18/09/2014

Conjunto de Moradias Geminadas na Rua 5 de Outubro



Não é exemplo único, mas um entre os vários conjuntos de habitações com décadas de existência que se encontram vazios de proprietários e com as entradas entaipadas. Este excepcional conjunto de moradias é paradigmático do que poderia ser considerado emblemático e digno de ser classificado como Imóvel de Interesse Público na nossa cidade. Ignoramos o motivo pelo qual as moradias se encontram devolutas e sem residentes. Sabemos apenas que a Câmara Municipal do Porto não se absteve de salvaguardar uma parte valiosa dos painéis de azulejos que outrora percorreram os frisos da parte mais antiga do conjunto, azulejos esses de estilo Arte Nova e reconhecidos como provenientes da célebre Fábrica de Sacavém (um painel desses mesmos azulejos pode ser admirado no Banco de Materiais da Câmara).



Aplaudiremos sempre a iniciativa de salvaguardar tão preciosos elementos históricos como os nossos azulejos, mas permitir a completa degradação de moradias como estas é que não. Mais uma vez somos levados a crer que a vontade de desenvolver novos conceitos de habitação social não alberga casas antigas com possibilidade de integrar mas apenas e sobretudo blocos de apartamentos que formam os bairros de exclusão que estão comummente afastados do centro de uma cidade cada vez mais deserta (a reabilitação da Ilha de S. Vítor e o programa daí decorrente parece ser a única excepção à regra).

Independentemente de se tratar de um conjunto privado ou não, o poder local não deveria permitir que um conjunto de habitações que poderia ser lar de várias famílias chegasse a este deprimente estado. E reabilitá-las enobrecia esta área da Rua 5 de Outubro, já que o conjunto foi inteiramente uma obra de dedicação do seu primeiro proprietário, que pediu licença para as construir nos anos 20.


Foi em 1922 que José de Passos Mesquita pediu licença de construção das primeiras moradias geminadas (supomos que para arrendar) neste local, correspondentes aos números 527, 535, 543 e 551, rasgadas por elegantes janelas e com típicos gradeamentos que juntamente com os azulejos enalteceriam o conjunto. Será no ano a seguir que José de Passos Mesquita se dedica às obras de ampliação e modernização das mesmas, acrescento barracões e lugares de garagem nas traseiras das mesmas. Foi um projecto faseado. Em 1930 dá início à construção de mais quatro moradias geminadas, em tudo similares às primeiras, contando com um projecto assinado pelo arquitecto Inácio Pereira de Sá (provável responsável pelo projecto do primeiro conjunto de moradias dos anos 20), correspondendo aos números 559, 567, 575 e 583, que dispõem de frisos de azulejos diferentes (serão igualmente provenientes da Fábrica de Sacavém?). Só em 1933 é que estas habitações ganham lugares de garagem nas suas traseiras, facilmente acedidas através da Rua Moreira de Sá.

Desagrada-nos muito o estado devoluto e o desaproveitamento de todo o conjunto que já se perpetua há demasiados anos – faz-nos antever o pior em relação ao futuro destas moradias, como se fossem mais um pedaço de história pronto a ser devastado para dar lugar a outros empreendimentos contrários aos interesses de uma sociedade que protege e cuida do seu património.

10/09/2014

Moradia Nº4875 na Avenida da Boavista


O caso desta ampla moradia chama-nos particular atenção devido ao mistério que envolve a mesma, além de evidenciar uma rica história que envolve uma ilustre família do Porto.

Qual é o mistério que a envolve? Em primeiro lugar, não conseguimos identificar ou descobrir registos que apontam para a data exata da sua construção (muito provavelmente terá sido nos anos 20 do século XX). Em segundo lugar, ainda desconhecemos quem terá sido o seu arquitecto. Em terceiro – cientes de que a casa terá sido efectivamente ocupada por um médico, devido a inúmeras radiografias que nos anos 90 estavam espalhadas por algumas divisões da casa – ainda não comprovamos que o seu proprietário era mesmo o Prof. António de Sousa Pereira (1904 - 1986), conceituado professor de anatomia a partir de 1930, tendo chegado ao cargo de reitor na Universidade do Porto entre 1969 e 1974.


O que podemos determinar, pelas proporções e devido aos inúmeros elementos que a compõem, é que esta moradia apresenta muitas características da chamada típica “Casa Portuguesa” que diz muito respeito à obra de Raul Lino (1879 – 1974); longe de apontarmos a sua autoria – que evidentemente não podemos comprovar – é mais que justo referir a influência do seu trabalho nesta moradia (existência de alpendre, paredes caiadas, cobertura de telha sanqueada com as curvas da arquitectura portuguesa tradicional…). Inicialmente, o terreno onde a casa se ergue pertenceu a Johann Wilhelm Burmester, responsável por erguer o muro em seu redor, pelo que será de concluir que a moradia foi construída por sua vontade para nela residir.

Johann Wilhelm Burmester era filho do rico negociante Gustav Adolf Burmester (1852-1940), conhecido residente na Casa Burmester, mais conhecida por Quinta do Campo Alegre, que actualmente pertence à Universidade do Porto.


09/09/2014

Moradia na Rua de Círiaco Cardoso


Nunca tivemos a menor dúvida que uma descoberta fortuita pode levar ao reconhecimento, classificação e proteção do nosso património para júbilo dos cidadãos que se interessam por esse mesmo tema (já de si tão indignados ou incapazes de compreender o estado de desprezo a que foram votados tantos monumentos belos numa cidade tão rica em história). Felizmente, a moradia Nº31 da Rua de Círiaco Cardoso parece ser um desses casos: Apesar do seu estado de degradação e abandono, esta tornou-se notória quando foi feita a revelação em Março de 2014 de que terá sido desenhada pelo arquitecto Raul Lino (1879 - 1974), ilustre cultor da "Casa Portuguesa". 

