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29/04/2016

As Ruínas do Complexo Mineiro de S. Pedro da Cova



S. Pedro da Cova é, tal como muitos outras freguesias e territórios da Área Metropolitana do Porto, um completo diamante em bruto no qual ainda há muito a trabalhar para que futuramente se torne muito mais atractivo. Com uma actividade industrial visível, a cultura local é indissociável das velhas minas de antracite (carvão) que funcionaram desde os finais do século XVIII até aos anos 70 do século XX e das serras verdes que as separam de Valongo; tirando proveito destas duas características importantes, já se deram os primeiros passos para uma valorização substancial da freguesia com a criação do Museu Mineiro e o começo da constituição de um importante parque natural que, sendo bem gerido e devidamente reflorestado com espécies autóctones (não com a manutenção da praga de eucaliptos) prometerá causar um impacto ambiental muito positivo para o território, sem esquecer o potencial dos campos e das áreas de cultivo locais, já que S. Pedro da Cova ainda está marcado por uma ampla ruralidade.

No entanto, no muito que ainda há por fazer, admira que não sejam previstas tomadas de melhores atitudes em relação às ruínas e o conjunto de edifícios devolutos que ainda permanecem num território onde outrora laboraram activamente milhares de homens (e mulheres!) em condições extremamente duras. O desolado complexo, parcialmente ocupado por mato, está nos dias, de hoje tão silencioso quanto perigoso – quem se aventura pelo local corre sérios riscos, seja por causa do terreno incerto, seja por causa das estruturas e restos de edifícios que podem desabar a qualquer momento (nem sequer existe uma vedação ou avisos de PERIGO, impedindo crianças ou os mais incautos de ali se aproximarem).


Entre as ruínas, o que mais salta à vista é o Cavalete do Poço de S. Vicente (por onde descia um elevador de acesso às minas), uma estrutura de betão armado em forma de torre dos anos 30 do século XX. A curta distância encontra-se o que resta do antigo edifício da Lavaria (onde se procedia à lavagem do carvão), que de tão devastado que está corre a qualquer momento o risco de cair. Bem próximos localizavam-se também a Casa das Máquinas e outros edifícios de apoio, que serviam para armazenagem de vários bens, incluindo ferramentas e as famosas “zorras” que serviam para transporte de matéria-prima. O complexo incluía ainda uma cooperativa, a casa da direcção, farmácia, escola, capela, balneários, casas de lavoura e residência para trabalhadores. Outrora existia o Cabo Eléctrico que fazia a ligação por via aérea entre as minas e os depósitos na cidade do Porto, que foi desmantelado nos anos 70, após o encerramento do local, que permanece abandonado desde então.




Os antigos mineiros e grande maioria de outros colaboradores que trabalharam diariamente no complexo não são boas devido às condições desumanas a que estiveram sujeitas, mas a ideia de que todo este património permaneça abandonado, por piores que sejam as suas memórias, também lhes causa um amplo desagrado, apesar da existência do Museu Mineiro que ocupou a antiga Casa da Malta, a residência para trabalhadores oriundos de outras zonas do país. Para bem e para mal, as minas fazem parte da sua história… e da história do seu território.

26/04/2016

(A Recuperação da) Fortaleza de S. João Baptista



A Fortaleza de S. João Baptista, na Foz do Douro, é um dos monumentos defensivos mais interessantes do nosso território, não só devido à sua localização privilegiada e à área compreendida, com um potencial enorme, mas devido ao seu enquadramento histórico e arquitetónico. Não sendo fácil ignorá-la, não será de admirar que a Câmara Municipal do Porto revele todo o interesse em recuperá-la (admira é que não manifeste o mesmo interesse em relação a outros monumentos de um valor patrimonial igualmente considerável, mas tendo em comparação com as últimas décadas, pelo menos evoluiu muito mais nesse sentido).

Sendo justos, na realidade o edifício que hoje vemos resulta da conjunção de dois monumentos distintos que serviram propósitos igualmente distintos: é simultaneamente religioso por enquadrar um espaço conventual beneditino com igreja (que hoje está em ruínas) e militar por englobar um conjunto de baluartes – no seu conjunto revelam parte do melhor da arquitectura portuguesa do século XVI, progressista a nível de introdução dos modelos classicistas da Renascença e progressista por ser a primeira fortaleza do território que quebrava em absoluto com os então obsoletos meios defensivos medievais para acomodar peças de artilharia. Foi a regente Dona Catarina, mãe de D. Sebastião, quem ordenou a sua construção (apesar dos protestos dos frades beneditinos aqui já estabelecidos desde o séc. XIII, vindo a perder o seu convento para a sua completa transformação e adaptação a fortaleza).

A fortaleza viria a ser sucessivamente alterada ao longo dos séculos seguintes, com melhoramentos e a inclusão de novas canhoeiras adaptadas a proteger a entrada do Douro, mas a capela-mor da igreja conventual, com a sua cúpula sextavada, sempre se manteve. No século XIX desapareceram o fosso e a ponte levadiça da fortaleza, assim como uma boa parte dos rochedos que a rodeavam, afastando-a do contacto com a foz do rio.

Actualmente, o seu estado e desaproveitamento indigna-nos. Uma igreja
renascentista em ruínas, canhões enferrujados expostos aos elementos, áreas completamente degradadas e uma manutenção básica ou muito fraca comprovam que o Estado português não sabe estimar o seu património. Sendo um local que há muito poderia ter servido de pousada ou espaço museológico (ainda não se sabe exactamente do que é feito do espólio do antigo Museu Etnográfico do Porto), se bem que não desagrada a ninguém enquanto espaço cultural aberto à literatura, música e exposições de pintura ou escultura (só precisando de maior promoção e estima), até como discoteca, a exemplo de outras fortalezas do género, serviria um melhor propósito do que algo votado à ruína.

