29/02/2016

Villa Isabel



O principal problema de investigar casas históricas em territórios fora da cidade do Porto mas que ainda assim pertencem à sua área metropolitana é a ausência de arquivos mais completos ou dados e informações tão bem documentados e conhecidos como é possível de obter numa das cidades mais importantes do país. Em Gondomar, por exemplo, não há registos e licenciamentos de obras anteriores a 1951. Prende-se a isso uma desvalorização ainda acentuada pelo património e até mesmo por casas classificadas, uma monografia desactualizada, parcas investigações de historiadores locais e até um elevado nível de desinteresse que marca uma população dividida entre o provincianismo e a indignação ou a procura de identificação com o Porto, renegando o seu local de residência como «apenas um dormitório» (infelizmente, correndo o risco de ofender vários leitores, não encontramos melhores termos para descrever a situação).

O património de Gondomar enfrenta sérios riscos na ausência de medidas adequadas de defesa ou de um reconhecimento cultural local porque de facto é difícil reconhecer uma identidade local. E se há, não se distingue certamente pela ligação da sua população com o património edificado, à excepção de alguns lugares assinalados pela presença de antigas quintas ou de algum património industrial e até religioso.

Mas referimos tudo isto apenas para assinalar o problema de uma moradia singular que se encontra precisamente no centro de Gondomar, em São Cosme, numa subida para o Monte Crasto. Trata-se da Villa Isabel, assim identificada pelos seus azulejos Art Nouveau, que foi sofrendo algumas alterações ao longo dos tempos, embora seja assinalada por uma arquitectura típica do início do século XX. A fachada principal da casa detém os significativos painéis de azulejos e é possível reconhecer uma dada influência revivalista no corpo mais alto que contém a entrada principal, que lembra um torreão, com uma porta sob a varanda inspirada nas portas dos finais do século XV.



Há aqui alguns indícios que nos levam a especular que terá sido projectada pelo mesmo arquitecto ou mestre-de-obras da moradia em ruínas no alto da Carvalha em Fânzeres, em pertença da família dos Capotes, mas essa possibilidade não nos dá as respostas pretendidas, pois em comum têm apenas alguma linguagem residual das molduras simples que serviram para incorporar os vários painéis de azulejos (que provavelmente foram produzidos na mesma fábrica, a Fábrica do Carvalhinho). Mas não há (de momento) como saber a que família pertenceu a Villa Isabel, ou quem foi o seu primeiro proprietário, pois até mesmo a vizinhança não tem respostas. Encontra-se abandonada há muito tempo e é uma sorte ainda dispor da maioria dos seus coloridos azulejos com elementos floridos. Pouco ou nada se fez para preservá-la, ainda menos para classificá-la e o interesse que capta é de poucos.

A moradia está à venda, mas o seu estado visivelmente degradado parece afastar potenciais compradores. Num território onde facilmente se adulteram ou são demolidas casas com elevado valor patrimonial, (acabando-se por se ceder a vontades de investidores imobiliários ou até mesmo a cadeias de fast-food e colégios privados) é de se temer pelo futuro desta casa, que pode não ser risonho. 

25/02/2016

Afinal, talvez não vá existir Maior Investimento para a Reabilitação Urbana

É uma notícia que está a marcar esta semana, principalmente para quem se interessa pelo assunto e já está cansado de se deparar sempre com o mesmo. Parecem não faltar promessas e vontades por parte de sucessivos governos, mas depois... surge a inércia, as estranhas desculpas, o desprezo, a ignorância.

Durante décadas Portugal teve políticas baseadas no betão - construiu-se demais, uns poucos beneficiaram e continuam a beneficiar (demais) e mais de dois terços da população nem usufruí do que se construiu (sobretudo em matéria de auto-estradas) - e o que ficou por fazer, no essencial, como os investimentos na Reabilitação Urbana ou na Requalificação de Centros Históricos (para não falar de escolas, hospitais, etc.), vai continuar a ter uma parca atenção imerecida.

O alerta recente parte da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas: Estão 35 000 empregos e 8500 empresas em risco na área da construção porque afinal de contas o mais recente Orçamento de Estado não promove nem prevê maiores investimentos na Reabilitação Urbana. Não existe um quadro fiscal estável e os constrangimentos vão-se suceder, limitando-se o investimento nesta área até mesmo pelos privados.

Esta situação parece comprovar o estado crítico em que se encontra o país: impossibilitado de andar para a frente, parece que não detém margem para fazer o necessário. E o que é o necessário? Não adiar o futuro, pois como se tem sempre comprovado, principalmente dentro desta área, é que muitos desinvestimentos do passado levaram a prejuízos no presente. Imagine-se o que é gastar dezenas de milhões para recuperar um único monumento que é Património do Estado apenas porque durante anos a fio não se executaram as manutenções mais elementares.

E quando falamos deste investimento, também pensamos na área ambiental e na sustentabilidade energética. Portugal está a perder milhões com o desperdício de recursos e não contabiliza sequer a energia do Sol para que muito do que temos não se encontre revestido por painéis solares, por exemplo (até as estações do Metro e troços das suas linhas deveriam estar cobertos por esses mesmos painéis, já para não pensar nas possibilidades desta tecnologia em escolas e hospitais ou muitos outros edíficios públicos). Também há que equacionar aqui o investimento em melhores isolamentos no património edificado ou no aproveitamento de águas da chuva para sanitários e regas, sistemas inteligentes de gastos energéticos, etc, etc, etc.

Ainda há muito fazer e muito se torna necessário investir. Se realmente o governo não olhar para o sector da construção de forma diferente e verdadeiramente conclusivo para fazer avançar o país (apostando-se onde se deve apostar, de forma sábia e equílibrada em lugar de se fazer só asneiras), a médio e longo prazo estará muito mais em risco do que dezenas de milhares de empregos e empresas.

Fonte: 


24/02/2016

Limpa-me a Fachada!



O que têm em comum distintos monumentos como a Igreja do Convento de S. Francisco (séc. XIV), o Hospital de Santo António (séc. XVIII), a Igreja da Trindade (séc. XIX) e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (séc. XIX)? À partida pouco ou nada, à excepção que alguns dos edifícios referidos são assinalados por uma arquitectura de influência neoclássica e que todos são erguidos em granito. E é precisamente sobre o estado do granito que tencionamos analisar.