O mérito desta descoberta recaí sobre a investigadora Carla Garrido de Oliveira, arquitecta e professora de História de Arquitectura Portuguesa na Universidade do Porto. Não pretendemos esmiuçar muito mais os detalhes ou os contornos da investigação que levou a esta fortuita descoberta (a qual, esperamos, pode levar à classificação ou exigência de preservação deste imóvel). Evidenciaremos antes que se foi identificada uma obra de Raul Lino na cidade do Porto, temos toda a legitimidade para lançar a suspeita de que muito provavelmente não é a única. 

E por isso lançamos a questão:

Podem várias das moradias mais notáveis abandonadas do Porto das primeiras décadas do século XX ter sido projectadas por arquitectos portugueses famosos cuja história foi esquecida ou nos passou despercebida até à actualidade? 




Esta moradia encontra-se à venda e é verdadeiramente única. Apesar das alterações que sofreu ao longo dos anos, não deixa de ser uma casa portadora dos elementos que facilmente atribuímos à obra de Raul Lino, que podemos descrever como "neotradicional", com paredes de pedra (granito, neste caso) caiado, vãos emoldurados, utilização de alpendres e no uso da cobertura de telha sanqueada. 

O seu proprietário original era o médico João de Almeida e a assinatura do projecto da casa foi assinada pelo arquitecto José do Santos, uma curiosa lacuna (entre muitas nos projectos e licenças de obra antigas) que nos leva a pensar na existência de outros possíveis exemplos do muito que ainda há por descobrir e no mistério das obras notáveis de autores anónimos, que podem ter sido mais famosos do que em príncipio julgamos.

03/09/2014

Casa do Antigo Restaurante Dom Manuel



O Nº384 da Avenida de Montevideu, em Nevogilde, já teve melhores dias. Grandiosa casa, tipo palacete, foi erguida no início do século XX e é atribuída ao arquitecto Miguel Ventura Terra (1866 – 1919). O seu proprietário foi José Rosas Júnior, que ao longo dos anos foi responsável por variadas alterações, incluindo a construção de um lugar de garagem.

Apesar da simplicidade da ampla construção, a presença de um torreão que se evidencia na fachada principal dá-lhe um efeito compositivo que realçado pelos frisos de azulejos de estilo Arte Nova provavelmente fabricados na Fábrica de Cerâmica das Devesas.

Esta casa acomodou durante anos o célebre Restaurante Dom Manoel, que chegou a receber empresários, políticos e pessoas ilustres. Fechou durante a primeira década do século XXI e desde então não voltou a encontrar novo proprietário. Encontra-se à venda, pronto a ser resgatado.

01/09/2014

Palacete Nº75 Praça da República


O Palacete Nº75 da Praça da República que faz esquina com a Rua de Álvares Cabral foi conhecido durante muitos anos por ter albergado o Instituto Francês, que fechou em 2004. Hoje é mais um monumento vazio, que acabou devorado por um incêndio ocorrido há poucos anos. Felizmente mantém a sua fachada nobre intacta, digna de apreciação dos que são a favor da defesa do património, de curiosos ou até de turistas interessados na nossa arquitectura histórica.

Ao contrário do que muitos pensam, este não é o palacete original da Quinta de Santo Ovídio que pertenceu ao Conde de Resende e da qual fazia parte uma ampla extensão de terrenos onde hoje se encontram as casas ilustres da Rua Álvares Cabral; essa casa foi demolida por altura de abertura da rua e as suas características formais eram do século XVIII, certamente carregada de elementos barrocos. Este palacete é mais recente e foi construído provavelmente com reaproveitamentos da antiga casa da quinta aquando da altura da sua demolição entre 1895 e 1897 – embora se propague a teoria que foi a parte que sobreviveu da mesma, que era comprida, composta por várias alas de dimensão considerável. Teorias à parte, que não podemos comprovar, reconhecemos inequivocamente na sua fachada principal inúmeros elementos dos finais do século XIX, sendo certas as intervenções já do início do século XX.



Não temos como comprovar que o Conde de Resende, sogro de Eça de Queiroz, terá habitado alguns anos neste palacete, quando o mais certo é a sua compra por privados após ter sido sido rasgada a Rua de Álvares Cabral. Nos anos 20 já estava em posse de Maria Celestina Alves Machado, proprietária ainda de várias casas que arrendava na Rua de Álvares Cabral, tendo feito várias obras de remodelação no palacete. Actualmente não está habitado e encontra-se para venda.

Torreões da Quinta dos Castelos


Perto do Quartel dos Bombeiros Voluntários de Coimbrões, em Vila Nova de Gaia, existe um terreno desaproveitado com um conjunto de monumentos misteriosos que chamam a atenção devido ao ar de mistério que transmitem. Além de uma torre no centro do terreno coberto de mato, existe um pequeno conjunto de torreões que lembra a entrada magnânima de um castelo, virada para a linha de comboio. Na verdade trata-se do que sobreviveu de uma propriedade conhecida na zona por Quinta dos Castelos e, como esta entrada composta de pórtico é composta de três torrões, ou por ser o terceiro elemento evidenciado como "castelo" da quinta, a propriedade também é conhecida por Quinta dos Três Castelos.

Esta construção invulgar nasceu da visão do proprietário Bernardo Soares de Almeida que em 1907 imaginou erguer um muro em betão coberto de ameias segundo o gosto revivalista da própria casa já demolida (no lugar onde hoje está instalado o quartel dos bombeiros e uma escola). 


Custa-nos compreender porque o terreno onde se situa esta curiosa construção nunca foi reaproveitado devidamente ou porque estes torreões de betão se encontram em estado de abandono. Estamos certos que no passado albergou um jardim luxuriante e bem tratado, do qual persistem diversos elementos como uma torre e uma pequena gruta artificial que conteria um lago, ambos vistos através de um elegante portão com gradeamento já enferrujado; hoje é apenas um local de meter medo, inspirando todo o género de mitos urbanos bem conhecidos entre a população local que encara este conjunto de monumentos sombrios apenas com desagrado.