O novo protocolo assinado entre a Câmara Municipal do Porto e o Ministério da Defesa pelo menos esclarece-nos de que realmente é possível diferentes identidades trabalharem em conjunto para reabilitar e cuidar de um monumento (ao contrário de muitas antigas desculpas que atiravam responsabilidades para cima de uns ou de outros para não se fazer absolutamente nada). Mesmo cientes de que não há dinheiro ou recursos para tudo, esperemos mesmo assim que este exemplo seja o quanto antes replicado em casos tão ou mais flagrantes… 

05/04/2016

Ruínas do Hospício de S. Francisco de Paula


Não deve existir cidadão consciente residente em Lordelo do Ouro que não continue a lamentar o estado de ruína em que se encontra este conjunto edificado do século XVIII que corresponde ao velho Hospício de S. Francisco de Paula, também conhecido por Quinta dos Frades, situado na Rua de Serralves.

Enquanto a icónica Fábrica de Lanifícios de Lordelo que se situa em frente apresenta uma melhor imagem devido à sua reabilitação recente – mesmo que venha a servir para propósitos diferentes dos originais – parece que este antigo edifício vai permanecer no mesmo estado durante muitos anos, se não vier a arruinar-se mais, já que por motivos que nos são alheios deixou de estar referenciado pelo IGESPAR e actualmente não dispõe de qualquer protecção legal.

Fundado no ano de 1780, a arquitectura do velho hospício apresenta-se como interessante, já que se trata de um casamento entre as linhas barrocas e neoclassicistas que vão marcar este período de tempo, sendo esse exemplo mais bem reconhecido na sua capela, cuja frontaria apresenta um pórtico encimado por um frontão triangular e é sobrepujada por um largo frontão interrompido marcado por elementos sinuosos. De resto, é certo que tenha vindo a sofrer alterações posteriores. Aqui estiveram instalados os frades “Mínimos” que cuidavam de outros religiosos doentes ou que necessitavam de cuidados, mas sendo de tal modo dependentes de esmolas para manter o hospício e a sua capela, foram forçados a abandonar o local por alturas da Segunda Invasão Francesa, em 1809, quando os recursos económicos e a mão-de-obra disponíveis para completar as obras do conjunto inacabado eram escassos.



Há elementos num dos edíficios contíguos do hospício que remontam a uma fase posterior de ocupação, nomeadamente durante o século XIX (gradeamentos em varas, painéis de azulejos) e caixilhos de madeira em janelas que certamente não poderiam durar tanto tempo, fazendo-nos interrogar em que circunstâncias é que o antigo hospício foi reocupado e desocupado novamente − estarão directamente relacionadas com a Fábrica de Lanifícios que ocupou parte da antiga propriedade dos frades ou com o misterioso ocupante conhecido por Gouveia, que fez do antigo hospício quinta e mesmo assim não chegou a recuperar a capela e parte da casa inacabadas? (Daí o nome «Quinta do Gouveia», pelo qual também é conhecido o conjunto de ruínas, embora um dos cidadãos locais presuma que Gouveia era o nome de um proprietário anterior à fixação dos «Mínimos»)

É incrível que ainda hoje, passados mais de duzentos anos, se verifique em vários locais do Porto e nos seus arredores as marcas devastadoras das Invasões Francesas – principalmente em antigas propriedades de campo, muitas das quais recuperadas em tempos mais recentes; mas mais incrível ainda é a falta de vontade em relação às autoridades competentes em procurar salvaguardar alguns exemplos que resistiram a esse período de tempo e clamam por maior valorização como marca indelével da nossa história e cultura.

01/03/2016

Central Termo-Eléctrica do Freixo



O local ocupado pelas ruínas da Central Termo-Eléctrica do Freixo esteve durante muitos anos na posse do Estado (a bem dizer, da REN/EDP) que, mesmo perante o seu desmantelamento e consequente desaproveitamento, teve sempre reticências em vendê-lo a privados, apesar do antigo interesse da antiga Mota & Companhia (actual Mota Engil) em adquiri-lo e do potencial notável que apresenta tendo em conta a vista privilegiada que detém sobre um dos mais assinaláveis meandros do rio Douro.

A origem desta Central Termo-Eléctrica abandonada data do início do século XX, mais precisamente do ano de 1919, quando a empresa espanhola Electra del Lima ergue a sua sub-estação nesta colina de Campanhã próximo à Rua do Freixo, no lugar de Rego-Lameiro. O primeiro edifício da subestação receptora e transformadora erguido pela empresa espanhola seria diminuto em relação ao complexo que se desenvolveria durante os anos seguintes em cooperação com a UEP (União Eléctrica Portuguesa, que estaria na origem da EDP), mas em 1922 já poderia ser reconhecido como um dos introdutores da linguagem Art Deco a par da Casa de Serralves (1925) que viria a definir a arquitectura das ampliações que se seguiriam (alguns reconhecerão, sem dúvida, também uma disposição ecléctica, se bem que estilizada, em combinação da Art Deco com elementos da arquitectura medieval).

