09/02/2014

Palácio de S. João Novo


Mencionado desde sempre em livros de história de arte ou do nosso património, reconhecido por historiadores do nosso país ou estrangeiros, cativante para turistas, o Palácio de S. João Novo foi atribuído durante décadas a Nicolau Nasoni. No entanto, estudos mais recentes colocaram essa teoria de parte, tendo-se atribuído o desenho da obra ao mestre António Pereira, que foi o principal arquitecto responsável pelas obras na Sé Catedral no início do século XVIII, com uma ampla actividade na nossa cidade (nem sempre reconhecida). O palácio foi erguido em 1727 para o fidalgo Pedro Costa Lima, administrador dos estaleiros da Ribeira e apresenta uma fachada elaborada.

Tal como muitos outros palácios e importantes casas do Porto, a prestigiada família que ali residia fugiu no contexto das Invasões Francesas, sendo o Palácio de São João Novo ocupado pelos franceses em 1811. Durante o Cerco do Porto serviu de hospital às tropas liberais. Após o final da guerra, o palácio foi devolvido aos seus proprietários originais, que o alugaram à Tipografia Comercial Portuense.


Nos anos 40 do século XX, o palácio foi transformado no Museu de Etnografia e História do Douro Litoral, um dos mais significativos museus da afirmação da nossa região, estando em linha com a temática educativa seguida pelo Estado Novo. Contando com o apoio de vários patronos, este rico museu que atraiu muitas visitas de estudo levadas a cabo pelas escolas, começou a dar sinais de degradação desde o início dos anos 70. Nos anos 80, o Instituto Português do Património Cultural ficou responsável pela manutenção do palácio, sofrendo com um incêndio devastador em 1984. Não intervindo de forma significativa no palácio, o mesmo instituto permitiu que a degradação aumentasse ao ponto de colocar em causa a segurança dos visitantes. 

A responsabilidade do monumento transitou do IPPC para o IPM (Instituto Português dos Museus) no ano de 1989, que teve o apoio do DGEMN para apreender importantes obras de recuperação ao nível das coberturas e da fachada. O IPM também foi responsável por salvaguardar o espólio do Museu de Etnografia, permitindo que fosse espalhado e entregue a diversos museus antes de se realizar um competente inventário.

Em 1992, o Museu de Etnografia e História fecharia para que o seu espólio (já espalhado) nunca mais fosse visto pelo público.

Temos aqui dois casos particulares, interligados: o do nosso valioso espólio que acabou por transitar entre diferentes lugares e do palácio que até hoje não foi recuperado. Esse espólio era uma colecção muito variada de valor incalculável que reunia peças arqueológicas, milhares de objectos, equipamentos e documentos relacionados com as artes, o artesanato, os ofícios, o folclore e a história da região (arte sacra, brinquedos, livros, armas antigas, peças romanas, utensílios pré-históricos, instrumentos científicos, mapas e plantas da cidade, mobiliário, etc.). Actualmente, a localização de uma parte significativa desta rara e valiosa colecção é uma incógnita.

O histórico palácio sempre atraiu a atenção dos jornais, e com essa mesma atenção surgiram as promessas das autoridades no sentido de reabilitá-lo e reaver a instituição que acolheu durante décadas. Essas promessas não se cumpriram e nem com a Porto 2001 o Palácio de S. João Novo voltou a readquirir a sua função ou dignidade.
O Palácio de S. João Novo não é apenas património classificado ao abandono. Pode ser um dos casos mais graves de completo assassinato cultural que aos habitantes da nossa região um pedaço importante e informativo da sua história, atentando contra as normas do progresso e da civilização!

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