29/08/2014

Casas Nº26 e Nº29 da Praça da República

Na Praça da República subsistem duas casas centenárias lado a lado que pouco têm em comum senão o seu estado devoluto e se situarem junto da mesma praça. Correspondem ao Nº26 e Nº29, respectivamente.

A Habitação Nº26, tipo prédio, é bastante antiga e já habitada desde o século XIX (ou talvez antes desse mesmo período). Bastante típica entre as casas ditas “clássicas” do Porto, tem uma fachada estreita rasgada por janelas rectangulares com gradeamentos em todos os pisos, com a excepção do rés-do-chão, com três entradas que estão actualmente emparedadas. Destaca-se por ter uma chaminé central. Contando com diversas intervenções, consoante os proprietários que se sucederam, ganhou um novo andar no ano 1895 por vontade do residente Joaquim Simões Silveira. Em 1911 voltou a ser intervencionada pelo proprietário Albano Ramos Pais, talvez para se adaptar e conjugar com o gosto mais aperfeiçoado da casa vizinha, a Nº29, que foi construída nesse mesmo ano.

De fachada elaborada e distinta, com ricos trabalhos em cantaria, só se compara à habitação vizinha por ter uma fachada igualmente estreita. O seu proprietário era o mestre pedreiro António Faria Moreira Ramalhão (1896 – 1936) que a desenhou em 1910 para vê-la erguida no ano seguinte. Fez o trabalho simultâneo de arquitecto, técnico e mestre de obras. É constituída por quatro pisos e ainda por uma arrecadação (que não é visível do lado da Praça da República). Não podemos deixar de apreciá-la devido às suas linhas mais elegantes, com janelas e portas de arcos redondos e pelas suas varandas centrais, principalmente a do terceiro piso, curva, que ainda mantém o seu gradeamento original. Nesta casa podemos apreciar algum eclectismo de influência francesa em conjugação com detalhes da Arte Nova. Arquitecto e sobretudo notável Mestre Pedreiro, como atesta a fachada do Nº29, António Faria Moreira Ramalhão é pouco conhecido e a sua obra na cidade do Porto também passa despercebida (embora podemos encontrar o seu traço nalgumas fachadas em granito de várias habitações do início do séc. XX); esperemos que esta sua bela casa também não caia no esquecimento.

28/08/2014

Quinta dos Salgueiros ou dos Ingleses


Esta quinta situa-se na zona das Antas e é neste momento um verdadeiro conjunto de ruínas que acolhe toxicodependentes ou sem-abrigos temporários, bem como uma extensão de matagal propício à proliferação de ratos. Sem dramas e sem críticas de maior, escapa-nos o motivo pelo qual continua votada ao mais completo desprezo. Já está em ruínas há muito (demasiado) tempo, desde a altura em que foi construído o antigo Estádio das Antas. Está mais que comprovada a sua secularidade, nas quais detectamos elementos barrocos do século XVIII. Nos tempos em que foi habitada deve ter sido uma das propriedades mais aprazíveis da cidade do Porto; desde os finais do século XX que se encontra num estado lastimável.

Já muito foi escrito e debatido sobre esta propriedade abandonada (curiosamente, nunca foi sequer mencionada na Monografia de Campanhã). Estudos, soluções e interesses para reaproveitá-la nunca faltaram aos mais interessados instruídos no assunto. O que falta mesmo é uma acção para recuperá-la e restituí-la aos seus tempos de maior esplendor.


O número 341 ainda marca a entrada principal num portão da propriedade. Continuando por essa entrada deparamo-nos com um antigo obelisco barroco derrubado que fez parte de uma fonte. Atrás dessa fonte, escondida pelo mato, fica uma escadaria que liga à casa principal, de dois pisos e rasgada por várias janelas rectangulares, na qual ainda são vísiveis as várias chaminés das diversas lareiras que possuiu a casa. Do lado esquerdo de quem entra vê-se a capela; atrás da casa segue-se um conjunto de pátios, com mais ruínas de um tanque, de um estábulo e provavelmente do que deve ter sido a casa de criados. Tudo indica que noutra época deve ter tido um conjunto de jardins elegantes, que incluiriam os famosos salgueiros que baptizaram a propriedade.


Ignoramos se esta quinta terá sofrido com os combates do Cerco do Porto entre 1832-33 ou se nela se acomodaram tropas, uma vez que bem próximo existiram dois redutos fortificados onde foram colocados a artilharia dos liberais sitiados. Sabemos é que foi recuperada e continuou a ser habitada após o conflito, até meados dos anos 50 do século XX, pelo menos. Mas não foi a guerra que a destroçou, apesar da sua aparência; foi o desprezo, o tempo e o vandalismo de quem vê num conjunto histórico algo de pouco a estimar.

Poderiamos dizer muito mais sobre esta quinta, mas será escusado, pois as imagens do triste cenário falam por si. Talvez um dia alguém ainda se lembre de nela instalar uma pousada, por estar tão bem situada e conjugar elementos do campo e da cidade. Por enquanto, vai continuar a ser avistada por quem passa na VCI como o mais intrigante monumento no conjunto de outros tantos próximos da Alameda das Antas, que desce até ao Estádio do Dragão.

Sede do Banco Pinto Magalhães

Na esquina da Rua Sá da Bandeira com a Rua de Sampaio Bruno localiza-se este prédio envidraçado que já foi definido por cidadãos como mais um "mamarracho", devido ao forte contraste que causa com os característicos edíficios do centro histórico do Porto. Onde hoje se situa este prédio existiu uma fonte em granito que era bem conhecida ainda na segunda metade do século XX. Hoje a Rua de Sampaio Bruno é pedonal e na esquina já não existe prédios típicos ou a fonte, mas sim um edíficio vazio e sem a menor função. 

A sede do Banco Pinto Magalhães é o exemplo de uma arquitectura moderna, à qual podemos reconhecer a influência dos traços de Mies Van Der Rohe (1886 - 1969), cujas teorias influenciaram e ainda continuam a influenciar toda uma geração de arquitectos, incluíndo certamente Fernando Silva (1914 - 1983), que projectou este prédio em 1962 seguindo as linhas racionais que podemos encontrar em muitas obras do famoso arquitecto alemão. O slogan «Menos é Mais» reencontra eco nesta obra, funcionalista, com o mínimo de elementos decorativos possíveis, procurando o seu valor expressivo apenas no contraste das fachadas em vidro com as lajes de granito polido que revestem toda uma fachada de canto.