Mais tarde, a partir de 1926, perante a vontade da UEP em erguer uma central térmica, foram erguidas a Casa das Caldeiras e a Casa das Máquinas, concluídas durante a primeira metade dos anos 30, acompanhando desse modo a expansão de distribuição de electricidade, em linha com o aumento de produção e da demanda de energia das indústrias têxteis, vidraceiras, cerâmicas e fundições (entre outras), não tendo sofrido muito com a crise que se iniciou em 1929. O complexo ampliado, que ostentava orgulhosamente o logotipo da União Eléctrica Portuguesa, também dispôs de uma Oficina de Montagem e Manutenção de Transformadores e do Edifício das Bombas (embora já existisse uma primitiva casa das bombas da Electra del Lima que aproveitava as águas do rio Douro). Hoje em dia só restam as ruínas da Casa das Máquinas e o Edifício das Bombas (junto à marginal), em linha com a arquitectura que definiu o diferente conjunto de blocos construtivos, segundo o harmonioso projecto de 1927 do engenheiro José Bernardo Corte Real.

O complexo foi actualizando-se ao longo das décadas que caracterizaram o Estado Novo, sobretudo a nível social, com a inclusão de um refeitório e de uma cozinha para os seus funcionários e de dispor de serviços médicos e apoios a partir dos anos 50, mas o seu mais significativo projecto de modernização deu-se a partir do início dos anos 70, com a introdução de novos equipamentos e de uma série de avanços tecnológicos, do qual resta também um edifício acrescentado durante essa época, já distinto devido à sua linguagem modernista. Convém ainda frisar que a primitiva central térmica já se encontrava desactivada desde os anos 60, mas os restantes edifícios ainda se encontravam em funcionamento e o complexo obteve algumas ampliações mesmo durante esta década, o que não impediu a demolição polémica da parte norte da fábrica aquando da sua modernização durante o ano de 1972 (o que é de lamentar), marcando o início do fim desta estação. 

No decorrer da Revolução de Abril de 1974, as principais empresas de electricidade foram nacionalizadas e incorporadas na EDP. Esta estação não sobreviveria durante muito mais tempo e viria a perder importância e a encerrar definitivamente a sua actividade. O que realmente lamentamos é que passados tantos anos ainda se encontre no mesmo estado, mesmo com a recente inclusão na ARU de Campanhã por iniciativa da Câmara Municipal do Porto, sem que entretanto se tenha dado maior valor ao património que representa e como poderia servir outros propósitos, passando pela área do comércio, de hotelaria ou até mesmo da habitação.

15/02/2016

Ruínas de Casa Barroca na Rua de Miragaia

Apesar do que pode ser identificado como um conjunto de ruínas encontra-se à venda há alguns anos como qualquer imóvel. Do que foi uma casa habitada durante boa parte do século XX é actualmente uma edificação parcial que envolverá obras profundas de reconstrução, paciência e muita boa vontade por um proprietário disposto a investir num imóvel com claro valor patrimonial na Rua de Miragaia para lhe restituir a sua aparência e utilidade originais.

Não sabemos quem foi o arquitecto responsável por erguer esta casa ou quem foram os proprietários que lhe deram a sua configuração actual. Pode ter sido reerguida ou remodelada no lugar de alguma habitação ainda mais antiga do período medieval ou renascentista. Mas até ao momento também são desconhecidas as pesquisas arqueológicas na área que nos elucidem mais sobre as suas fundações. Até é possível que sob estas ruínas também se encontrem vestígios de uma villa ou até de uma fábrica de produção de garum do período romano – quem sabe? Séculos de vestígios de diferentes épocas podem estar soterrados sob camada sob camada desta casa secular.

Curiosidades e especulações à parte, o que mais se torna distinta nesta casa é a sua fachada ornamentada com elementos barrocos que datam muito possivelmente do século XVII (se não serão já do século XVIII). Os frontões triangulares interrompidos sobre os três pórticos do piso do rés-do-chão, desgastados, são indicadores desse período. Uma vez que não encontramos nenhum brasão nesta casa, mas reconhecemos em vários detalhes uma certa erudição por parte do arquitecto que nela trabalhou (as molduras das janelas relembram-nos os tratados de arquitectura de Andrea Pozzo) e, face à área que ocupa, suspeitamos que tenha pertencido originalmente a uma rica família burguesa de Miragaia.




É certo que esta casa agora em ruínas passou de mãos por várias vezes e as intervenções de períodos posteriores são visíveis (como os gradeamentos simples das varandas e não só). Mas a sua fachada ainda resiste e confere-lhe uma dada notabilidade. 

10/02/2016

Ruínas do Convento de Madre Deus de Monchique


É um tanto desolador constatar que um dos raros exemplos que ainda substituem da arquitectura Manuelina na cidade do Porto continua a não passar de um conjunto inacessível de ruínas que, apesar do seu valor patrimonial, poderia contribuir em muito para alterar a paisagem do declive onde Miragaia se encontra com Massarelos.

O Convento, eternizado através do célebre romance de Camilo Castelo Branco “Amor de Perdição”, foi erguido sobre uma antiga sinagoga posteriormente ocupada pela Casa de Monchique, que pertencera ao nobre Pêro Coutinho e que por não ter descendentes decidiu doar a sua propriedade a religiosas para ali erguerem um convento dedicado a S. Francisco, tendo para tal obtido autorização do Papa em 1535. É certo que já antes da bula com a autorização ter chegado a Portugal, já o paço de Pêro Coutinho estava a ser transformado numa casa conventual e parte do convento ficou concluída em 1538, quando se instalam as primeiras monjas. O mestre-de-obras do convento foi o célebre Diogo de Castilho (c. 1500 – 1574), que trabalhou no Mosteiro dos Jerónimos em Belém e na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra.