Todos estes monumentos assinaláveis do Centro Histórico do Porto têm as suas fachadas em granito e representam claros problemas relacionados com filmes negros (e não só) que lhe dão uma aparência suja, castanha ou verdadeiramente negra – em última análise sombria. Parece que só falta alguém gritar «LIMPA-ME A FACHADA» ou pelo menos escrevê-lo nas paredes do mesmo que muitas vezes se fez o mesmo nos vidros dos carros cujos ou completamente cobertos de poeiras («Limpa-me, Porco»). E é evidente que não são os únicos que apresentam os mesmos casos, que podem ser reconhecidos em vários prédios antigos e até na já na antiga Alfândega; nem nos podemos esquecer que o próprio edifício dos Paços do Concelho também teve a mesma aparência durante muitos anos (vários cidadãos até ficaram surpreendidos por descobrir que a tonalidade do granito do edifício da Câmara era cinzento e não dourado/acastanhado).



Estamos então aqui diante de um problema de poluição que contamina o granito que é o material de eleição da própria cidade. Mas é também um problema de conservação ou da ausência de alguma vontade de zelo por parte das autoridades responsáveis pelo nosso património (relembrando que não estamos propriamente a apontar o dedo à Câmara Municipal, pois tratam-se de monumentos em pertença do Estado ou da Igreja Católica, que por qualquer motivo mal-esclarecido nem sequer paga IMI). São edifícios que não estão vazios nem devolutos mas que ainda assim dão uma péssima imagem à cidade. Terão de ser intervencionados mais cedo ou mais tarde (esperemos que não seja demasiado tarde) e realmente o município deveria pronunciar-se em relação a esta sujidade, que causa maiores problemas na pedra do que à partida estão à vista – no caso do Hospital de Santo António e na Igreja do Convento de S. Francisco a acidez dos filmes negros está por detrás de outros, nomeadamente no desgaste da pedra e na presença de fissuras ou infiltrações que podem incorrer em maiores danos.



É evidente que há mais de duzentos anos atrás estes problemas não eram identificados na cidade e que até mesmo composta por muitas vielas de ruas estreitas onde o Sol quase não penetrava o granito de das fachadas tinha melhor tonalidade. Não nos é difícil imaginar a Igreja do Convento de S. Francisco e o Hospital de Santo António com as suas fachadas compostas por pedra de tonalidades mais claras ou cobertas de líquenes (é que ao contrário do que muitos julgam, a presença de líquenes é uma boa indicadora da qualidade do ar). Felizmente não faltam meios para limpar o granito e devolver maior sobriedade a todos estes monumentos, mas face à inércia de quem deveria ser responsável por denunciar esta situação ou para intervir, parece que esta aparência sombria é para continuar… E o Porto não pode continuar assim.

23/02/2016

Moradia Nº119 na Rua de Cândida Sá de Albergaria



No cruzamento entre a Rua de Cândida Sá de Albergaria e a Rua de Diu, na Foz, situa-se esta velha moradia (ou o que resta dela) das últimas décadas do século XIX. Sóbria e sem grandes detalhes decorativos, adquire maior interesse pelas portas e janelões que rasgam todas as fachadas com um ritmo equilibrado, conferindo-lhe maior leveza através dos arcos de volta perfeita que os compõem.

Apesar de entaipada e sem o seu interior, as suas fachadas de granito encontram-se muito bem preservadas – um proprietário que a adquirisse teria de reconstruir de raiz o seu interior.

Esta moradia foi erguida segundo vontade de José Pinto da Silva Tapada em 1882, que nela residiu durante cerca de uma década. Era proprietário de algumas casas no Porto e, aparentemente, residente numa casa no antigo Sítio dos Guindais, que é agora a Avenida Gustavo Eiffel. Pelo seu nome, é possível que fosse um descendente da família Pinto e Silva Tapada, que foi proprietária da Quinta de São Salvador em Vila Nova de Gaia.

22/02/2016

Fábrica de Sá em Ermesinde


Um dos monumentos mais devolutos, mas notáveis, de Ermesinde é justamente mais uma das fábricas que pertenceu ao industrial Manuel Pinto de Azevedo que deixaram de funcionar e que permaneceram abandonadas até aos dias de hoje.

A Fábrica de Fiação e Tecidos de Sá é um dos complexos industriais mais antigos da cidade e foi adquirida por Manuel Pinto de Azevedo em 1928 juntamente com a Fábrica de Tecidos Aliança de Rio Tinto, tendo como seu primeiro sócio-gerente Amadeu Vilar. Contando com centenas de trabalhadores e destacando-se pela qualidade dos seus artigos, Amadeu Vilar era possuído de tamanhas preocupações sociais, pelo que fez questão de instalar uma cantina e uma padaria exclusiva para os seus operários, além de uma cooperativa de consumo, onde poderiam abastecer-se de bens de primeira necessidade.


Numa época em que o sector industrial tinha a sua maior importância para o desenvolvimento económico do país e em muitos exemplos as grandes fábricas eram um símbolo prestigiante de progresso social e tecnológico, a Fábrica de Sá ganhou um merecido destaque e uma valorização tal que as suas doze (!) companhias seguradoras tinham sede em Londres (passando posteriormente para treze, bem assinaladas durante os anos 60).

A fábrica funcionou até meados da segunda metade do século XX, entrando na época de decadência industrial que ainda hoje marca o nosso território e se destaca pela completa machada na produção têxtil (e não só). Tal como outros complexos fabris abandonados de considerada dimensão, carece de um projeto de requalificação que a aproveite, podendo servir outros propósitos que não apenas a área de serviços ou culturais, já que a antiga Fábrica da Telha foi reaproveitada com o mesmo propósito.

A Doação de Árvores – Medida tão Positiva quanto Urgente

O Projecto das 100 000 Árvores na Área Metropolitana do Porto é por si só um programa benéfico que peca apenas por tardia face às últimas décadas de negligência e má administração do território que se viu ocupado por áreas florestais desprotegidas, construções desordenadas, urbanismo grosseiro e ocupação por zonas verdes de espécies não autóctones, como o eucalipto.

A recente iniciativa doação de árvores pela Câmara Municipal do Porto e pela FUTURO de doação de árvores é ainda mais positiva e prende-se com boas razões, já que não incentiva só os cidadãos a cultivar árvores e arbustos nos seus espaços privados, mas também a recuperar parte da mancha verde perdida na cidade durante os últimos anos. Quem já viu fotos do ar da cidade, inclusive de boa parte do seu centro histórico, reconhece uma imensidão de jardins e pátios privados que na sua maioria, no início do século XX, estavam cobertos de vegetação e contribuíam para melhorar a qualidade ambiental do Porto. Muitos desses espaços foram entretanto abandonados ou perderam as suas árvores e arbustos – mas replantados podem fazer a diferença.