O edíficio não se manteve em funções como sede do Banco Pinto Magalhães durante muitos anos. Após o 25 de Abril de 1974 o banco foi nacionalizado, voltou a ser reprivatizado e a história de como a riqueza e o legado empresarial de Pinto Magalhães (SONAE) acabou nas mãos de outro responsável ou como foram feitos esforços para causar a falência do seu banco em 1972 é uma história algo sombria que aqui não nos atrevemos a descortinar. 

Certo é que o Banco Pinto Magalhães já não existe. O que dele restou foram outros edíficios vazios e reocupados com novas funções; mas a sua sede permanece ao abandono e todos ignoram se vai continuar a permanecer assim durante mais décadas.

26/08/2014

Palacete da Rua das Taipas


Este palacete, tal como o vizinho Palacete de Vilar de Perdizes e o Palacete dos Maias na Rua das Flores, é uma das raras habitações de famílias nobres situadas dentro da cintura de muralhas da cidade do Porto, no meio da população. Tendo em conta que a presença e fixação de nobres eram escassas ainda durante o século XVI e que tal começa a intensificar-se apenas com o domínio filipino e durante o século XVII, presume-se que algumas das casas mais distintas da cidade pertenceram sobretudo a famílias burguesas e, tendo em conta a localização deste palacete, é provável que a sua origem remonte à residência de uma dessas ricas famílias de tradição mercante que então residiam na Rua das Taipas.

Certo é que o palacete com o número 74 foi alterado durante os dois séculos seguintes, embora mantenha uma sobriedade e características formais próprias do século XVII. O brasão em pedra que embeleza a entrada principal, apesar da moldura barroca, poderá ser apenas do século XIX, época em que terão sido sacrificados provavelmente alguns elementos decorativos de períodos anteriores e se fizeram profundas alterações a nível dos telhados (e possivelmente a redução da altura do primeiro piso, ao qual poderão ter sido sacrificados frontões que encimavam os janelões rectangulares deste). O brasão é o da família Leite – comprovando a sua fixação neste edifício talvez já no século XVIII (senão antes).

Não é fácil concluir quando o palacete deixou de ser uma residência nobre ou como acabou por ser cedido a outros particulares; talvez tenha sido abandonado durante o período do Cerco do Porto (1832 – 1833). No início do século XX serviu de sede ao Clube Inglês, que se fixou posteriormente noutro palacete nobre próximo, na Rua das Virtudes. Funcionou ainda como uma drogaria que aparentemente se manteve até à segunda metade do século XX, mas já durante esse período exibia alguns danos e sinais de desprezo que se intensificaram durante as últimas décadas, que resultaram em mais um exemplar do património abandonado na cidade do Porto.

Mais que ser reabilitado, este imóvel merece uma reavaliação e um digno estudo arqueológico para que as suas origens sejam mais conclusivas e o seu lugar na história da arquitectura privada do Porto seja devidamente reconhecido.

Prédio Nº20 Rua de Álvares Cabral


Recentemente acusamos o estado de abandono de uma moradia projectada pelo arquitecto Júlio de Brito na Rua de Sacadura Cabral; agora acusamos o estado de desprezo de um prédio de outro conhecido arquitecto cuja actividade também marcou a cidade do Porto durante o período do Estado Novo: Trata-se do prédio Nº20 da Rua de Álvares Cabral, projectado por Rogério de Azevedo (1898 – 1989), responsável por obras modernistas com as linhas rígidas do Português Suave como a Garagem do Comércio do Porto (1930 – 32) na Praça Filipa de Lencastre, a Maternidade Júlio Dinis (1938) em coautoria com outros arquitectos, o Prédio Maurício-Rialto (1942) na Praça D. João I e o Hotel Infante Sagres (1945).

O arquitecto Rogério de Azevedo desenhou este prédio em 1930 para os dois irmãos Álvaro Ferreira Alves e Eurico Ferreira Alves, acabando por ser erguido em 1931, com o apoio do engenheiro Henrique Santos Peres Guimarães. A entrada principal fazia-se através de um portão, o Nº20, que actualmente é flanqueado por outros dois. Deveria servir de habitação colectiva para arrendamento e inicialmente chegou a ter um consultório no rés-do-chão.


Destaca-se pelo contraste de materiais como o reboco e a cantaria e pela sobriedade e simplicidade, de inspiração Art Deco. É uma linguagem comum de muitos edifícios da época, que chegaram a servir propósitos tão similares. O motivo pelo qual este acabou abandonado, e com marcas óbvias de degradação, escapa-nos; mas se a Câmara Municipal desejasse reabilitar algum prédio antigo perto do centro da cidade com o intuito de arrendamento social, este poderia ser um dos melhores exemplos, devolvendo-lhe a sua função original e protegendo em simultâneo a obra de um arquitecto com um legado marcante.

25/08/2014

Moradia Nº65 da Rua de Sacadura Cabral


Já há algum tempo que procuramos estudar e exemplificar este imóvel como mais uma obra de um conhecido arquitecto da cidade do Porto que está ao abandono e para o qual  não parece existir algum projecto para o recuperar.

O arquitecto Júlio José de Brito (1896 - 1956), que também merece um mais digno reconhecimento e ao qual a câmara municipal do Porto poderia promover um roteiro das suas obras - o mesmo propomos, evidentemente, para as obras do famosos arquitecto José Marques da Silva (entre outros que tanto marcaram a nossa cidade) -, projectou esta nobre moradia em 1930 para residência do proprietário João Rodrigues Assunção.