O então designado Convento de Madre Deus de Monchique estendia-se entre o cimo de Monchique até à margem do rio Douro assinalado por um complexo de edifícios. Possuía uma entrada monumental cuja estrutura ainda existe e é possível ver da Calçada de Monchique, mas que foi posteriormente alterada, lembrando a entrada de uma fortaleza medieval, só que com características do Manuelino, principalmente a nível de ameias e pináculos que são reconhecíveis do lado oposto das ruínas, a poente (a parte mais imponente contém um frontão triangular e um piso suplementar do séc. XIX que ocultaram os ornamentos originais). O convento foi ampliado entre os séculos XVII – XVIII, acabando por possuir os seus claustros ajardinados, cada qual com o seu chafariz. Teve ainda hortas e várias fontes. Já a capela-mor primitiva, foi profundamente alterada a partir de 1699.

Durante o século XIX o convento acabou por ser desactivado e dividido em dois lotes, vendidos em hasta pública. Uma parte foi adquirida por uma família inglesa enquanto o outro lote ficou em posse do negociante Clemente Meneres, que aproveitou para fazer um armazém de vinhos e uma fábrica de rolhas sem, contudo, ter destruído o corpo principal do edifício. Actualmente o Convento encontra-se abandonado e parcialmente arruinado. Também se previa reabilitá-lo para transformá-lo num hotel pela empresa agrícola que veio a tomar conta deste monumento, o que é provável que venha a acontecer, mas de momento encontra-se no triste estado em que o reconhecemos.


05/02/2016

Ruínas de Prédio-Fábrica na Rua da Bandeirinha



Do que resto do que outrora chegou a ser uma fábrica destinada a refinação de açúcar, torrefação de café e produção de chocolate é a sua bela fachada que dá conta de várias décadas de utilização (e provavelmente com propósitos diferentes) até cair no abandono. Não sabemos (ainda) a sua história recente; apenas de que está em ruínas «há uma dúzia de anos (?)» e que só passa despercebida por se situar na estreita e pouco frequentada Rua da Bandeirinha.

Apesar de tão pouco sabermos sobre o seu passado recente, conhecemos as suas origens. Antes de ser um prédio, com a actual configuração, foi na verdade um local ocupado por outros destinados a habitação. É preciso referenciar que esta rua tem séculos e uma ocupação muito antiga e assim o confirma a antiguidade de alguns edifícios presentes (séc. XVII – XVIII) e a história da freguesia de Miragaia, que revela a existência de habitações de pescadores e da população judaica neste arrabalde. No entanto, o passado mais remoto que conhecemos do terreno onde se situa o prédio em questão fala-nos de uma proprietária de nome Felismina Adelaide Rodrigues Aires de
Gouveia que em 1883 constrói aqui um primeiro prédio, cujos números indicam que seria bem mais estreito do que o actual (ou do que resta dele). Posteriormente, já em 1920 outro proprietário chamado Abel de Lacerda constrói outro prédio mesmo ao lado do mais antigo (erguido por Dona Felismina). Mas passados apenas três anos, em 1923, o empreendedor Tomás Augusto Ferreira é que adquire ambos os prédios e constrói sobre ambos o edifício que ocupará parte do antigo prédio de Dona Felismina e o de Abel de Lacerda, tencionando ali construir a sua fábrica. 

Como fachada de fábrica é sugestiva. Dá ideia de ser um palacete embelezado por alguns elementos vegetalistas de influência barroca que contrastam com a restante austeridade do edifício, contrária à opção de usar os mesmos detalhes em painéis de azulejos segundo a moda da Belle Époque (anterior à deste período de transição, que vai passar a incorporar uma linguagem mais severa, sem contudo abdicar de alguns ornamentos com toques de revivalismo, e abrir caminho à Art Deco). Mas é provável que a própria fachada tenha sido idealizada numa data posterior à instalação da própria fábrica e alguns registos comprovam que Tomás Ferreira alterou o seu projecto várias vezes entre 1923 e 1924, contando com o apoio do mestre-de-obras Justino de Fontes Santos - e sempre se referindo às suas alterações posteriores como «prédio» e não como fábrica.

01/02/2016

Ruínas da Fábrica de Cerâmica do Senhor D’Além

São uma marca de um território há muito desprezado e negligenciado. As ruínas, bem visíveis do outro lado da margem do Rio Douro, fazem parte do conjunto de outras que se encontram em duas encostas paralelas: as ruínas das escarpas das Fontainhas e as da Serra do Pilar.

É triste pensar que só nos últimos anos é que ambos os municípios (Porto e Vila Nova de Gaia) decidiram valorizar estas encostas e procurar intervir no sentido de as tornar mais interessantes a nível paisagístico ou até de proteger o seu património – porque no estado em que ainda estão causam uma má imagem.

As ruínas são o que restam do que na realidade começou como um hospício do século XVIII fundado por monges carmelitas que resistiu até 1834, juntamente com a Ermida do Senhor D’Além (que foi reconstruída várias décadas mais tarde). Posteriormente é que se transformou na Fábrica de Cerâmica do Senhor D’Além, uma das muitas que operou em Vila Nova de Gaia, que funcionou até aos anos 20 do século XX. Desde então o complexo industrial permaneceu abandonado até se transformar num dos montes de ruínas mais conhecidos e notados junto ao Douro.