O Porto realmente precisa de aumentar a sua mancha verde e manter-se em linha com as iniciativas de muitas cidades europeias que estão na vanguarda de implantação de medidas de maior protecção ambiental. Contudo, ainda há muito a fazer nesse sentido e reconhece-se que ainda há um atraso, que é comum a todo o território português. Se há capital para doação de árvores e arbustos autóctones, então não pode haver desculpas para que não se cultivem mais árvores em espaços públicos (lembremo-nos de locais como a Praça dos Poveiros, a Praça da Cordoaria ou ainda a Avenida D. Afonso Henriques, entre outros exemplos).

Esta ausência de mancha verde prende-se com outras ausências, nomeadamente a parca existência de coberturas verdes em muitos edifícios adequados para essa instalação (como alguns parques de estacionamento e prédios mais recentes), o desconhecimento das potencialidades da implantação de jardins verticais que podem servir melhores propósitos que não apenas os estéticos ou do desprezo pelo projecto de uma circular verde que una os parques e algumas praças arborizadas da cidade assinalada pela presença de mais vegetação e de ciclovias preparadas para o efeito.

Os problemas na adopção e da implantação de medidas mais criativas e funcionais do uso de vegetação que realmente podem fazer a diferença na cidade ainda existem e pelos vistos ainda irão permanecer, mas não vamos negar o óbvio: esta recente iniciativa do Projecto das 100 000 Árvores na Área Metropolitana do Porto é assinalável e amplamente positiva.

19/02/2016

Conjunto de Prédios na Rua do Barão de Nova Sintra


A aparência desoladora deste conjunto edificado não esconde os anos de abandono e de vandalismo que tem sofrido sem que ninguém se preze e protegê-lo ou reabilitá-lo. O proprietário que ergueu estes prédios na segunda metade do século XIX, possivelmente esperando que a Rua do Barão de Nova Sintra se urbanizasse mais com o passar dos tempos, certamente não havia imaginado que passados cem anos se encontrassem neste estado.

Os prédios foram erguidos entre 1879 e 1880 por vontade do negociante João Leite de Faria, proprietário deste terreno, que os mandou erguer tendo em vista o seu arrendamento. João Leite Faria era igualmente proprietário de vários prédios noutras freguesias do Porto, incluindo do conjunto de prédios na Rua Formosa que se situam em frente a uma das entradas principais do Mercado do Bolhão (do 313 ao 353), juntamente com outros dois sócios. Ao contemplarmos a fachada do conjunto virada para a Rua do Barão de Nova Sintra, especulamos se outrora não esteve completamente coberta de azulejos, tal como ainda se encontra o prédio do meio, embora parte já tenha sofrido sérios danos.

É uma pena que assim se encontrem, pois o seu estado remete-nos para outros exemplos de conjuntos de prédios edificados no Bonfim e até mesmo noutras freguesias que estão abandonados e que poderiam ser intervencionados o quanto antes por um município interessado em promover novos paradigmas de habitação social, começando por não construir novos prédios nas periferias, mas antes em aproveitar uns quantos mais próximos do centro da cidade para integrar parte da população autêntica de uma cidade cujo centro alterna entre a desertificação e os interesses imobiliários privados de quem pouco ou nada se interessa em zelar pela permanência dos habitantes originais do Porto.  

17/02/2016

Moradia de José Dias Alves Pimenta


Além de tristeza que causa por ser mais uma casa com alguma relevância histórica da cidade do Porto ao abandono, também causa uma certa indignação pensar que está classificada como património e que ficou inteiramente devoluta a partir do momento em que ficou em posse do município (mais precisamente das Águas do Porto) em 1990.

José Dias Alves Pimenta mandou construir esta sua casa em 1888 num terreno com uma das melhores vistas sobre o Douro, com um panorama sobre o Freixo e junto à Rua da China, com acesso à quinta homónima, onde residiu a pintora Aurélia de Sousa. É fácil imaginar o cenário idílico em que José Dias Pimenta escolheu dispor desta habitação, pois além de dispor de uma boa paisagem, a sua residência também contava com um espaço verdejante envolvente e uma dada tranquilidade, além de não se encontrar muito afastada do centro da cidade.

Convém relembrarmos José Dias Alves Pimenta enquanto negociante culto e empreendedor e importante membro do Ateneu Comercial do Porto, chegando a ser presidente nos anos de 1881, 1884, 1892 e 1899. Enquanto republicano participou também na revolução de 31 de Janeiro e fez parte do desenvolvimento do Núcleo Republicano Regionalista do Norte no início dos anos 20 do séc. XX. Coleccionava arte, mantendo várias pinturas de Aurélia de Sousa nesta sua moradia.

A partir de 1896 a sua propriedade sofre determinadas alterações, principalmente devido à abertura do Túnel do Seminário que permitiria a ligação entre a Estação de Campanhã e de S. Bento, enquanto que a frente da sua casa passa a integrar a Rua do Barão de Nova Sintra, alargada para permitir a deslocação e o movimento dos trabalhadores que laboravam no novo túnel de comboio. José Dias Alves Pimenta morreu em 1925 e a sua casa esteve na posse da sua família durante muitos anos, antes de cair na posse do município e ser completamente votada ao abandono. 

16/02/2016

Edifício de Habitação Nºs 1182 – 1228 na Rua de Santa Catarina



O Edifício de Habitação composto por vários números que dão uma ideia de serem separados só são reconhecidos como parte de um conjunto devido a algumas semelhanças entre si e a sua ligação com a parcela que é rematada por um frontão triangular de influência neoclássica. Por outras palavras, o conjunto segue em si as linhas da arquitectura da Época dos Almadas que podemos encontrar em algumas ruas históricas do centro histórico do Porto, mas na verdade é da segunda metade do século XIX e não do século XVIII. Não é por acaso que alguns investigadores se referem a este tipo de edifícios no Porto como «Pós-Almadino» e achamos o tema mais do que adequado.