Construída no ano de 1931, a moradia apresenta alguns dos traços mais austeros da Art Deco, que são evidentes na fachada principal, na entrada correspondente ao número 65 que rasga uma parede em cantaria de apoio ao corpo saliente de uma janela dividida em três ângulos muito comuns na arquitectura portuguesa da época e com um magnífico vitral ainda intacto do alto janelão rectangular que ilumina a escadaria interna de acesso ao andar superior. Mas se nesta fachada é evidente alguma dessa linguagem formal, o mesmo não se pode dizer da fachada de muro curvo da entrada nº53 virada para o encontro da Travessa da Carvalhosa com a Rua de Sacadura Cabral, que apresenta uma inspiração mais clássica, erguida essencialmente em betão armado, com uma loggia simples e angular sobrepujada ao nível do primeiro andar com colunas e balaustrada.



É mais uma moradia única na cidade do Porto, similar a tantas por se encontrar vazia e com sinais de degradação. Júlio de Brito pode ter projectado o Teatro Rivoli, a Junta de Freguesia de Cedofeita e muitos outros edíficios marcantes da cidade do Porto durante parte do século XX, mas esta casa ainda não parece ter encontrado destaque pelos melhores motivos no seu currículo.

08/04/2014

Edifício da Ourivesaria do Bolhão


Não pensamos em dar-lhe outra designação senão o edifício da «Ourivesaria do Bolhão», como foi tão conhecida durante décadas aquela esquina com o seu magnífico relógio de metal, de vitrines viradas para a Rua Formosa e a Rua Sá da Bandeira.

O edifício em questão começou a ser construído em 1916, por vontade do proprietário António da Cunha Tamegão e a sua arquitectura caracteriza-se por aquilo tantas vezes definido na cidade do Porto de Arte Nova Tardia, principalmente a nível das varandas e outros gradeamentos em ferro e dos azulejos com elementos vegetalistas, mas com características que ainda reconhecemos em edifícações mais antigas e com alguns mais modernos, ao qual não nos parece injusto designar o imóvel como portador de um eclectismo mais sóbrio. 

Originalmente, o edifício tinha uma planta triangular, mas sofreu várias alterações, com o passar dos anos, sendo os mais marcantes a partir dos anos 20. O primeiro proprietário já havia exigido o levantamento de mais um andar, e Maria Estela de Azevedo P. Spratley, proprietária nos anos 20, também foi responsável por acrescentar mais. O que mais marcou este edifício foi a fundação da primeira ourivesaria - a Ourivesaria Jaime Gomes da Costa e Filhos -que já desde essa mesma altura se instala numa das áreas do edifício que mais tarde dará origem à Ourivesaria do Bolhão.


Foi assim que o conhecemos e talvez seja assim pelo qual os cidadãos do Porto ainda se lembrarão deste imóvel. Este era o local da Ourivesaria do Bolhão. Também acomodou nos pisos superiores a famosa "Casa Forte", um dos locais de comércio mais distintos da cidade, octogenária, onde se vendiam os mais diversos artigos relacionados com vestuário, calçado e material desportivo, que fechou abruptamente em 2004. Os sinais de abandono do prédio eram visíveis em contraste com a ourivesaria resistente. As entradas das montras (e outras) emparedadas representam um sinal de tristeza na Rua Sá da Bandeira - juntamente com outros edifícios vizinhos. Mas a derradeira tristeza para os que muito lamentam os sinais de desertificação no centro histórico do Porto foi quando no final de 2013 se fechou a dita ourivesaria.

Há um relato rude e crítico da forma como foi anunciado o fecho da Ourivesaria do Bolhão: comerciantes e transeuntes assistiram impávidos ao grosseiro derrube do antigo relógio que ficava na esquina; preferiram derrubá-lo e destruí-lo à martelada, na rua, como se não fosse um pequeno pedaço de história elaborado mas um antes um artefacto incómodo e sem valor pronto a ir para o lixo, como acabam muitos bens aos quais nem sempre reconhecemos como elementos dignos de ser preservados...

Os últimos dados que tinhamos davam conta que o edíficio pertencia à Invesprédio, do grupo Bragaparques, que pretendia reabilitá-lo para acomodar lojas de luxo. Até hoje continua a ser mais um edíficio histórico vazio e desprezado, à espera de melhores dias.



03/04/2014

Parque de Estacionamento Silo-Auto


O grande parque de estacionamento situado na Rua Guedes de Azevedo, mais conhecido por Silo-Auto, tem como nome oficial Parque de Estacionamento Sá da Bandeira (ou das Carvalheiras). Na verdade, o nome pelo qual hoje os portuenses o designam provém do grupo Silo-Auto – Companhia dos Parques de Estacionamento S.A.P.L. que mais tarde tomou posse deste parque.

As opiniões dos cidadãos sobre este edifício que foi uma obra de modernização no centro do Porto dividem-se: há quem o designe como o “mamarracho” que ensombra a Rua do Bolhão e roubou um espaço verde à cidade, tornando-a ainda mais cinzenta como produto da especulação imobiliária que decorreu durante os anos 60 de século XX e se previa que fossem necessários mais locais de estacionamento no Porto; há quem o designe de uma obra bonita, moderna e com um bom impacto no sentido funcional, algo neutro na paisagem urbana. Mas no geral os portuenses consideram-no subaproveitado e menos atraente para o estacionamento automóvel do que seria (ou do que supostamente deveria ter sido) há décadas atrás.


Projectado pela Urbal – Urbanizadora Lda. em 1961, e construído durante os anos seguintes, o edifício pode ser descrito como uma estrutura de betão armado cilíndrica de sete pavimentos destinados ao aparcamento, dispondo ainda de estação de serviços, para o qual era ainda originalmente previsto um restaurante no 10º piso e uma pista de gelo para hóquei no 9º piso. Os pilares, as paredes, as vigas e lajes formariam um conjunto de grande pureza formal próprio da sua modernidade. E deveria ser ainda rematado por uma cúpula metálica.

