberto, com um jardim. Acrescentar-se-ia a isso um amplo espaço de comércio, com um snack-bar adicionado ao restaurante, com pistas de bowling, e ainda mais outro bar.


Actualmente o parque de estacionamento apresenta uma alta cúpula moldada em alumínio revestida em fibrocimento que em nada ajuda a embelezar o seu remate (sendo composto por amianto, também não é um bom elemento para a saúde pública). O tom cinzento do betão, os preços pouco apelativos, o restaurante abandonado (coberto de feias placas verdes de metal) e os sinais de desgaste levam a crer que necessita de uma reabilitação ou de uma intervenção para que se torne algo de mais emblemático e seja convidativo aos automobilistas que pretendam estacionar no centro da cidade.

Sugeríamos que a cobertura de fibrocimento fosse retirada de imediato e o espaço de restauração reaproveitado (talvez pudesse mesmo funcionar como bar ou discoteca, ao qual se poderiam juntar outros mais). A melhor das coberturas poderia passar por ser um tecto verde, mais ecológica, similar à solução encontrada na Estação da Trindade ou até mesmo na renovada Praça de Lisboa. Mas a ideia de isenção de cobertura, ainda assim dispondo de jardim, também não era má para os que desejassem usufruir de esplanadas que permitissem visualizar parte da cidade do Porto do seu topo.


Quanto à feia cor do betão, soluções não faltam, mas passam mesmo por uma vontade de reabilitar esta estrutura no sentido de deixar de parecer o «monstro cinzento» que deprime a paisagem urbana. São cada vez mais os cidadãos que desejam viver numa cidade menos sombria ou cinzenta.


01/04/2014

Edifício de Habitação na Avenida de Montevideu


No ano de 1936, Alberto da Silva Marinho, então proprietário de um terreno junto ao Mar, em Nevogilde, e residente na Rua de Santa Catarina, desejou construir duas casas de habitação num único edifício nesse mesmo terreno. As obras deste projecto tiveram início em 1937 e foram acompanhadas pelo engenheiro Amândio Duarte Pinto. 

Existiu uma alteração do projecto original no andamento das obras, em 1938, mas no geral seguiu-se a orientação pré-definida da arquitectura desta moradia que apresenta dois espaços distintos de habitação. É um edifício que segue as linhas da Art Deco e não deixa de apresentar uma certa imponência, virado para o mar, com duas entradas junto à Avenida de Montevideu.


O mesmo edifício de habitação tem estado vazio de residentes durante bastante tempo e sabe-se que foi motivo de um litígio, quando as suas plantas foram requeridas em 1990 e novamente em 1998. Permanece abandonado e actualmente está para venda, assim, como a moradia vizinha, construída numa década posterior.

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