O proprietário responsável pela sua construção, efectuada a partir de 1868, foi o “brasileiro” José Pereira Loureiro, que a partir de 1870 se torna visconde de Fragosela. Na época em que encomendou o projecto da obra os lotes encontravam-se desocupados e correspondiam a um troço da antiga Rua da Princesa, no tramo final da Rua de Santa Catarina. O projecto foi entregue ao engenheiro Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa e foi acompanhado pelo arquitecto Pedro de Oliveira e pelo mestre-de-obras públicas José Luís Nogueira, que deram ao edifício uma aparência de palácio urbano – similar a outros projectos do mesmo engenheiro, fiel às linhas da arquitectura neoclássica.

O monumental edifício acabou por sofrer várias alterações nas águas furtadas a partir de 1878, destacando-se os vários acréscimos ao mesmo nível do frontão triangular central (sendo o último de 1922). Mas as adulterações piores vieram com a introdução de azulejos diversificados e em desarmonia, com uma primeira garagem em 1923 e sobretudo com a demolição de duas das suas parcelas a norte durante a segunda metade do século XX, substituídas por um prédio que o descaracterizou gravemente. Não bastava estar apenas desfigurado e quase esquecido – é um pedaço de património valioso que faz parte da História, mesmo que muitos não o saibam – também tinha de acabar parcialmente devoluto e abandonado, infelizmente.

15/02/2016

Filmes Negros no Convento de S. Francisco!

Trata-se de um caso (um que se cruza com vários) que já tem décadas. Não é preciso que um monumento esteja devoluto para dar mau aspecto – basta identificar os vários sinais de desprezo ou negligência pelo lado exterior, principalmente através dos dados de pintura, nos danos em azulejos e vários elementos históricos ou, como neste caso, através da textura e cor da sua pedra. A notável Igreja Gótica do Convento de S. Francisco, uma das mais distintas obras medievais do Porto, necessita o quanto antes de uma operação de limpeza do granito das suas fachadas e das escadarias e muros de acesso que infelizmente são um feio contraste com o vizinho Palácio da Bolsa.

Os Filmes Negros, infelizmente, são uma das principais patologias do granito nas áreas urbanas, principalmente em cidades húmidas e com mais elevados índices de poluição, como é o caso da cidade do Porto (tanto são originados pelo ar contaminado pelos escapes automóveis como pelos depósitos das chuvas que absorvem os mesmos poluentes). E se há algo que dá uma aparência verdadeiramente sombria a vários monumentos espalhados pela cidade é este mal que infelizmente é identificado como sinal de inércia ou desprezo por quem deveria zelar por um património que é de todos (Património da Humanidade, relembramos!).

Estes Filmes Negros não são apenas inestéticos. Estão também associados a processos de degradação (lentos, mas ainda assim bastante prejudiciais) da própria pedra. Em detalhe, esta presença escura – e na igreja do convento é mesmo escura – é constituída por um complexo microssistema onde são identificados vários tipos de fungos, microalgas e uma matéria mineral ácida originada por estes micro-organismos que reveste o granito e dá-lhe esta aparência suja.



O município deveria debater e destacar este problema em particular, mesmo quando falamos de um edifício que não está sob a sua tutela. Uma cidade aberta ao turismo e habitada por cidadãos que amam os seus monumentos não pode continuar a deixar passar a imagem que no Porto metade dos edifícios históricos são negligenciados ou votados a esta aparência sombria e que não há lei, iniciativas ou princípios próprios que intervenham. 

Ruínas de Casa Barroca na Rua de Miragaia

Apesar do que pode ser identificado como um conjunto de ruínas encontra-se à venda há alguns anos como qualquer imóvel. Do que foi uma casa habitada durante boa parte do século XX é actualmente uma edificação parcial que envolverá obras profundas de reconstrução, paciência e muita boa vontade por um proprietário disposto a investir num imóvel com claro valor patrimonial na Rua de Miragaia para lhe restituir a sua aparência e utilidade originais.

Não sabemos quem foi o arquitecto responsável por erguer esta casa ou quem foram os proprietários que lhe deram a sua configuração actual. Pode ter sido reerguida ou remodelada no lugar de alguma habitação ainda mais antiga do período medieval ou renascentista. Mas até ao momento também são desconhecidas as pesquisas arqueológicas na área que nos elucidem mais sobre as suas fundações. Até é possível que sob estas ruínas também se encontrem vestígios de uma villa ou até de uma fábrica de produção de garum do período romano – quem sabe? Séculos de vestígios de diferentes épocas podem estar soterrados sob camada sob camada desta casa secular.

Curiosidades e especulações à parte, o que mais se torna distinta nesta casa é a sua fachada ornamentada com elementos barrocos que datam muito possivelmente do século XVII (se não serão já do século XVIII). Os frontões triangulares interrompidos sobre os três pórticos do piso do rés-do-chão, desgastados, são indicadores desse período. Uma vez que não encontramos nenhum brasão nesta casa, mas reconhecemos em vários detalhes uma certa erudição por parte do arquitecto que nela trabalhou (as molduras das janelas relembram-nos os tratados de arquitectura de Andrea Pozzo) e, face à área que ocupa, suspeitamos que tenha pertencido originalmente a uma rica família burguesa de Miragaia.




É certo que esta casa agora em ruínas passou de mãos por várias vezes e as intervenções de períodos posteriores são visíveis (como os gradeamentos simples das varandas e não só). Mas a sua fachada ainda resiste e confere-lhe uma dada notabilidade. 

12/02/2016

Creche d’O Comércio do Porto


Estudar o património esquecido, desprezado ou simplesmente abandonado do Porto não é só revelar parte de uma história ainda a descobrir ou a ser valorizada; é simplesmente depararmos com a triste realidade de que não houve nenhum grande arquitecto ou artista na cidade que não tenha tido pelo menos uma obra sua votada ao abandono (veja-se o caso do Palácio de Freixo de Nicolau Nasoni antes de ser reabilitado no início do séc. XXI ou da Casa Manoel de Oliveira projectada por Souto Moura). E se isso é realidade para todos, não poderia ser diferente para uma das obras do arquitecto Rogério de Azevedo (1898 – 1983): a Creche d’O Comércio do Porto na Avenida Fernão de Magalhães.