Este projecto ambicioso contou com os arquitectos Alberto Pessoa e Joel Abel Manta, para além das assinaturas dos engenheiros Eduardo Henrique C. Carvalho, Joaquim da Silva Carvalho e Carlos A. Alvim de Castro, que testemunharam e protagonizaram sucessivas alterações no decorrer das obras ao longo da década. O complexo, que continuou em construção em meados dos anos 70, não chegou a ter a sua pista de gelo para hóquei, como se intencionava. E a dada altura, no espaço interior do que deveria ser a pista de gelo, chegou-se a imaginar um espaço a descoberto, com um jardim. Acrescentar-se-ia a isso um amplo espaço de comércio, com um snack-bar adicionado ao restaurante, com pistas de bowling, e ainda mais outro bar.


Actualmente o parque de estacionamento apresenta uma alta cúpula moldada em alumínio revestida em fibrocimento que em nada ajuda a embelezar o seu remate (sendo composto por amianto, também não é um bom elemento para a saúde pública). O tom cinzento do betão, os preços pouco apelativos, o restaurante abandonado (coberto de feias placas verdes de metal) e os sinais de desgaste levam a crer que necessita de uma reabilitação ou de uma intervenção para que se torne algo de mais emblemático e seja convidativo aos automobilistas que pretendam estacionar no centro da cidade.

Sugeríamos que a cobertura de fibrocimento fosse retirada de imediato e o espaço de restauração reaproveitado (talvez pudesse mesmo funcionar como bar ou discoteca, ao qual se poderiam juntar outros mais). A melhor das coberturas poderia passar por ser um tecto verde, mais ecológica, similar à solução encontrada na Estação da Trindade ou até mesmo na renovada Praça de Lisboa. Mas a ideia de isenção de cobertura, ainda assim dispondo de jardim, também não era má para os que desejassem usufruir de esplanadas que permitissem visualizar parte da cidade do Porto do seu topo.


Quanto à feia cor do betão, soluções não faltam, mas passam mesmo por uma vontade de reabilitar esta estrutura no sentido de deixar de parecer o «monstro cinzento» que deprime a paisagem urbana. São cada vez mais os cidadãos que desejam viver numa cidade menos sombria ou cinzenta.


01/04/2014

Edifício de Habitação na Avenida de Montevideu


No ano de 1936, Alberto da Silva Marinho, então proprietário de um terreno junto ao Mar, em Nevogilde, e residente na Rua de Santa Catarina, desejou construir duas casas de habitação num único edifício nesse mesmo terreno. As obras deste projecto tiveram início em 1937 e foram acompanhadas pelo engenheiro Amândio Duarte Pinto. 

Existiu uma alteração do projecto original no andamento das obras, em 1938, mas no geral seguiu-se a orientação pré-definida da arquitectura desta moradia que apresenta dois espaços distintos de habitação. É um edifício que segue as linhas da Art Deco e não deixa de apresentar uma certa imponência, virado para o mar, com duas entradas junto à Avenida de Montevideu.


O mesmo edifício de habitação tem estado vazio de residentes durante bastante tempo e sabe-se que foi motivo de um litígio, quando as suas plantas foram requeridas em 1990 e novamente em 1998. Permanece abandonado e actualmente está para venda, assim, como a moradia vizinha, construída numa década posterior.

27/03/2014

O Destino da Fábrica do Cobre


O destino do complexo fabril da antiga Sociedade Portuguesa do Cobre continua a ser incerto. Situada em Campanhã, junto da Circunvalação e muito próxima da cidade de Rio Tinto, permanece como um local vazio e degradado. Há fábrica abandonadas do norte a sul do país, muitas das quais são hoje em dia autênticas carcaças, testemunhas tristes e silenciosas de tempos em que o sector económico de Portugal foi dominado pelo sector industrial. A cidade do Porto não é disso excepção e o estado completamente arruinado da Fábrica do Cobre deixa-nos desolados.


Não vale a pena fingir que esta ampla carcaça fabril é tão emblemática quanto a antiga Fábrica de Cerâmica das Devesas ou quanto o antigo Matadouro Industrial de Campanhã (que certamente necessitam de ser reabilitados), ou que a sua recuperação é de todo prioritária para a nossa cidade. Também é certo que uma das melhores soluções para o reaproveitamento do complexo passa pela demolição das paredes ainda existentes (referimos isto com algumas reticências). Mas nas mãos de particulares também questionamos porque nunca se ponderou fazer uso da estrutura já existente da fábrica, reabilitando-a dentro do possível, e projectado uma função completamente diferente e ainda assim rentável.


O destino da Fábrica do Cobre tem de ser fatal, tal como a antiga Fábrica de Sabão de Lordelo do Ouro, recentemente demolida para combater o tráfico e o consumo de droga?

Uma das últimas notícias dá conta que a SONAE colocou à venda o terreno da fábrica em 2010 pelo preço de 10 milhões (anos após a rejeição da Câmara Municipal do Porto da transformação da fábrica num novo hipermercado). O objectivo determinaria que o local em questão serviria para habitação ou instalação de serviços de comércio, mas desde então nunca mais o terreno foi vendido ou se fez coisa alguma.


Deixamos a questão ao leitor: O que faria com todo este complexo arruinado se tivesse meios para investir e reaproveitá-lo? Deixe-nos a sua sugestão, por favor.

25/03/2014

Fábrica do Bonfim Nº326


Em 1882, o industrial Carlos da Silva Ferreira requer licença para construir o Nº326 da Rua do Bonfim, junto à sua já existente fábrica de fiação e tecelagem de algodão (uma entre várias situadas na mesma rua), que funcionava com pouco mais de uma dezena de funcionários. O Nº326 servia então de habitação junto à fábrica e apresentava uma fachada nobre, imponente, carecterística da época, com altos janelões rectangulares, uma alta porta e vários gradeamentos trabalhados em ferro.

Já em 1901, quando a fábrica já passara para a direcção de Manuel Pinto de Azevedo, é requerida uma nova licença para ampliá-la. A fábrica voltará a sofrer uma nova ampliação em 1916 e, vinte anos depois, amplia-se de tal maneira que toma conta do interior do edifício, com o intuito de melhorar as condições de higiene e trabalho dos seus operários, contando com projectos dos arquitectos Manuel da Silva Passos Júnior e Leandro de Morais, ambos discípulos de Marques da Silva, com a participação dos engenheiros Mário Borges e Jorge Vieira Bastian.

