12/05/2016

Escola Preparatória do Cerco


O que já foi uma escola é hoje em dia mais um daqueles espaços desocupados que servem os piores propósitos que habitualmente identificamos nas áreas mais desprezadas e devolutas da cidade do Porto: extremo vandalismo ou tráfico e consumo de droga aliados a outros negócios ilícitos (acresce-se a isto a indicação de ser uma zona de prostituição, segundo quem reside nas imediações).

Tratando-se de uma área abandonada e degradada contígua à nova escola Básica e Secundária do Cerco que foi requalificada pela Parque Escolar há poucos anos, pergunta-se o que falhou para que se tornasse um conjunto decadente na qual se verificam actividades que deixam pais e educadores, bem como muitos moradores próximos, altamente alarmados e indignados. Com esta requalificação e consequente esvaziamento da velha Preparatória, previa-se em 2010 a sua apropriação por um novo centro de saúde substituto da precária Unidade de Saúde do Ilhéu, algo que não se veio a concretizar, permitindo-se que a velha escola se degradasse e sofresse os efeitos da rapina consecutiva de materiais construtivos (principalmente metálicos).




Este caso não é apenas um síndrome de desprezo pela zona oriental do Porto e por uma das freguesias mais pobres da cidade, em que o Estado (também) é fortemente culpado, mas um exemplo que na inadequação do reaproveitamento atempadamente de imóveis ou estruturas disponíveis podem-se gerar e alimentar os graves problemas que em parte a própria reabilitação pretende combater – a garantia de requalificação de bens, imóveis e equipamentos para servir adequadamente um grupo de cidadãos ou uma dada população; nunca para prejudicá-los. 

10/05/2016

Prédio Gaveto Rua Miguel Bombarda/Rua de Cedofeita



No gaveto da Rua de Cedofeita com a Rua Miguel Bombarda localiza-se um prédio muito interessante que só choca devido ao estado de degradação a que chegou. Pior do que o seu estado devoluto só mesmo o vandalismo que acabou por sacrificar muitos azulejos das fachadas que ainda os contêm, de uma viva tonalidade laranja, que chama muito facilmente a atenção e cativa a curiosidade por quem ali passa.

O prédio dispõe de várias entradas, assinaladas pelos números 139-143-145-149 ocupados por galerias comerciais ainda em plena actividade (e muito mais cuidadas) viradas para a Rua de Cedofeita, enquanto dispõe de um portão e outras entradas viradas para a Rua Miguel Bombarda, da qual se vê as suas traseiras, que acusam uma degradação praticamente generalizada. É curioso como o prédio acusa uma disposição palaciana e conjuga uma influência marcadamente neoclássica – são visíveis frontões circulares sobre as janelas em guilhotina na fachada principal virada para a Rua de Cedofeita, várias cornijas salientes em que na fachada virada para Miguel Bombarda relembram no seu encontro a parte superior de um frontão triangular e as janelas quadradas do último piso lembram mezaninos (entre outros detalhes) – com a arquitectura privada portuense característica da segunda metade do século XIX.

Cientes de que a Rua de Cedofeita foi rasgada no século XVIII por vontade de João de Almada e Melo e, tendo em conta os pormenores construtivos do imóvel, não nos admiraria que as suas origens remontam a esta época (embora seja uma hipótese que certamente levante muitas dúvidas). Ignoramos o nome do seu arquitecto, mas sabemos que a sua configuração actual resulta sobretudo das intervenções de um proprietário abastado chamado João Borges de Almeida, que aqui residiu nos anos 70 do século XIX; é João Borges de Almeida quem requere licença à câmara para construir uma cocheira nas suas traseiras em 1876, quem intervenciona nas suas fachadas no mesmo ano (tendo certamente sido o responsável por mandar revesti-las por painéis de azulejos e colocar o gradeamento nas suas varandas), e que opta por construir um muro de vedação e o portão virado para a Rua Miguel Bombarda (então designada por «Rua do Príncipe») em 1877. A crer que o prédio não tenha sido erguido senão no século XIX e que a sua construção se deva antes à vontade de João Borges de Almeida, o que acabamos de descrever será muito provavelmente um edifício “neo-almadino” e não “almadino”, como algumas das suas características podem levar a crer.

05/05/2016

Largo do Moinho de Vento



O topónimo deste velho largo corresponde à ideia de que aqui se localizava uma área rural onde se pressupõe que terá existido realmente um moinho de vento (no Largo ou nas imediações, por onde passava o antigo caminho com o mesmo nome). É provável que, tendo mesmo existido, esse moinho terá sobrevivido até meados do século XIX, data da configuração do principal edifício que ali se encontra – embora haja quem aponte as suas origens para o século XVIII.