Foi no ano de 1930 que o presidente da associação apresenta o projecto de construção desta creche com a intenção de receber até 430 crianças num pequeno terreno cedido pela Câmara Municipal do Porto. Inicialmente Rogério de Azevedo pretendia no seu projecto incluir um espaço maior de jardim para as crianças, mas lamentavelmente tal não se veio a concretizar, pois o espaço exterior teve de ser encurtado. No entanto, o edifício mantém uma configuração original, marcado pelas linhas Art Deco a nível de vários remates, nas janelas e amplos janelões e ainda nos sugestivos painéis com relevos com temas florais ou de carácter infantil. 

11/02/2016

Antigo Armazém na Rua da Restauração


Um dos edifícios mais notáveis da Rua da Restauração, virado para a antiga Fábrica de Louça de Massarelos (onde agora existe um prédio de vários andares para habitação), é este velho armazém abandonado que ainda exibe uma robustez única devido à qualidade construtiva.

Gostávamos de estudá-lo melhor – e assim o faremos – pois apesar da investigação que fizemos acerca deste edifício, ainda não temos todas as respostas. Foi decerto um armazém, mas um armazém de quê? Ainda não está completamente esclarecido, apesar dos rumores que relacionaram a sua exploração com os produtos cerâmicos da Fábrica de Louça de Massarelos (que sofreu um incêndio devastador em 1920 e desde então ficou desactivada, tendo a sua produção sido continuada noutras instalações), também se fala de têxteis e até de sal e produtos alimentares (a seu tempo procuraremos esclarecer bem isso, pois é preciso frisar que este edifício foi erguido após a desactivação da antiga unidade industrial de Massarelos que ficaria em frente.



O armazém foi erguido no ano de 1923 pela proprietária Maria Pinto Vieira e a sua arquitectura segue de perto as linhas severas da Arte Nova tardia – que podemos reconhecer em vários prédios do Porto das duas primeiras décadas do século XX. Maior exemplo da Arte Nova é o friso de painéis de azulejos que corre todas as fachadas do edifício, encontrando-se ainda intacto. 

10/02/2016

Ruínas do Convento de Madre Deus de Monchique


É um tanto desolador constatar que um dos raros exemplos que ainda substituem da arquitectura Manuelina na cidade do Porto continua a não passar de um conjunto inacessível de ruínas que, apesar do seu valor patrimonial, poderia contribuir em muito para alterar a paisagem do declive onde Miragaia se encontra com Massarelos.

O Convento, eternizado através do célebre romance de Camilo Castelo Branco “Amor de Perdição”, foi erguido sobre uma antiga sinagoga posteriormente ocupada pela Casa de Monchique, que pertencera ao nobre Pêro Coutinho e que por não ter descendentes decidiu doar a sua propriedade a religiosas para ali erguerem um convento dedicado a S. Francisco, tendo para tal obtido autorização do Papa em 1535. É certo que já antes da bula com a autorização ter chegado a Portugal, já o paço de Pêro Coutinho estava a ser transformado numa casa conventual e parte do convento ficou concluída em 1538, quando se instalam as primeiras monjas. O mestre-de-obras do convento foi o célebre Diogo de Castilho (c. 1500 – 1574), que trabalhou no Mosteiro dos Jerónimos em Belém e na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra.


O então designado Convento de Madre Deus de Monchique estendia-se entre o cimo de Monchique até à margem do rio Douro assinalado por um complexo de edifícios. Possuía uma entrada monumental cuja estrutura ainda existe e é possível ver da Calçada de Monchique, mas que foi posteriormente alterada, lembrando a entrada de uma fortaleza medieval, só que com características do Manuelino, principalmente a nível de ameias e pináculos que são reconhecíveis do lado oposto das ruínas, a poente (a parte mais imponente contém um frontão triangular e um piso suplementar do séc. XIX que ocultaram os ornamentos originais). O convento foi ampliado entre os séculos XVII – XVIII, acabando por possuir os seus claustros ajardinados, cada qual com o seu chafariz. Teve ainda hortas e várias fontes. Já a capela-mor primitiva, foi profundamente alterada a partir de 1699.

Durante o século XIX o convento acabou por ser desactivado e dividido em dois lotes, vendidos em hasta pública. Uma parte foi adquirida por uma família inglesa enquanto o outro lote ficou em posse do negociante Clemente Meneres, que aproveitou para fazer um armazém de vinhos e uma fábrica de rolhas sem, contudo, ter destruído o corpo principal do edifício. Actualmente o Convento encontra-se abandonado e parcialmente arruinado. Também se previa reabilitá-lo para transformá-lo num hotel pela empresa agrícola que veio a tomar conta deste monumento, o que é provável que venha a acontecer, mas de momento encontra-se no triste estado em que o reconhecemos.


(A Falta de) Ideias para Reaproveitar as Cabines Telefónicas

As velhas cabines telefónicas públicas vermelhas foram uma marca da cidade do Porto do século XX, continuando a funcionar até tempos recentes, acabando por perder protagonismo com a massificação dos telemóveis. Actualmente, as poucas que existem no centro da cidade estão vazias e degradas, sem nenhuma utilização. Permanece o debate acerca da sua remoção, mas os que são a favor da sua retirada ignoram que estão a alienar não só uma pequena parte da história da sua cidade como um equipamento que deveria ser revalorizado e reaproveitado para outro tipos de funções na mesma medida em que os antigos quiosques continuaram a funcionar.

As cabines telefónicas vermelhas são também um sinal da influência britânica no Porto, assim como as velhas caixas de correio cilíndricas da mesma cor (qualquer visitante irá reconhecer de imediato o mesmo modelo numa visita a qualquer cidade do Reino Unido). Estas cabines foram desenhadas por Sir Giles Gilbert Scott em 1936, designadas então como Modelo K6, mas conhecidas no seu país de origem por «Jubilee Kiosk» (Quiosque do Jubileu). Giles Gilbert Scott era um notável arquitecto de profissão, mas ficou imortalizado no Reino Unido pelo design desta cabine telefónica clássica.

Numa nação marcada pela ávida protecção e defesa do seu património é perfeitamente natural que em 1988 tenham surgido manifestações públicas de desagrado contra a sua substituição por novas unidades como intencionava a British Telecom. E não é por acaso que, mesmo perdendo a sua utilidade em prestação de serviços telefónicos, tenham surgido nos últimos anos no Reino Unido novas ideias para reaproveitar as amadas cabines – muitas das quais têm sido utilizadas para ter máquinas de café e fazer outras prestações de serviços que se transformaram em lucrativos negócios, como as que têm equipamentos para engraxadores de sapatos que as alugam. E isso para não descrever as que já têm painéis solares com equipamentos para carregar telemóveis e tablets (as “Solarbox”) e, no caso das vilas e zonas rurais mais isoladas, algumas até já têm desfibrilhadores para casos de paragem cardíaca. E todo esse interesse pelo reaproveitamento das cabines obsoletas para funções distintas aumentou a partir do momento em que surgiram várias campanhas de publicidade que se traduziram num sucesso no Reino Unido.