Manuel Pinto de Azevedo é um dos maiores empreendores da sua época e este edifício testemunhou-o. Criou um autêntico império industrial e destacou-se na sua actividade política, bem como a preocupação social pelos seus operários. Se não tivesse sido o forte investimento deste industrial, a Rua do Bonfim, bem como a freguesia, jamais seria a mesma. 

Edifício Nº328 - 334 da Rua do Bonfim


No ano de 1868, o proprietário Serafim Ribeiro apresentou a sua proposta para a construção do actual edifício que ocupa vários números entre o 328 e o 334 da Rua do Bonfim para servir de habitação. Serafim Ribeiro era fiscal e pertenceu à mesa administrativa da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Senhor do Bonfim e Boa-Morte. Em 1883, residindo já naquele edifício, pede licença para o acréscimo de um segundo piso com terraço e portais em arco quebrado.

Mais tarde, o conjunto habitacional foi adquirido pelo industrial Manuel Pinto de Azevedo, dono empreendedor da antiga Fábrica de Tecidos do Bonfim, que em 1921 realiza obras de pintura e substitui a telha primitiva (o muro ameado ao lado, que indica uma propriedade que pertence actualmente ao colégio D. Dinis contém azulejos com a descrição "Fábrica do Bonfim Manoel Pinto d'Azevedo"). O edifício permaneceu nas mãos da família de Pinto de Azevedo desde então. Não se destaca apenas pelos portais de arco quebrado do último piso, como apresenta uma fachada coberta de azulejos azuis e brancos em contraste com o vermelho das molduras das janelas e das portadas.

24/03/2014

Palacete da Rua do Bonjardim


Em 1906, Custódio José da Costa, morador na Praça da Trindade, pede licença para a construção de um notável palacete tipo chalet na sua propriedade junto da Rua do Bonjardim. Encomendou o desenho da obra ao engenheiro António Rigaud Nogueira, igualmente responsável pelo projecto de outro palacete semelhante no Nº1316 da Rua de Santa Catarina (que é posterior).

Neste terreno terá existido outro prédio, que foi demolido para dar lugar a este palacete com influências e traços neogóticos, do qual é mais característico o torreão de planta hexagonal. Rasgado por dezenas de janelas, contendo ainda varandas com balaustradas, a nível decorativo destaca-se pelos azulejos verdes que cobrem todas as fachadas e os trabalhos em ferro forjado dos gradeamentos que já sugerem uma influência da Arte Nova.


Este edifício notável já não está à venda; ao que tudo indica, felizmente, será reabilitado por particulares. 

21/03/2014

Casa Nº55 da Reboleira

Entre os diferentes exemplos da arquitectura civil medieval no Porto destaca-se a Casa Nº55 da estreita Rua da Reboleira que faz esquina com a Rua do Outeirinho. É de supor que seja uma habitação que deverá remontar ao século XIV (segundo se interpretam alguns elementos a nível da cave). Já a sua fachada principal, virada para a Rua da Reboleira, conjuga elementos do final da Idade Média, com portais de arco quebrado (góticos) no rés-do-chão e ameias no topo, com outros elementos do barroco que indicam que a casa poderá ter sido transformada já no século XVII, dos quais se destacam as janelas rectangulares nos pisos superiores. 

Independentemente das suas origens (às quais não se podem apontar sempre com exactidão), a casa está fechada e demonstra sinais de abandono. A fusão entre o gótico e o barroco é singular, mas mesmo assim destaca-se pelo seu ar sombrio e lamentamos que não tenha uma utilidade, tal como a vizinha Casa-torre Nº59, que ainda conserva a maior parte dos traços característicos da arquitectura medieval do século XIV e funcione como centro de dia, de convívio e lar de idosos.


11/03/2014

Casa Neomanuelina da Foz


A Casa Neomanuelina, também conhecida por Casa do Relógio (por ter um relógio de sol incorporado) nunca deixou de atrair a curiosidade e o fascínio dos muitos visitantes que passam pela zona da Foz, na Avenida Brasil.

Fascinante e emblemática, é única na cidade do Porto. O projecto da casa terá sido desenvolvido por volta de 1907 e a sua construção prolongou-se até 1910, segundo vontade do capitão republicano Artur Jorge Guimarães e da sua mulher Beatriz. O desenho da casa é atribuído ao arquitecto José Teixeira Lopes − irmão do famoso escultor António Teixeira Lopes − igualmente responsável pelo projecto da sede do Banco de Portugal no Porto (em colaboração com Ventura Terra) e da casa do irmão (actual Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia).

Nesta casa, o revivalismo do Manuelino funde-se com os preceitos de uma bela moradia de quatro andares com um torreão central, quase palaciana, própria dos inícios do século XX. Realça-se a sua riqueza escultórica, de arcos e colunas, janelas emolduradas, a par dos magníficos azulejos com motivos dos Descobrimentos. Nos seus pormenores decorativos podemos contemplar cordames e as cruzes da Ordem de Cristo, além do relógio de sol que lhe deu o nome.


A questão é: Como pode uma casa tão emblemática permanecer neste estado, votada ao abandono? Aparentemente, a viúva do capitão Artur Jorge Guimarães deixou a moradia após o falecimento do marido, tendo-a deixado para os seus herdeiros, mas terá sido ilegalmente ocupada por um sapateiro durante os anos 70 do século XX, que dela fez a sua casa e local de trabalho. O sapateiro terá negligenciado a casa e entrou em litígio com os herdeiros da casa, processo que se arrastou nos tribunais durante anos e que nunca se acabou por resolver.

