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13/04/2016

Torre da Antiga Casa da Câmara/dos 24

Entre as obras mais polémicas que foram erguidas na cidade do Porto durante os anos que se sucederam à classificação do seu Centro Histórico pela UNESCO, talvez nenhuma se destaque mais do que a reconstrução da Casa-Torre da Antiga Câmara, também conhecida por Casa dos 24.

A velha torre foi erguida entre os finais do século XIV e inícios do século XV junto à primitiva muralha, reaproveitando possivelmente um dos seus cubelos originais e material construtivo disponibilizado pelo seu desmantelamento parcial, uma vez que perdera o seu propósito defensivo há muito, através da ampla expansão da cidade que ultrapassava o alto de Pena Ventosa e com a construção das Muralhas Fernandinas. Erguida em granito, coroada por ameias e de portas e janelas de arcos ogivais próprios da arquitectura gótica, não será difícil imaginar o requinte do seu interior no período medieval, com tapeçarias e peças de mobiliária magníficas. Aqui se reunia o antigo senado da câmara portuense e ficou popularmente conhecida por Casa dos 24 por aqui se reunirem os 24 representantes dos vários ofícios da cidade do Porto.

Com a mudança das reuniões da câmara para outros locais a partir de meados do século XVI, a Casa-Torre começou a servir outros propósitos, como o de cadeia e de asilo, o que não impediu que se degradasse e a ameaçar ruína.

Manteve-se abandonado durante muito tempo e o que mais lamentamos é que mesmo com as sucessivas intervenções da DGEMN a partir dos anos 30 do século XX, responsável pela reabilitação dos troços que restaram das Muralhas Fernandinas e pela Casa-Torre mais próxima (aquando do alargamento do Terreiro da Sé nos anos 40) que esta antiga torre medieval não tivesse sido também reabilitada. Manteve-se em ruínas durante várias décadas e realmente surgiu um projecto para reconstruí-la… mas como entendemos que Reconstrução não é exactamente o mesmo que Reabilitação, realmente não poderíamos ser a favor da asneira que aqui se fez – porque é de uma asneira que aqui se trata, mesmo que muitos prefiram não reconhecer o óbvio.



A Casa-Torre foi reconstruída em 2002 segundo um projecto de Fernando Távora e desde então causa desagrado aos que reconhecem a incoerência de uma obra que nunca deveria ter sido erguida num centro histórico já classificado, quando a reabilitação da torre medieval, devolvendo-lhe a traça original e a sua identidade medieval, teria sido bem mais apelativa. Claro que há quem defenda esta obra – e ainda mais por se tratar de uma obra de um arquitecto conhecido –, mas quem o faz está a negar o valor acrescentado que seria a devolução de uma torre gótica à zona da Sé e à cidade, que dispensa completamente qualquer “arranjo” moderno para expor o que há de melhor em termos expressivos, materiais e imateriais.


Nota: Com a crítica a este projecto específico não pretendemos descrever ou opinar contra a obra do arquitecto Fernando Távora, que na realidade merece um maior destaque e reconhecimento do que é dado na actualidade - não pretendemos misturar as coisas. É como se pedissemos a Júlio Pomar ou  a qualquer outro pintor da actualidade que pintasse por cima de um quadro inacabado do século XIII em lugar de restaurá-lo; por mais expressivo, original ou até genial que fosse, não deixaria de ser um atentado.

04/04/2016

Há Esperança para o Caminho Português de Santiago?



Esperança há sempre. Mas a esperança alimentada por políticos em Portugal já sabemos o que vale: um conjunto de boas intenções, criação de (falsas) expectativas, discursos para referir o problema através de frases «temos de…» é «necessário fazer…», iniciativas várias que apontam no sentido de que se vai fazer alguma coisa e depois, passados alguns anos, vemos que as coisas pouco evoluem ou ficam praticamente na mesma, quando não obtém os tristes resultados que deixam muito a desejar.