Fora do Reino Unido, mas com outros modelos de cabines desactivadas, os EUA – nomeadamente em Nova Iorque – foram pioneiros em instalar pontos de wi-fi com internet gratuita e rápida além de ecrãs onde é possível encontrar informações sobre a cidade, fazer chamadas gratuitas e recarregar baterias via USB (infelizmente esse modelo levou mesmo à substituição completa das cabines, mas é uma ideia do que é possível fazer com as unidades, reaproveitando-as para outras utilidades de interesse público).

Já em Lisboa algumas cabines telefónicas foram utilizadas como pequenas bibliotecas – ideia que também surgiu no Reino Unido, mas já se chegou a debater a possibilidade de reutilizá-las igualmente como pontos de wi-fi gratuitos. O que é curioso é que alguns comerciantes e donos de cafés também já se lembraram de explorar as mesmas cabines como pequenos pontos de venda, enquanto vários cidadãos já se lembraram de que seriam ideais para implementar pequenas máquinas de venda automática (de café, artigos alimentares e até de preservativos).

Estas e outras ideias poderiam ser facilmente implementadas. O que não se compreende é como uma câmara municipal aberta a novas soluções tecnológicas para resolver problemas da cidade ainda não promoveu nenhum concurso aberto a designers (e não só) para desenvolver uma ideia para reaproveitar estas cabines abandonadas – que até dão uma má imagem. Não estamos contra a iniciativa de servirem de telas para arte urbana – até deveria ser menos discriminada e levaria a uma nova interpretação de um bem histórico da cidade, desde que fosse reaproveitado – o que nos aborrece é que permaneçam num estado de desprezo e desaproveitamento, abrindo caminho à sua degradação. 

09/02/2016

Casa Nobre do Cais Novo


Aquele que é um dos palácios do século XVIII mais notáveis do Porto e pertença de uma das famílias nobres mais ricas e ilustres na região durante este período de tempo é pouco mencionado ou referido pelo poder local ou pela instituição que explora aquele que é conhecido como o edifício dos Armazéns do Cais Novo – Museu do Vinho do Porto. O que não parece ser por acaso, dado o estado de degradação da Casa do Cais Novo (da qual até existe uma escassez notável de fotografias nos meios de divulgação públicas!), apenas alimenta a confusão entre aqueles que a relacionam com a antiga Fábrica de Louças de Massarelos ou até com uma casa de hóspedes e pertença do arruinado Convento de Madre Deus de Monchique.

Um olhar mais atento à Casa do Cais Novo comprova que na realidade se trata de um verdadeiro palácio senhorial e assim indica a presença do brasão dos Pinto e Cunha na fachada virada para o rio Douro, família ligada à produção do Vinho do Porto e estreitamente relacionada com a Companhia Geral da Agricultura e Vinhos do Alto Douro instituída em 1755 pelo então primeiro-ministro do reino Marquês de Pombal. Foi devido ao fluxo de negócios que a família projectou a construção dos seus armazéns para o desembarque de vinho que mais tarde, em 1822, chegou a servir de alfândega, ficando conhecida por Alfândega de Massarelos. Mas este amplo edifício que é agora um dos mais significativos museus da região tem como vizinha a casa nobre cujo estado de abandono deixa tão pasmados os turistas quanto o seu valor patrimonial, uma vez que é possível reconhecer alguns ornamentos barrocos que contrastam com a sua sobriedade geral. Não nos é possível saber quem foi o seu arquitecto, mas se tivéssemos de adivinhar ou especular teriamos de inclinar-nos para uma possível obra de José Figueiredo Seixas, responsável por um trabalho que seguiu as linhas do barroco e do rococó (rocaille) até acompanhar a arquitectura mais sóbria do período Pombalino.




Junto à Casa do Cais Novo ainda subsistem as ruínas de uma antiga fábrica de encerados da primeira metade do século XX que terá sacrificado parte da casa. Mais tarde acabou também abandonada e devoluta, até se ter deflagrado um incêndio no seu interior que obrigou à demolição de uma parte do edifício no ano de 2010. Chegou ainda a ser utilizado por ocupas, mas acabaram expulsos pelas autoridades nesse mesmo ano. A casa senhorial, além da sua localização privilegiada, juntamente com as ruínas da fábrica de encerados, apresenta a nível de espaço e de interesse turístico todas as condições reunidas para ser reabilitada e transformada num hotel. E essa intenção parecia ter surgido há alguns anos atrás, tal é a sua relação com o Museu do Vinho do Porto, mas que infelizmente não se veio (até ao momento) a concretizar. 

Nº40 Rua da Bandeirinha


Entre os vários edíficios que nos cativa a curiosidade na estreita Rua da Bandeirinha encontra-se ocorrespondente ao Nº40. Na verdade trata-se de uma casa (burguesa?) com resquícios da arquitectura setecentista muito provavelmente contemporâneo do Palácio da Bandeirinha (ou das Sereias) do qual se vê o portão lavrado principal do mesmo local onde é possível analisar a fachada deste edifício peculiar.

É com pesar que anunciamos não saber a sua história, pelo que desconhecemos o nome dos seus primeiros proprietários, do seu arquitecto ou das alterações que foi sofrendo com o passar do tempo (porque foi sofrendo alterações, sem dúvida). Os principais indicadores da sua antiguidade são os elementos barrocos que se encontram em cada um dos flancos da sua fachada, nomeadamente as janelas emolduradas encimadas por remates sinuosos que sustentam fogaréus, relembrando-nos a decoração escultórica que é possível reconhecer no Nº14 do Passeio das Virtudes (da actual Cooperativa Árvore) e na Casa dos Pinto de Meireles (serão obras do mesmo arquitecto?).