O sapateiro acabou por sair da casa, mas desde então, esta permaneceu abandonada. O seu interior acabou por servir os interesses de vândalos que não o pouparam. Para maior constrangimento da situação, as nossas últimas informações dão conta que a casa chegou a estar na lista para classificação de património, mas foi retirada pelo IGESPAR em 2008, por motivos que nos são alheios. Dificilmente ficaremos alheios à tristeza que causa aos que contemplam a sua impressionante fachada, virada para o mar, à espera de uma valorização mais adequada.

06/03/2014

Quartel de S. Brás


São muitos os lugares marcantes do Cerco do Porto que opôs liberais e absolutistas em combates violentos pelo controlo da nossa cidade, entre 1832 e 1833. No entanto, o Quartel de São Brás parece ter sido esquecido como um dos pontos-chave da defesa do Porto pelos liberais, onde efectivamente existiu uma antiga fortaleza consagrada ao mesmo santo, que viria a definir o nome da artéria que é hoje a Rua de São Brás.

Mais tarde, a fortaleza transformou-se num quartel que foi sede dos telegrafistas, tornando-se mais tarde a Casa da Reclusão da 1ª Região Militar no ano de 1963. Em 1993 o quartel foi desactivado pelo Estado-Maior do Exército. A partir desse ano nunca mais foi dada função alguma ao quartel, quase tão esquecido quanto abandonado. Curiosamente chegou a albergar o valioso espólio do Museu de Etnografia do Porto, que proveio de um outro edifício também abandonado − o Palácio de São João Novo, do século XVIII.


Como presidente da Câmara Municipal do Porto, Fernando Gomes tentou estabelecer um acordo com o Ministério da Defesa em 1997 para adquirir o Quartel de São Brás e um novo acordo quase foi celebrado em 2001 para que a autarquia tivesse direito à utilização do espaço, mas tal ficou sem efeito. Nesse mesmo ano a Escola Carolina Michaelis sugeriu a instalação do Conservatório de Música no mesmo quartel. Mais recentemente, candidatos à Câmara Municipal do Porto que acabaram por ocupar o cargo de vereadores sugeriram que o quartel fosse utilizado como um espaço cultural, estando ao dispor de músicos/artistas (ora a associações, ora a agentes culturais).

O Quartel de São Brás permanece abandonado e ainda desconhecemos o que lhe reserva o futuro, apesar da notória placa que assinala a fachada do corpo principal do quartel virada para a Rua de São Brás como «Património do Estado». 

04/03/2014

Colégio Luso Internacional do Porto


Nós não percebemos o projecto de reabilitação do Colégio Luso Internacional do Porto. Aliás, ninguém parece perceber. Não se percebe se as obras avançam, ou se foram interditadas, se estão apenas interrompidas, ou se há realmente um projecto em vigor. Sabe-se apenas aquilo que já se sabia há um ano atrás, e um ano anterior a esse: as ruínas do Colégio Luso Internacional continuam a ser ruínas.

Construído no início do século XX, foi propriedade da STCP e funcionou como uma subestação de fornecimento de energia aos eléctricos da cidade. Esteve activo até 1974, ficou devoluto e foi cedido em 1986 para servir então de colégio, onde funcionou como tal durante mais de dez anos.


Quando em 2001 foram inauguradas as novas instalações do Colégio Luso Internacional, o edifício voltou a ficar sem utilidade. Foi previsto transformar-se numa discoteca e existe um projecto da mesma, do grupo K, conhecido por “Kasa da Praia”. Sempre existiram pareceres negativos ou contrários a este projecto por parte do IPPAR e o processo desenrolou-se até hoje, permitindo que o edifício chegasse ao completo estado de ruína.

No âmbito das últimas corridas de automóveis na Avenida da Boavista, em 2013, as paredes das fachadas exteriores do edifício foram pintadas. E existem todos os sinais que indicam a vontade de reabilitar o edifício desde então… Mas reabilitá-lo para se transformar no quê? Na referida discoteca? E porque as obras se arrastam de uma forma tão vagarosa? Ninguém sabe.

27/02/2014

Moradia Nº498 da Rua de Pinto Bessa


Na nossa cidade não faltam moradias únicas, cada qual com as suas características próprias, cada qual representando um pedaço valioso de história. No seu conjunto representam uma variedade enorme de estilos, muitos dos quais representativos dos últimos duzentos anos da arquitectura portuense, que contou com mestres criativos e especializados ao nível dos melhores desenhadores e arquitectos da Europa — facto que se torna ainda mais evidente no século XIX.

Talvez por não reconhecermos na interpretação pessoal e nacionalista dos nossos mestres artísticos a vanguarda que demasiadas vezes associamos aos grandes nomes franceses e alemães (entre outros), tendemos a esquecer e desvalorizar de forma injusta tudo aquilo que já se fez na nossa cidade no contexto das moradias e casas cujos elementos são muito representativos da Arte Nova combinada com preceitos muito característicos, muito nacionalistas e regionais.


A Moradia Nº498 na Rua de Pinto Bessa é um desses magníficos exemplos ecléticos, de elementos nacionais e influênciados pela Arte Nova. O arquitecto responsável pela moradia foi Francisco de Oliveira Ferreira, que foi aluno de José Marques da Silva. Do pouco que sabemos da história desta casa, podemos referenciar o ano de 1913 como o ano do início do projecto que deveria servir de habitação para Manoel de Miranda Castro, comendador residente em Paris. A obra foi acompanhada pelo seu sobrinho e procurador, o médico João Antunes Guimarães, que seria deputado entre 1935 e 1951. Aparentemente, alguns dos seus proprietários estiveram ligados ao Cine-Teatro Ódeon, que abriu ao público em 1929 na mesma rua da moradia, a curta distância.

Ignoramos se foi o seu estado devoluto o principal motivo pelo qual em 2005 a Câmara Municipal do Porto retirou da listagem do património a salvaguardar esta mesma casa, que se destaca em absoluto pelo seu torreão, pelos ornamentos elegantes, combinados com azulejos e pelas características varandas decoradas com trabalhos em ferro. A moradia esteve para ser demolida para dar lugar a um prédio de sete andares. Actualmente está à venda.

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