10/02/2016

Ruínas do Convento de Madre Deus de Monchique


É um tanto desolador constatar que um dos raros exemplos que ainda substituem da arquitectura Manuelina na cidade do Porto continua a não passar de um conjunto inacessível de ruínas que, apesar do seu valor patrimonial, poderia contribuir em muito para alterar a paisagem do declive onde Miragaia se encontra com Massarelos.

O Convento, eternizado através do célebre romance de Camilo Castelo Branco “Amor de Perdição”, foi erguido sobre uma antiga sinagoga posteriormente ocupada pela Casa de Monchique, que pertencera ao nobre Pêro Coutinho e que por não ter descendentes decidiu doar a sua propriedade a religiosas para ali erguerem um convento dedicado a S. Francisco, tendo para tal obtido autorização do Papa em 1535. É certo que já antes da bula com a autorização ter chegado a Portugal, já o paço de Pêro Coutinho estava a ser transformado numa casa conventual e parte do convento ficou concluída em 1538, quando se instalam as primeiras monjas. O mestre-de-obras do convento foi o célebre Diogo de Castilho (c. 1500 – 1574), que trabalhou no Mosteiro dos Jerónimos em Belém e na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra.


O então designado Convento de Madre Deus de Monchique estendia-se entre o cimo de Monchique até à margem do rio Douro assinalado por um complexo de edifícios. Possuía uma entrada monumental cuja estrutura ainda existe e é possível ver da Calçada de Monchique, mas que foi posteriormente alterada, lembrando a entrada de uma fortaleza medieval, só que com características do Manuelino, principalmente a nível de ameias e pináculos que são reconhecíveis do lado oposto das ruínas, a poente (a parte mais imponente contém um frontão triangular e um piso suplementar do séc. XIX que ocultaram os ornamentos originais). O convento foi ampliado entre os séculos XVII – XVIII, acabando por possuir os seus claustros ajardinados, cada qual com o seu chafariz. Teve ainda hortas e várias fontes. Já a capela-mor primitiva, foi profundamente alterada a partir de 1699.

Durante o século XIX o convento acabou por ser desactivado e dividido em dois lotes, vendidos em hasta pública. Uma parte foi adquirida por uma família inglesa enquanto o outro lote ficou em posse do negociante Clemente Meneres, que aproveitou para fazer um armazém de vinhos e uma fábrica de rolhas sem, contudo, ter destruído o corpo principal do edifício. Actualmente o Convento encontra-se abandonado e parcialmente arruinado. Também se previa reabilitá-lo para transformá-lo num hotel pela empresa agrícola que veio a tomar conta deste monumento, o que é provável que venha a acontecer, mas de momento encontra-se no triste estado em que o reconhecemos.


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