Há que relembrar que os problemas relacionados com o Caminho Português para Santiago são complexos e não apresentam fácil resolução, tal como os problemas relacionados com a eficácia da Reabilitação Urbana nos Centros Históricos (que de alguma forma também está relacionado). E para termos em conta essa complexidade ou as dificuldades de uma total adequação do Caminho Português para Santiago a pedestres e às circunstâncias contemporâneas que passam por roteiros antigos tomamos como exemplo o(s) Caminho(s) para Fátima – com décadas de existência e ainda assim parcos ou inexistentes foram os esforços de sucessivos governos para que as principais vias se tornassem seguras, fossem bem sinalizadas ou desviadas de locais de maior tráfego automóvel (ao contrário do esforço de cidadãos anónimos e associações que procuram fazer a diferença). É de supor se isto já se passa com vias que todos os anos são percorridas por centenas a milhares de peregrinos todos os anos e com os quais se verificam constantemente acidentes ou dificuldades, imagine-se com o Caminho Português de Santiago que o Eixo Atlântico quer candidatar à UNESCO!

De qualquer maneira não vamos transformar uma notícia positiva que demonstra claramente a intenção de várias autarquias do Norte em recuperar e valorizar este Caminho em algo suspeito ou numa falsa promessa. É preciso salientar, isso sim, que tornar este velho roteiro transitável e funcional vai implicar mais do que uma boa sinalização, mas sobretudo a transformação e/ou a adaptação de muitas artérias e vias que se encontram inadequadas ou desprezadas, complementando-as com melhores serviços de informação, MAIOR PROMOÇÃO, e um claro auxílio aos peregrinos – nomeadamente albergues (ou seja, vai implicar variadas estratégias, escolhas, inteira dedicação, obras, intervenções, cooperação com diferentes entidades e projectos faseados que poderão levar bem mais do que uma década a implementar para que se torne inteiramente funcional). E depois há as pequenas questões por esclarecer que deveriam ser salutares:

 »Será que futuramente este Caminho tornar-se-á bem mais seguro e que exija menos esforços e menores exigências por parte daqueles que pretendem percorrê-lo?

 »Será devidamente complementado com novas vias de acesso para fugir a locais de maior tráfego automóvel e riscos de circulação?

 »Áreas urbanas por onde passa o antigo Caminho terão prioridade em termos de Reabilitação, tornando-o mais cativante e convidativo?

 »Terá em conta o meio ambiente e também irá dispor de passagens e vias arborizadas ou minimamente salvaguardas para que os peregrinos sejam poupados aos fumos e gases de tubos de escape automóvel ou à poluição citadina?

 »A reabilitação prevista da Circunvalação e de outras estradas principais na Área Metropolitana do Porto terá em conta passagens preparadas ou adaptadas a este Caminho?

 »Prevê-se que todo o Caminho possa conter uma longa ciclovia, adequando-o também a ciclistas?

 »O Caminho Litoral Português para Santiago terá em conta o Caminho para Fátima, os problemas de segurança que presentemente apresenta e ambos poderão ser fundidos num só?

 »Estas vias que compõem o Caminho serão privilegiadas e para além de uma sinalética própria o seu piso apresentará um padrão facilmente identificável e coerente com as necessidades de caminhantes (mas também de ciclistas) e ainda assim coerentes com os locais e centros históricos pelos quais passam?


De momento, são questões sem resposta.

É óbvio que esta notícia não diz só respeito ao Porto ou à sua área metropolitana, mas tendo em conta os esforços de outros municípios do Norte do país em recuperar acessos e melhorar a sinalética para o velho Caminho Português de Santiago, já era mais que altura do Porto começar a dar também o exemplo – começando pela Sé e o rico Centro Histórico que a envolve.


Fonte:




15/03/2016

O Caminho de Santiago é uma Vergonha!
























Em cima: uma rara representação de uma vieira a indicar o caminho medieval para Santiago de Compostela na zona da Sé do Porto (tão rara que não encontramos mais nenhuma no caminho do centro histórico).

Todos aqueles que se interessam pelo Centro Histórico do Porto e pela sua valorização, sobretudo pela área classificada pela UNESCO, não pode deixar de ignorar a crua verdade de que embora muito tenha melhorado nos últimos anos ainda há muitos aspectos que ainda deixam a desejar. Não se trata só de melhorar em matérias de reabilitação e ambientais, mas igualmente no que toca às vias de circulação e acesso.

O condicionamento do trânsito na Rua das Flores pode ter sido uma melhoria válida e um primeiro passo nesse sentido, mas não faltam outras artérias a necessitar urgentemente de maior atenção e de intervenção por parte do poder local – principalmente quando falamos de artérias que atraem turistas e que estão intimamente ligadas à história da cidade ou que oferecem um potencial único que não está devidamente aproveitado. É que um dos mais curiosos exemplos diz respeito ao Caminho para Santiago de Compostela que pode ser iniciado na Ribeira ou na Sé Catedral do Porto e passa por Vitória; já é estranho que o município não se organize com outros (principalmente com o de Matosinhos, que ainda desvaloriza também a rota litoral do Caminho para Santiago) para melhorar uma via ideal para peregrinos ou meros caminhantes, como despreza em absoluto a sinalética que deveria ser crucial para orientar o visitante.