Mas tal como foi anunciado, já que dispõe de cais e de uma posição privilegiada, prevê-se a sua reabilitação para breve e poderá vir a ocupar um novo hotel.  

25/01/2016

Ruínas no Alto de Soutelo/Avenida da Carvalha


Desde há alguns anos que os habitantes do Alto de Soutelo, na freguesia de Fânzeres em Gondomar, lamentam o estado de declínio de uma casa em particular que sempre se destacou na Avenida da Carvalha – é comummente referida como a «antiga casa dos Capotes». Este nome chamou-nos a atenção, tanto mais que os descendentes desta família ainda são conhecidos por esta designação, tanto em Fânzeres como em Rio Tinto (já que o Alto de Soutelo ocupa a fronteira entre as duas freguesias e os “Capotes” foram donos de propriedades que ocupam esta área). Ainda hoje se debate entre os cidadãos se «Capote» é uma alcunha ou um nome próprio, embora a importância que este nome adquire para o nosso blogue diz respeito à história desta casa.

A importância da família para o local em questão corresponde precisamente ao “primeiro Capote”, comprovando-se, através de registos monográficos de Fânzeres, que se tratava da alcunha de José Martins Marques, que acabou por acompanhar os seus descendentes. José Martins Marques Capote era, por seu lado, herdeiro desta moradia que se presume ter sido erguida pelos seus pais algures entre os finais do século XIX e inícios do século XX, que já eram donos da fábrica ao lado, assinalada também por ruínas e um velho portão enferrujado, de acessórios para a indústria têxtil que já funcionava por volta de 1880. Mais tarde, em meados dos anos 30 do séc. XX, José Martins Marques instala na mesma avenida, em frente à sua casa, uma fábrica de produção de tecidos, expandindo o seu negócio, tornando-se uma das indústrias mais importantes do território.


Hoje em dia já não existe nenhuma fábrica ligada à indústria têxtil no alto da Avenida da Carvalha. A mais antiga, assinalada pelas ruínas, chegou a ocupar uma oficina automóvel durante os anos 80 que resistiu até aos primeiros anos do séc. XXI (e já nessa altura havia perdido todo o seu «brilho»). A fábrica em frente deixou de funcionar também e foi inteiramente demolida em 2004 para dar lugar a um prédio de habitação que dispõe de várias galerias comerciais. A bela moradia ainda resistiu… Ou foi resistindo, mediante o abandono (chegou-se a especular que seria motivo de litígio entre os herdeiros). Apesar do seu valor patrimonial, em termos históricos mas igualmente a nível de arquitectura e da azulejaria encontrava-se desclassificada (ainda se encontra!) e desprotegida, o que veio a facilitar o incêndio em Maio de 2013 que a destruiu e a transformasse no triste monumento que é hoje – um monumento em ruínas.


Mais recentemente, acompanhando o crescimento de mato incontrolado que agora envolve o que resta das ruínas, foram retirados (roubados?) os painéis de azulejos que eram visíveis no exterior da casa. Muito provavelmente são provenientes da antiga Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho (mas não tivemos como o comprovar). Nas áreas superiores os painéis eram bastante coloridos, de influência Arte Nova, com composições de flores. Na fachada principal, virada para a avenida, destacavam-se como elo de ligação entre as janelas da cave e do primeiro piso painéis de azulejos policromados, azuis, com a representação das margens do Douro e de barcos rabelos.

20/01/2016

As Ruínas da EFANOR


Ainda hoje se debate se o estado de abandono avançado que resultou na completa degradação de uma das mais interessantes partes do imenso complexo da EFANOR de Matosinhos e do seu magnífico motor e parte de uma turbina a vapor é um crime contra o património industrial da região. Um crime algo irónico, pois representa apenas uma pequena parte de um complexo quase inteiramente demolido para dar lugar a outros empreendimentos que não pareceu ferir as susceptibilidades dos que defendem a protecção de vestígios industriais emblemáticos ou com décadas de existência, mas que permitiu de certa maneira a “preservação” de um bem digno de apreciação.

A história da EFANOR (Empresa Fabril do Norte), bem conhecida, remonta a 1904 através da visão do empresário Delfim Pereira da Costa, que a inaugurou em 1907 para a produção de carrinhos de algodão para coser e bordar – pelo que ficou também conhecida pela Fábrica dos Carrinhos da Senhora da Hora. O seu trabalho foi posteriormente seguido pelo empreendedor Manuel Pinto de Azevedo (que está injustamente relacionado com outros imóveis degradados já descritos neste blogue – sobretudo na Rua do Bonfim), que adquire a fábrica em 1922. Representativa de uma era de importante desenvolvimento industrial do nosso país, a EFANOR chegou a ter mais de 3000 trabalhadores e foi pioneira tanto em maquinaria como no apoio social concedido aos operários, que além de um bairro com dormitórios incluía uma creche para os seus filhos e até um complexo desportivo, jamais descurando ainda a garantia de cuidados médicos e amplos refeitórios para alimentar os colaboradores.


É certo que os seus trabalhadores passaram por tempos muitos difíceis ao longo dos tempos, mas a machadada final ocorreu nos anos 90 do século XX, quando o complexo fabril encerrou de vez na transição para uma era em que a China ganhou maior protagonismo na produção têxtil e a União Europeia abriu os seus mercados para escoamento dos seus produtos com as garantias fiscais com as quais indústrias têxteis dos estados-membros como o nosso nunca (ou dificilmente) poderiam competir.

