29/02/2016

Villa Isabel



O principal problema de investigar casas históricas em territórios fora da cidade do Porto mas que ainda assim pertencem à sua área metropolitana é a ausência de arquivos mais completos ou dados e informações tão bem documentados e conhecidos como é possível de obter numa das cidades mais importantes do país. Em Gondomar, por exemplo, não há registos e licenciamentos de obras anteriores a 1951. Prende-se a isso uma desvalorização ainda acentuada pelo património e até mesmo por casas classificadas, uma monografia desactualizada, parcas investigações de historiadores locais e até um elevado nível de desinteresse que marca uma população dividida entre o provincianismo e a indignação ou a procura de identificação com o Porto, renegando o seu local de residência como «apenas um dormitório» (infelizmente, correndo o risco de ofender vários leitores, não encontramos melhores termos para descrever a situação).

O património de Gondomar enfrenta sérios riscos na ausência de medidas adequadas de defesa ou de um reconhecimento cultural local porque de facto é difícil reconhecer uma identidade local. E se há, não se distingue certamente pela ligação da sua população com o património edificado, à excepção de alguns lugares assinalados pela presença de antigas quintas ou de algum património industrial e até religioso.

Mas referimos tudo isto apenas para assinalar o problema de uma moradia singular que se encontra precisamente no centro de Gondomar, em São Cosme, numa subida para o Monte Crasto. Trata-se da Villa Isabel, assim identificada pelos seus azulejos Art Nouveau, que foi sofrendo algumas alterações ao longo dos tempos, embora seja assinalada por uma arquitectura típica do início do século XX. A fachada principal da casa detém os significativos painéis de azulejos e é possível reconhecer uma dada influência revivalista no corpo mais alto que contém a entrada principal, que lembra um torreão, com uma porta sob a varanda inspirada nas portas dos finais do século XV.



Há aqui alguns indícios que nos levam a especular que terá sido projectada pelo mesmo arquitecto ou mestre-de-obras da moradia em ruínas no alto da Carvalha em Fânzeres, em pertença da família dos Capotes, mas essa possibilidade não nos dá as respostas pretendidas, pois em comum têm apenas alguma linguagem residual das molduras simples que serviram para incorporar os vários painéis de azulejos (que provavelmente foram produzidos na mesma fábrica, a Fábrica do Carvalhinho). Mas não há (de momento) como saber a que família pertenceu a Villa Isabel, ou quem foi o seu primeiro proprietário, pois até mesmo a vizinhança não tem respostas. Encontra-se abandonada há muito tempo e é uma sorte ainda dispor da maioria dos seus coloridos azulejos com elementos floridos. Pouco ou nada se fez para preservá-la, ainda menos para classificá-la e o interesse que capta é de poucos.

A moradia está à venda, mas o seu estado visivelmente degradado parece afastar potenciais compradores. Num território onde facilmente se adulteram ou são demolidas casas com elevado valor patrimonial, (acabando-se por se ceder a vontades de investidores imobiliários ou até mesmo a cadeias de fast-food e colégios privados) é de se temer pelo futuro desta casa, que pode não ser risonho. 

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