Infelizmente, é mais uma que, além de ter uma história misteriosa, encontra-se abandonada, com a entrada entaipada, e já com alguns sinais visíveis de degradação…

Fundos Comunitários da Portugal 2020 vão apoiar pela 1ª Vez Investimentos na Habitação

Um novo instrumento financeiro para a Reabilitação Urbana estará disponível através do IFRRU 2020 a partir do segundo semestre de 2016. São 2 Mil Milhões de Euros que poderão ser utilizados através de qualquer entidade pública ou privada que assim se poderá financiar em condições mais vantajosas para reabilitar edíficios. E pela primeira vez os fundos comunitários irão apoiar investimentos na Habitação para além do comércio, turismo e de outros serviços. Os munícipios estarão envolvidos, tendo assento no comité de investimento e determinando os territórios comprioridade a reabilitar (no caso da cidade do Porto, além do Centro Histórico e de várias freguesias, foi óptima a iniciativa de estender a ARU a Campanhã, após décadas de desprezo deste território singular que conjuga características de cidade e campo). 

Aliando-se benefícios fiscais e melhores instrumentos em termos de financiamento, talvez a Reabilitação Urbana venha a destacar-se ainda mais na cidade do Porto e a contribuir para que se melhore a imagem de tantos prédios históricos que na prática precisarão de uma remodelação profunda para serem reabitaveís. 

Fonte:


08/02/2016

A Fábrica de Conservas Vasco da Gama


No gaveto entre a Rua Conselheiro Costa Braga e a Avenida Menéres situa-se uma das várias unidades industriais de conservas abandonadas de Matosinhos – A Fábrica Vasco da Gama. No entanto, mesmo mantendo em relevo a descrição da empresa a que pertenceu, na realidade é sucessória de uma primeira fábrica, tendo servido de primeiras instalações à produção das conservas d’A Boa Nova, fundada em 1920, enquanto a Vasco da Gama teve a sua primeira fábrica no concelho de Matosinhos na Rua Sousa Aroso antes de se expandir e ocupar a que referimos um bom tempo depois.

Através da gerência desta fábrica confiada a António Costa Neiva e a Narciso Barroso em 1939 dar-se-ia origem à empresa Vasco da Gama Lda., instituída em 1941. A empresa ganhou notoriedade e aumentou em grande parte o volume das exportações, começando ainda a produzir as suas próprias latas de conserva. Infelizmente, esta fábrica encerrou funções em 1995 e desde então permaneceu abandonada e está num estado devoluto. A sua arquitectura segue as linhas da Art Deco e na realidade representa parte do muito interessante património industrial de Matosinhos, pelo que não será de admirar o recente anúncio da intenção da câmara municipal em reabilitar e instalar nesta fábrica o futuro Museu da Diáspora e da Língua Portuguesa, que poderá começar a funcionar a partir de 2017 e cuja notícia reconhecemos com ânimo. 

05/02/2016

Prédio Nº11 do Largo do Viriato

É lamentável que este prédio de habitação já se encontre abandonado e com sinais de degradação há tantos anos (embora não seja o pior caso) – tanto mais que foram muitos os esforços feitos para tentar vendê-lo. Um tanto austero e despojado, só se destacando pelos gradeamentos das estreitas varandas e o seu conjunto de três janelas no último piso, estreito e diferenciado, relembra alguns dos velhos prédios do final do século XVIII erguidos durante a Época dos Almadas, embora seja cem anos mais recente ("pós-almadino").

O prédio foi mandado construir por Manuel Joaquim de Araújo Costa em 1883, que nele habitou a partir dessa data. Não há muito mais a dizer sobre este homem para além de ter sido proprietário de outros prédios, arrendando os seus apartamentos – incluindo na Rua do Almada como o que ocupa os números 508-510-512-514, erguido em 1855 e que apresenta uma arquitectura semelhante. Mas Manuel Joaquim de Araújo Costa também se destaca por ter sido um dos membros fundadores do Club Portuense em 1857, dando-nos a comprovar que a sua área de actividade centrava-se muito naquela área da freguesia de Vitória em especial (que foi mais tarde ocupada pelo Palácio Conde de Vizela, pelo Hotel Infante Sagres e outros edifícios que na verdade fazem parte da actual zona da movida de uma forma geral).

Ruínas de Prédio-Fábrica na Rua da Bandeirinha



Do que resto do que outrora chegou a ser uma fábrica destinada a refinação de açúcar, torrefação de café e produção de chocolate é a sua bela fachada que dá conta de várias décadas de utilização (e provavelmente com propósitos diferentes) até cair no abandono. Não sabemos (ainda) a sua história recente; apenas de que está em ruínas «há uma dúzia de anos (?)» e que só passa despercebida por se situar na estreita e pouco frequentada Rua da Bandeirinha.

Apesar de tão pouco sabermos sobre o seu passado recente, conhecemos as suas origens. Antes de ser um prédio, com a actual configuração, foi na verdade um local ocupado por outros destinados a habitação. É preciso referenciar que esta rua tem séculos e uma ocupação muito antiga e assim o confirma a antiguidade de alguns edifícios presentes (séc. XVII – XVIII) e a história da freguesia de Miragaia, que revela a existência de habitações de pescadores e da população judaica neste arrabalde. No entanto, o passado mais remoto que conhecemos do terreno onde se situa o prédio em questão fala-nos de uma proprietária de nome Felismina Adelaide Rodrigues Aires de
Gouveia que em 1883 constrói aqui um primeiro prédio, cujos números indicam que seria bem mais estreito do que o actual (ou do que resta dele). Posteriormente, já em 1920 outro proprietário chamado Abel de Lacerda constrói outro prédio mesmo ao lado do mais antigo (erguido por Dona Felismina). Mas passados apenas três anos, em 1923, o empreendedor Tomás Augusto Ferreira é que adquire ambos os prédios e constrói sobre ambos o edifício que ocupará parte do antigo prédio de Dona Felismina e o de Abel de Lacerda, tencionando ali construir a sua fábrica. 

Como fachada de fábrica é sugestiva. Dá ideia de ser um palacete embelezado por alguns elementos vegetalistas de influência barroca que contrastam com a restante austeridade do edifício, contrária à opção de usar os mesmos detalhes em painéis de azulejos segundo a moda da Belle Époque (anterior à deste período de transição, que vai passar a incorporar uma linguagem mais severa, sem contudo abdicar de alguns ornamentos com toques de revivalismo, e abrir caminho à Art Deco). Mas é provável que a própria fachada tenha sido idealizada numa data posterior à instalação da própria fábrica e alguns registos comprovam que Tomás Ferreira alterou o seu projecto várias vezes entre 1923 e 1924, contando com o apoio do mestre-de-obras Justino de Fontes Santos - e sempre se referindo às suas alterações posteriores como «prédio» e não como fábrica.