Histórias à parte, o Colégio EFANOR, que é propriedade da SONAE, ainda ocupa o edifício administrativo da antiga fábrica, mas o pequeno edifício da tintura, com a sua visível chaminé e rasgado por amplos janelões, mais não é do que uma trágica ruína que se destaca na paisagem. Aparentemente, o contrato com a Fundação de Serralves para a instalação de um pólo no local ainda não permitiu que (o que resta d)o edifício e a sua maquinaria sejam poupados à acção do tempo.




Recentemente, a Câmara Municipal de Matosinhos demonstrou todo o interesse em dar um passo em frente para auxiliar e agilizar o seu processo de reabilitação enquanto intervém na requalificação do espaço envolvente.

18/09/2014

Conjunto de Moradias Geminadas na Rua 5 de Outubro



Não é exemplo único, mas um entre os vários conjuntos de habitações com décadas de existência que se encontram vazios de proprietários e com as entradas entaipadas. Este excepcional conjunto de moradias é paradigmático do que poderia ser considerado emblemático e digno de ser classificado como Imóvel de Interesse Público na nossa cidade. Ignoramos o motivo pelo qual as moradias se encontram devolutas e sem residentes. Sabemos apenas que a Câmara Municipal do Porto não se absteve de salvaguardar uma parte valiosa dos painéis de azulejos que outrora percorreram os frisos da parte mais antiga do conjunto, azulejos esses de estilo Arte Nova e reconhecidos como provenientes da célebre Fábrica de Sacavém (um painel desses mesmos azulejos pode ser admirado no Banco de Materiais da Câmara).



Aplaudiremos sempre a iniciativa de salvaguardar tão preciosos elementos históricos como os nossos azulejos, mas permitir a completa degradação de moradias como estas é que não. Mais uma vez somos levados a crer que a vontade de desenvolver novos conceitos de habitação social não alberga casas antigas com possibilidade de integrar mas apenas e sobretudo blocos de apartamentos que formam os bairros de exclusão que estão comummente afastados do centro de uma cidade cada vez mais deserta (a reabilitação da Ilha de S. Vítor e o programa daí decorrente parece ser a única excepção à regra).

Independentemente de se tratar de um conjunto privado ou não, o poder local não deveria permitir que um conjunto de habitações que poderia ser lar de várias famílias chegasse a este deprimente estado. E reabilitá-las enobrecia esta área da Rua 5 de Outubro, já que o conjunto foi inteiramente uma obra de dedicação do seu primeiro proprietário, que pediu licença para as construir nos anos 20.


Foi em 1922 que José de Passos Mesquita pediu licença de construção das primeiras moradias geminadas (supomos que para arrendar) neste local, correspondentes aos números 527, 535, 543 e 551, rasgadas por elegantes janelas e com típicos gradeamentos que juntamente com os azulejos enalteceriam o conjunto. Será no ano a seguir que José de Passos Mesquita se dedica às obras de ampliação e modernização das mesmas, acrescento barracões e lugares de garagem nas traseiras das mesmas. Foi um projecto faseado. Em 1930 dá início à construção de mais quatro moradias geminadas, em tudo similares às primeiras, contando com um projecto assinado pelo arquitecto Inácio Pereira de Sá (provável responsável pelo projecto do primeiro conjunto de moradias dos anos 20), correspondendo aos números 559, 567, 575 e 583, que dispõem de frisos de azulejos diferentes (serão igualmente provenientes da Fábrica de Sacavém?). Só em 1933 é que estas habitações ganham lugares de garagem nas suas traseiras, facilmente acedidas através da Rua Moreira de Sá.

Desagrada-nos muito o estado devoluto e o desaproveitamento de todo o conjunto que já se perpetua há demasiados anos – faz-nos antever o pior em relação ao futuro destas moradias, como se fossem mais um pedaço de história pronto a ser devastado para dar lugar a outros empreendimentos contrários aos interesses de uma sociedade que protege e cuida do seu património.

01/09/2014

Palacete Nº75 Praça da República


O Palacete Nº75 da Praça da República que faz esquina com a Rua de Álvares Cabral foi conhecido durante muitos anos por ter albergado o Instituto Francês, que fechou em 2004. Hoje é mais um monumento vazio, que acabou devorado por um incêndio ocorrido há poucos anos. Felizmente mantém a sua fachada nobre intacta, digna de apreciação dos que são a favor da defesa do património, de curiosos ou até de turistas interessados na nossa arquitectura histórica.

Ao contrário do que muitos pensam, este não é o palacete original da Quinta de Santo Ovídio que pertenceu ao Conde de Resende e da qual fazia parte uma ampla extensão de terrenos onde hoje se encontram as casas ilustres da Rua Álvares Cabral; essa casa foi demolida por altura de abertura da rua e as suas características formais eram do século XVIII, certamente carregada de elementos barrocos. Este palacete é mais recente e foi construído provavelmente com reaproveitamentos da antiga casa da quinta aquando da altura da sua demolição entre 1895 e 1897 – embora se propague a teoria que foi a parte que sobreviveu da mesma, que era comprida, composta por várias alas de dimensão considerável. Teorias à parte, que não podemos comprovar, reconhecemos inequivocamente na sua fachada principal inúmeros elementos dos finais do século XIX, sendo certas as intervenções já do início do século XX.



Não temos como comprovar que o Conde de Resende, sogro de Eça de Queiroz, terá habitado alguns anos neste palacete, quando o mais certo é a sua compra por privados após ter sido sido rasgada a Rua de Álvares Cabral. Nos anos 20 já estava em posse de Maria Celestina Alves Machado, proprietária ainda de várias casas que arrendava na Rua de Álvares Cabral, tendo feito várias obras de remodelação no palacete. Actualmente não está habitado e encontra-se para venda.

