O principal problema de
investigar casas históricas em territórios fora da cidade do Porto mas que
ainda assim pertencem à sua área metropolitana é a ausência de arquivos mais
completos ou dados e informações tão bem documentados e conhecidos como é possível
de obter numa das cidades mais importantes do país. Em Gondomar, por exemplo,
não há registos e licenciamentos de obras anteriores a 1951. Prende-se a isso
uma desvalorização ainda acentuada pelo património e até mesmo por casas
classificadas, uma monografia desactualizada, parcas investigações de
historiadores locais e até um elevado nível de desinteresse que marca uma
população dividida entre o provincianismo e a indignação ou a procura de
identificação com o Porto, renegando o seu local de residência como «apenas um dormitório» (infelizmente,
correndo o risco de ofender vários leitores, não encontramos melhores termos
para descrever a situação).
O património de
Gondomar enfrenta sérios riscos na ausência de medidas adequadas de defesa ou
de um reconhecimento cultural local porque de facto é difícil reconhecer uma
identidade local. E se há, não se distingue certamente pela ligação da sua
população com o património edificado, à excepção de alguns lugares assinalados
pela presença de antigas quintas ou de algum património industrial e até
religioso.
Mas referimos tudo isto
apenas para assinalar o problema de uma moradia singular que se encontra
precisamente no centro de Gondomar, em São Cosme, numa subida para o Monte
Crasto. Trata-se da Villa Isabel, assim identificada pelos seus azulejos Art Nouveau, que foi sofrendo algumas
alterações ao longo dos tempos, embora seja assinalada por uma arquitectura
típica do início do século XX. A fachada principal da casa detém os
significativos painéis de azulejos e é possível reconhecer uma dada influência
revivalista no corpo mais alto que contém a entrada principal, que lembra um
torreão, com uma porta sob a varanda inspirada nas portas dos finais do século
XV.
Há aqui alguns indícios
que nos levam a especular que terá sido projectada pelo mesmo arquitecto ou
mestre-de-obras da moradia em ruínas no alto da Carvalha em Fânzeres, em
pertença da família dos Capotes, mas
essa possibilidade não nos dá as respostas pretendidas, pois em comum têm
apenas alguma linguagem residual das molduras simples que serviram para
incorporar os vários painéis de azulejos (que provavelmente foram produzidos na
mesma fábrica, a Fábrica do Carvalhinho). Mas não há (de momento) como saber a que família
pertenceu a Villa Isabel, ou quem foi o seu primeiro proprietário, pois até
mesmo a vizinhança não tem respostas. Encontra-se abandonada há muito tempo e é
uma sorte ainda dispor da maioria dos seus coloridos azulejos com elementos
floridos. Pouco ou nada se fez para preservá-la, ainda menos para classificá-la
e o interesse que capta é de poucos.
A moradia está à venda,
mas o seu estado visivelmente degradado parece afastar potenciais compradores.
Num território onde facilmente se adulteram ou são demolidas casas com elevado
valor patrimonial, (acabando-se por se ceder a vontades de investidores
imobiliários ou até mesmo a cadeias de fast-food
e colégios privados) é de se temer pelo futuro desta casa, que pode não ser
risonho.
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