Mais uma seta na zona da Sé: um parco esforço de sinalética, que embora seja recorrente nos caminhos para Santiago, não ilustra o melhor que se pode fazer para dignificar uma cidade histórica como o Porto.

A sinalética em alguns pontos quase não é reconhecida – resume-se a uma seta amarela pintada por uma vulgar lata de tinta (esperemos que não tenha sido a Câmara a fazê-lo, embora isso, por outro lado, também nos preocupa). Este desleixo quase dá ideia de que não há mais a fazer. Quase! Mas mesmo se tratando de um roteiro medieval que leva a subidas e descidas abruptas não há desculpa para não melhorar e investir mais nestes primitivos acessos carregados de história. É impressionante que esta cidade nem disponha de um simples albergue no seu centro histórico ou revele as antigas casas que serviram de apoio aos peregrinos em épocas recuadas! (Os albergues existentes estão distantes e não junto ao antigo Caminho medieval)

Ao deixar o Centro Histórico poucos saberão por onde prosseguir se desejarem acompanhar o velho caminho seguido pelos peregrinos de outrora. Deixam de existir indicações válidas, bem visíveis, e não há nenhuma placa ou nenhuma linha ou representação urbana com um indício de continuidade clara (se as existiram, entretanto desapareceram). Este problema cruza-se com a ausência de roteiros históricos que poderiam ser sinalizados nos próprios passeios – quem os organiza serve-se da imaginação e conhecimentos que visitantes livres nunca teriam. Cruza-se igualmente com a ausência de uma nítida travessia pedestre destacada para atravessar todo o centro urbano (como poderia servir o eixo Rua Dr. Sousa Vitelo – Rua das Flores – Rua do Bonjardim, sendo ainda mais estendido), dotado de uma ciclovia e/ou de um tipo de calcetamento exclusivo. E cruza-se com a ausência de uma circular verde, como já foi debatida em tempos.

À direita, em cima, e à esquerda, em baixo: Além de não se ter dado prioridade a este secular roteiro em termos de reabilitação urbana, em vários casos a sinalética desvanece-se, comprovando o desinteresse e desmazelo de um munícipio que ainda não sabe - ou não quer - olhar a detalhes.

O Caminho para Santiago de Compostela é uma vergonha e confirma que as rotas pedonais não são prioridade numa cidade que já de si apresenta um urbanismo que ainda deixa muito a desejar para a própria circulação automóvel – é que se o futuro passa por libertar ainda mais o centro dos automóveis que não sejam públicos ou de residentes, os caminhos pedonais e as ciclovias têm de ganhar maior protagonismo. E quanto ao Caminho para Santiago em si, há que pensar realmente em colocar algumas placas ou qualquer outro tipo de sinalética bem mais interessante do que uma mera seta amarela nas paredes de antigos prédios que pode ser confundida como um rude acto de vandalismo. Vulgares azulejos com uma vieira pintada já poderiam fazer a diferença… mas isso é apenas um pequeno exemplo do muito que poderia ser feito.


Nota: Até agora, as indicações que temos é que a sinalética existente deve-se só e apenas a cidadãos anónimos e peregrinos que se preocupam em preservar e estimar este velho Caminho, receando que o vandalismo e a falta de interesse da Câmara acabe por sacrificá-lo e torná-lo irreconhecivel ou identificavel por outros peregrinos e turistas. É triste comprovar-se que ainda há casos em que cidadãos que com os poucos recursos que têm tentam fazer muito mais do que as autoridades competentes.


15/02/2016

Filmes Negros no Convento de S. Francisco!

Trata-se de um caso (um que se cruza com vários) que já tem décadas. Não é preciso que um monumento esteja devoluto para dar mau aspecto – basta identificar os vários sinais de desprezo ou negligência pelo lado exterior, principalmente através dos dados de pintura, nos danos em azulejos e vários elementos históricos ou, como neste caso, através da textura e cor da sua pedra. A notável Igreja Gótica do Convento de S. Francisco, uma das mais distintas obras medievais do Porto, necessita o quanto antes de uma operação de limpeza do granito das suas fachadas e das escadarias e muros de acesso que infelizmente são um feio contraste com o vizinho Palácio da Bolsa.