28/08/2014

Quinta dos Salgueiros ou dos Ingleses


Esta quinta situa-se na zona das Antas e é neste momento um verdadeiro conjunto de ruínas que acolhe toxicodependentes ou sem-abrigos temporários, bem como uma extensão de matagal propício à proliferação de ratos. Sem dramas e sem críticas de maior, escapa-nos o motivo pelo qual continua votada ao mais completo desprezo. Já está em ruínas há muito (demasiado) tempo, desde a altura em que foi construído o antigo Estádio das Antas. Está mais que comprovada a sua secularidade, nas quais detectamos elementos barrocos do século XVIII. Nos tempos em que foi habitada deve ter sido uma das propriedades mais aprazíveis da cidade do Porto; desde os finais do século XX que se encontra num estado lastimável.

Já muito foi escrito e debatido sobre esta propriedade abandonada (curiosamente, nunca foi sequer mencionada na Monografia de Campanhã). Estudos, soluções e interesses para reaproveitá-la nunca faltaram aos mais interessados instruídos no assunto. O que falta mesmo é uma acção para recuperá-la e restituí-la aos seus tempos de maior esplendor.


O número 341 ainda marca a entrada principal num portão da propriedade. Continuando por essa entrada deparamo-nos com um antigo obelisco barroco derrubado que fez parte de uma fonte. Atrás dessa fonte, escondida pelo mato, fica uma escadaria que liga à casa principal, de dois pisos e rasgada por várias janelas rectangulares, na qual ainda são vísiveis as várias chaminés das diversas lareiras que possuiu a casa. Do lado esquerdo de quem entra vê-se a capela; atrás da casa segue-se um conjunto de pátios, com mais ruínas de um tanque, de um estábulo e provavelmente do que deve ter sido a casa de criados. Tudo indica que noutra época deve ter tido um conjunto de jardins elegantes, que incluiriam os famosos salgueiros que baptizaram a propriedade.


Ignoramos se esta quinta terá sofrido com os combates do Cerco do Porto entre 1832-33 ou se nela se acomodaram tropas, uma vez que bem próximo existiram dois redutos fortificados onde foram colocados a artilharia dos liberais sitiados. Sabemos é que foi recuperada e continuou a ser habitada após o conflito, até meados dos anos 50 do século XX, pelo menos. Mas não foi a guerra que a destroçou, apesar da sua aparência; foi o desprezo, o tempo e o vandalismo de quem vê num conjunto histórico algo de pouco a estimar.

Poderiamos dizer muito mais sobre esta quinta, mas será escusado, pois as imagens do triste cenário falam por si. Talvez um dia alguém ainda se lembre de nela instalar uma pousada, por estar tão bem situada e conjugar elementos do campo e da cidade. Por enquanto, vai continuar a ser avistada por quem passa na VCI como o mais intrigante monumento no conjunto de outros tantos próximos da Alameda das Antas, que desce até ao Estádio do Dragão.

27/03/2014

O Destino da Fábrica do Cobre


O destino do complexo fabril da antiga Sociedade Portuguesa do Cobre continua a ser incerto. Situada em Campanhã, junto da Circunvalação e muito próxima da cidade de Rio Tinto, permanece como um local vazio e degradado. Há fábrica abandonadas do norte a sul do país, muitas das quais são hoje em dia autênticas carcaças, testemunhas tristes e silenciosas de tempos em que o sector económico de Portugal foi dominado pelo sector industrial. A cidade do Porto não é disso excepção e o estado completamente arruinado da Fábrica do Cobre deixa-nos desolados.


Não vale a pena fingir que esta ampla carcaça fabril é tão emblemática quanto a antiga Fábrica de Cerâmica das Devesas ou quanto o antigo Matadouro Industrial de Campanhã (que certamente necessitam de ser reabilitados), ou que a sua recuperação é de todo prioritária para a nossa cidade. Também é certo que uma das melhores soluções para o reaproveitamento do complexo passa pela demolição das paredes ainda existentes (referimos isto com algumas reticências). Mas nas mãos de particulares também questionamos porque nunca se ponderou fazer uso da estrutura já existente da fábrica, reabilitando-a dentro do possível, e projectado uma função completamente diferente e ainda assim rentável.


O destino da Fábrica do Cobre tem de ser fatal, tal como a antiga Fábrica de Sabão de Lordelo do Ouro, recentemente demolida para combater o tráfico e o consumo de droga?

Uma das últimas notícias dá conta que a SONAE colocou à venda o terreno da fábrica em 2010 pelo preço de 10 milhões (anos após a rejeição da Câmara Municipal do Porto da transformação da fábrica num novo hipermercado). O objectivo determinaria que o local em questão serviria para habitação ou instalação de serviços de comércio, mas desde então nunca mais o terreno foi vendido ou se fez coisa alguma.


Deixamos a questão ao leitor: O que faria com todo este complexo arruinado se tivesse meios para investir e reaproveitá-lo? Deixe-nos a sua sugestão, por favor.

04/03/2014

Colégio Luso Internacional do Porto


Nós não percebemos o projecto de reabilitação do Colégio Luso Internacional do Porto. Aliás, ninguém parece perceber. Não se percebe se as obras avançam, ou se foram interditadas, se estão apenas interrompidas, ou se há realmente um projecto em vigor. Sabe-se apenas aquilo que já se sabia há um ano atrás, e um ano anterior a esse: as ruínas do Colégio Luso Internacional continuam a ser ruínas.