03/02/2016

Casa Devoluta na Alameda de Basílio Teles


E no que toca a esta casa devoluta não sabemos dizer muito... Na verdade, o que poderíamos dizer é muito pouco, pois até causa impressão como é que um pequeno edíficio tão interessante (até bem mais do que muitos outros de tamanho considerável, como prédios e moradias) se encontra neste estado. Fica bem perto de um hostel, destaca-se pelo piso superior saliente (seguindo a arquitectura que caracterizava as típicas casas medievais) corrido por janelas como se fosse uma loggia, destaca-se pelos azulejos de cores quentes que cobrem a sua fachada, e destaca-se também pelo muro avançado de influência Art Deco com vários gradeamentos que simplesmente temos de caracterizar numa palavra já descrita - "interessantes".

Infelizmente ainda não identificamos o(s) seu(s) proprietário(s) original(ais), nem em que ano tenha sido construída (embora saibamos bem que o prédio ao lado, com quem partilha a Travessa do Roleto, data da segunda metade do séc. XIX). Mas continuaremos a investigar e esperamos descobrir mais... se entretanto ninguém tomar posse e reabilitar esta casa.

Hotel Mirassol em Miramar


Inaugurado em 1957 e orientado segundo as linhas do Português Suave, o Hotel Mirassol em frente à Praia de Miramar (Vila Nova de Gaia) foi uma das unidades hoteleiras com maior procura no Litoral Norte durante os finais dos anos 50 e no decorrer dos anos 60 e 70. Mas devido ao desordenamento urbanístico ocorrido em Miramar em torno do hotel – que até não é pior do que em muitos outros locais e freguesias de Vila Nova de Gaia – o lugar sofreu um dano paisagístico e, naturalmente, o Hotel Mirassol veio a perder o seu encanto, acabando por ser obrigado a encerrar nos anos 90.

Desde então, o Hotel permaneceu abandonado e tem vindo a degradar-se até hoje, estando à mercê do vandalismo. É certo que em 2002 parte do hotel e dos edifícios adjacentes de «mau gosto» foram demolidos, a zona marginal costeira foi intervencionada graças à Câmara Municipal de Gaia e desde então que se tem previsto recuperar o edifício principal do hotel para englobar vários projectos de aproveitamento daquela estância. 



O primeiro projecto de reaproveitamento previa adicionar um prédio com vários apartamentos de 4 estrelas para associados do Cofre de Providência de funcionários e agentes do Estado. Mas uma mudança na direcção, ocorrida entre 2006 e 2007 cancelou essa construção e decidiu vender o terreno. Em 2008 foi anunciada então o reaproveitamento do hotel pela Simoga, empresa detida por accionistas da Salvador Caetano. Mas em 2009 o terreno foi novamente vendido e passou para as mãos da AutoPartner Imobiliária SA que pertence à Salvador Caetano. E, desde então, apesar das várias intenções e promessas, o Hotel Mirassol continua a arruinar-se.

02/02/2016

3 Casas de Siza Vieira no Bairro de S. Victor



Já há alguns anos que se fala com interesse das intenções por parte da Escola Artística e Profissional do Porto em criar um laboratório para testar soluções de construção em casas devolutas para replicar a experiência em bairros sociais e ilhas – no fundo tomou como ponto de partida a Reabilitação Urbana e as interessantes experiências do Projecto SAAL (Serviço Apoio Ambulatório Local) que ocorreu entre 1974-76 para tentar corresponder aos problemas da habitação. Essa intenção está na origem da fundação do LAHB Social pelo professor Fernando Matos Rodrigues que funcionou em parceria com a Câmara Municipal do Porto em estudos pela reabilitação de várias ilhas situadas na freguesia do Bonfim.

Mas desde cedo que havia o intento de que o laboratório de habitação se situasse no Bairro de S. Victor. Não se tratava apenas de se aproximarem das circunstâncias da habitação local, no que correspondia à Associação dos Moradores de S. Victor, ou de estudar as ilhas mais próximas do bairro (nomeadamente na Rua de S. Victor), ou de analisar o projecto de Siza Vieira que corresponde ao conjunto de 12 casas desenhadas e erguidas pouco após o 25 de Abril. Tratava-se mais precisamente de reabilitar três casas que foram desenhadas pelo mesmo arquitecto, entre as ruas de S. Victor e das Fontainhas, que pertencem à Câmara Municipal do Porto mas que nunca foram habitadas.

É curioso que enquanto o município se preocupa (ou assim parece) com os problemas da habitação social e que tudo indica que a urgente procura da mesma tenha sido acentuada durante os últimos anos de crise ou que manifeste o interesse em reabilitar as ilhas ao assumir publicamente que tanto os espaços quanto os seus habitantes fazem parte do património do Porto, que estas três casas de Siza Vieira continuem devolutas e que nada do que tanto foi debatido tenha passado de meros intentos.

Fonte:


01/02/2016

Ruínas da Fábrica de Cerâmica do Senhor D’Além

São uma marca de um território há muito desprezado e negligenciado. As ruínas, bem visíveis do outro lado da margem do Rio Douro, fazem parte do conjunto de outras que se encontram em duas encostas paralelas: as ruínas das escarpas das Fontainhas e as da Serra do Pilar.

É triste pensar que só nos últimos anos é que ambos os municípios (Porto e Vila Nova de Gaia) decidiram valorizar estas encostas e procurar intervir no sentido de as tornar mais interessantes a nível paisagístico ou até de proteger o seu património – porque no estado em que ainda estão causam uma má imagem.

As ruínas são o que restam do que na realidade começou como um hospício do século XVIII fundado por monges carmelitas que resistiu até 1834, juntamente com a Ermida do Senhor D’Além (que foi reconstruída várias décadas mais tarde). Posteriormente é que se transformou na Fábrica de Cerâmica do Senhor D’Além, uma das muitas que operou em Vila Nova de Gaia, que funcionou até aos anos 20 do século XX. Desde então o complexo industrial permaneceu abandonado até se transformar num dos montes de ruínas mais conhecidos e notados junto ao Douro.

Mas tal como foi anunciado, já que dispõe de cais e de uma posição privilegiada, prevê-se a sua reabilitação para breve e poderá vir a ocupar um novo hotel.  

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