Os Filmes Negros, infelizmente, são uma das principais patologias do granito nas áreas urbanas, principalmente em cidades húmidas e com mais elevados índices de poluição, como é o caso da cidade do Porto (tanto são originados pelo ar contaminado pelos escapes automóveis como pelos depósitos das chuvas que absorvem os mesmos poluentes). E se há algo que dá uma aparência verdadeiramente sombria a vários monumentos espalhados pela cidade é este mal que infelizmente é identificado como sinal de inércia ou desprezo por quem deveria zelar por um património que é de todos (Património da Humanidade, relembramos!).

Estes Filmes Negros não são apenas inestéticos. Estão também associados a processos de degradação (lentos, mas ainda assim bastante prejudiciais) da própria pedra. Em detalhe, esta presença escura – e na igreja do convento é mesmo escura – é constituída por um complexo microssistema onde são identificados vários tipos de fungos, microalgas e uma matéria mineral ácida originada por estes micro-organismos que reveste o granito e dá-lhe esta aparência suja.



O município deveria debater e destacar este problema em particular, mesmo quando falamos de um edifício que não está sob a sua tutela. Uma cidade aberta ao turismo e habitada por cidadãos que amam os seus monumentos não pode continuar a deixar passar a imagem que no Porto metade dos edifícios históricos são negligenciados ou votados a esta aparência sombria e que não há lei, iniciativas ou princípios próprios que intervenham. 

21/03/2014

Casa Nº55 da Reboleira

Entre os diferentes exemplos da arquitectura civil medieval no Porto destaca-se a Casa Nº55 da estreita Rua da Reboleira que faz esquina com a Rua do Outeirinho. É de supor que seja uma habitação que deverá remontar ao século XIV (segundo se interpretam alguns elementos a nível da cave). Já a sua fachada principal, virada para a Rua da Reboleira, conjuga elementos do final da Idade Média, com portais de arco quebrado (góticos) no rés-do-chão e ameias no topo, com outros elementos do barroco que indicam que a casa poderá ter sido transformada já no século XVII, dos quais se destacam as janelas rectangulares nos pisos superiores. 

Independentemente das suas origens (às quais não se podem apontar sempre com exactidão), a casa está fechada e demonstra sinais de abandono. A fusão entre o gótico e o barroco é singular, mas mesmo assim destaca-se pelo seu ar sombrio e lamentamos que não tenha uma utilidade, tal como a vizinha Casa-torre Nº59, que ainda conserva a maior parte dos traços característicos da arquitectura medieval do século XIV e funcione como centro de dia, de convívio e lar de idosos.


17/01/2014

Torre/Mirante Quinta do Fojo


Uma das estruturas mais invulgares edificadas em Vila Nova de Gaia é uma torre arruínada que é possível avistar da autoestrada A1/IC1 na direcção da cidade do Porto.

Situada na área de Canidelo, não muito longe da fábrica abandonada do Fojo, é justo situar os primórdios desta construção no período medieval (senão mais antigo) onde serviu de atalaia e comunicava directamente por sinais de fumo e fogo com o antigo Castelo de Gaia, já que no local onde se situa era possível avistar uma larga área da costa marítima que antecedia a foz do Douro. Apresentando características que apontam provavelmente o século XII como principal período de construção (ou de reconstrução), a torre acabaria por perder a sua utilidade com o passar dos séculos.


Ora, no início do século XVIII, os terrenos em torno da torre medieval foram adquiridos pelo general inglês William Neville, que fundou e construiu a casa da Quinta do Fojo, uma rica propriedade que se estendia por uma vasta área. A torre acabou por ser aproveitada para servir de mirante para os proprietários da quinta; foi-lhe adicionada uma escadaria exterior de pedra e diversos elementos decorativos em cantaria, enquanto o interior foi preenchido de cascalho e enormes blocos de pedra.

Actualmente, a torre faz parte de um horto. Junto da mesma situa-se um tanque da quinta secular, também abandonado, e parte da estrutura encontra-se desmoronada e as suas paredes em risco de ceder ainda mais pela força das pedras interiores e do cascalho. As plantas trepadeiras que a envolvem também não ajudam, mas sem dúvida que é uma estrutura cujo valor patrimonial merecia ser reconsiderado. 

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