Construído no início do século XX, foi propriedade da STCP e funcionou como uma subestação de fornecimento de energia aos eléctricos da cidade. Esteve activo até 1974, ficou devoluto e foi cedido em 1986 para servir então de colégio, onde funcionou como tal durante mais de dez anos.


Quando em 2001 foram inauguradas as novas instalações do Colégio Luso Internacional, o edifício voltou a ficar sem utilidade. Foi previsto transformar-se numa discoteca e existe um projecto da mesma, do grupo K, conhecido por “Kasa da Praia”. Sempre existiram pareceres negativos ou contrários a este projecto por parte do IPPAR e o processo desenrolou-se até hoje, permitindo que o edifício chegasse ao completo estado de ruína.

No âmbito das últimas corridas de automóveis na Avenida da Boavista, em 2013, as paredes das fachadas exteriores do edifício foram pintadas. E existem todos os sinais que indicam a vontade de reabilitar o edifício desde então… Mas reabilitá-lo para se transformar no quê? Na referida discoteca? E porque as obras se arrastam de uma forma tão vagarosa? Ninguém sabe.

17/01/2014

Torre/Mirante Quinta do Fojo


Uma das estruturas mais invulgares edificadas em Vila Nova de Gaia é uma torre arruínada que é possível avistar da autoestrada A1/IC1 na direcção da cidade do Porto.

Situada na área de Canidelo, não muito longe da fábrica abandonada do Fojo, é justo situar os primórdios desta construção no período medieval (senão mais antigo) onde serviu de atalaia e comunicava directamente por sinais de fumo e fogo com o antigo Castelo de Gaia, já que no local onde se situa era possível avistar uma larga área da costa marítima que antecedia a foz do Douro. Apresentando características que apontam provavelmente o século XII como principal período de construção (ou de reconstrução), a torre acabaria por perder a sua utilidade com o passar dos séculos.


Ora, no início do século XVIII, os terrenos em torno da torre medieval foram adquiridos pelo general inglês William Neville, que fundou e construiu a casa da Quinta do Fojo, uma rica propriedade que se estendia por uma vasta área. A torre acabou por ser aproveitada para servir de mirante para os proprietários da quinta; foi-lhe adicionada uma escadaria exterior de pedra e diversos elementos decorativos em cantaria, enquanto o interior foi preenchido de cascalho e enormes blocos de pedra.

Actualmente, a torre faz parte de um horto. Junto da mesma situa-se um tanque da quinta secular, também abandonado, e parte da estrutura encontra-se desmoronada e as suas paredes em risco de ceder ainda mais pela força das pedras interiores e do cascalho. As plantas trepadeiras que a envolvem também não ajudam, mas sem dúvida que é uma estrutura cujo valor patrimonial merecia ser reconsiderado. 

05/01/2014

Quinta do Covelo


As ruínas da Quinta do Covelo, em Paranhos, escondem uma história riquíssima. Era conhecida por Quinta do Lindo Vale ou da Boa Vista devido à beleza da paisagem circundante. Data de 1720 a sua construção e o seu primeiro proprietário foi o capitão Pais de Andrade, fidalgo da Casa Real, que deixou extensa propriedade às suas duas filhas. Veio posteriormente a ser conhecida por Quinta do Covelo quando foi comprada por um comerciante de Amarante chamado Manuel José do Covelo, que logo tratou de a melhorar e tirar máximo partido da mesma para produzir cereais e vinho.

Quando Manuel José do Covelo faleceu, acabou sepultado na capela anexa dedicada a Santo António, que não conserva a sua cruz de pedra no alto do frontão da frontaria, nem os sinos dos dois campanários desmantelados. A propriedade foi adquirida depois por Manuel Pereira da Rocha Paranhos, que a legou aos seus descendentes e essa é a principal razão pela qual veio a ser também conhecida por Quinta de Paranhos. 


Os principais danos sofridos pela casa e capela da quinta ocorreram em 16 de Setembro de 1832, na sequência das lutas entre liberais e absolutistas durante o Cerco do Porto. Foi precisamente naquele local estratégico que esteve situada parte da artilharia dos absolutistas que, ao transformar sem pudor a quinta numa autêntica fortaleza, vigiavam os movimentos dos civis de Paranhos para impedi-los de abastecer com alimentos a cidade cercada. Ora, nesse dia funesto para a quinta, os liberais avançaram para contrariar os propósitos dos absolutistas e arrasaram a dita quinta fortificada, desalojando o inimigo e incendiando-a (apesar de se sucederem outros combates pela posse da mesma).

Após a luta entre liberais e absolutistas no século XIX, a Quinta do Covelo nunca mais recuperou dos estragos sofridos. E nem lhe valeu que um dos descendentes de Manuel Pereira da Rocha Paranhos a deixasse parte da propriedade à Câmara Municipal do Porto e outra parte da mesma ao Ministério da Saúde para servir de unidade hospitalar no tratamento da tuberculose, em 2009.

A casa principal e a capela anexa da Quinta continuam a ser um conjunto de ruínas, junto a um parque infantil. Talvez, futuramente, as crianças que ali brincam podem um dia regozijar-se de assistir no mesmo espaço as batalhas recreativas das lutas entre liberais e absolutistas durante o Cerco do Porto, dando a conhecer a possíveis participantes e visitantes parte da nossa mais ilustre história.

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