O edifício de dois pisos que domina o largo (três, se contarmos com a pequena ampliação no piso superior), rasgados por uma série de janelas e portas numa disposição simétrica na fachada principal, onde se destacam os azulejos azuis, parece realmente corresponder a um velho solar uma quinta que existiria no local. Mas faltam-nos dados suficientes para saber essa é realmente a sua origem, mesmo sabendo que foi intervencionado e alterado com o passar dos anos, adquirindo uma disposição mais “urbana”. Sabemos que um proprietário que ali residia em 1876 optou por residir uma porta e janela no Nº4, mas ignoramos se era proprietário de todo o imóvel ou se na época já havia sido dividido num conjunto de várias habitações (entre duas a quatro).

Posteriormente, nos anos 20 do século XX são referidas as intervenções de dois diferentes proprietários que se sucederam. Todas as intervenções se referem ao Nº1 e dão-nos conta do seguinte: que José Ribeiro da Silva Pena terá reparado uma empena em 1922 e que Maia e Garcia mandou terraplanar o pavimento, colocar azulejos, caiar e pintar (os interiores, certamente) e alterar profundamente a fachada em 1923, confiando o projecto ao mestre-de-obras António Alves da Silva – é bem provável que devesse ser o (único) proprietário de todo o imóvel, embora só haja uma referência ao Nº1 e não aos restantes, pelo que os dados existentes nos causem várias dúvidas.

Pior que não saber mais sobre a sua história (do edifício e do próprio largo) é ver algo do género com uma aparência que deixa muito a desejar. O edifício, degradado e vandalizado, tem as suas entradas emparedadas; o Largo propriamente dito, que terá sofrido uma intervenção em tempos recentes, embora revele alguma preocupação em ter bancos e árvores, também deveria sofrer uma alteração mais gratificante – que ninguém julgue que é saudável tamanha disposição de locais para se sentar tão próximos de caixotes de lixo (porque não estou devidamente isolados por um muro ou a um diferente nível de pavimento?), revelando a falta de enquadramento adequado, pois entre um edifício degradado e tamanhos equipamentos, o mau aspecto e os cheiros desagradáveis causam um notável desconforto para qualquer transeunte que por ali passe. 

03/05/2016

Antigo Hotel do Louvre



Este antigo hotel localiza-se no gaveto de uma importante avenida por onde passam imensos turistas em direcção ao Museu Soares dos Reis e aos jardins do Palácio de Cristal, foi palco de um dos mais caricatos episódios históricos da nossa cidade, veio posteriormente a servir de sede a diferentes instituições de destaque ao longo de todo o século XX, e no entanto está degradado e grande parte do edifício permanece sem utilidade há vários anos.

Construído em 1863, a arquitectura do edifício acusa um eclecticismo muito próprio da época, que vai procurar a sua inspiração no neo-almadino em conjugação com as características de alguns prédios da época, incorporando varandas com elegantes gradeamentos em ferro no segundo piso (actualmente enferrujados e em risco de se perderem). É portanto um edifício muito sóbrio. Pertenceu a Gaspar Joaquim Borges de Castro, sogro do segundo conde de S. João da Pesqueira, que ali residiu e mais tarde veio encomendar diversas ampliações – principalmente em 1875, tendo coberto o seu terraço. Já nessa altura era um hotel de luxo, gerido por Maria Huguette de Melo Lemos e Alves (sua amante?), que fez dele o luxuoso Hotel do Louvre. É bem conhecida a hospedagem do imperador D. Pedro II do Brasil em 1872, que se recusou a pagar a estadia. Maria Huguette de Melo levou o caso a tribunal e chegou mesmo a viajar ao Brasil para exigir o pagamento, que foi na realidade efectuado por amigos do imperador.


Mais tarde, em 1885, foi inaugurada neste edifício a Casa de Saúde do Dr. António Bernardino de Almeida (uma das primeiras clínicas particulares da cidade do Porto). Mais tarde ainda esteve aqui também sediados o Orfeão Lusitano entre 1927 e 1930, o Sport Comércio e Salgueiros nos anos 30, o Cineclube do Porto fundado em 1945 e o Movimento Unidade Democrática (MUD) entre 1947 e 1948, até à sua expulsão pela PIDE. No final do século XX veio a ser ocupado pela Escola de Condução “A Desportiva”, que ali permaneceu até meados do início do século XXI, na altura da construção do Túnel de Ceuta. As marcas das letras e os seus autocolantes nas janelas ainda permanecem, apesar da entrada principal, de acesso ao piso superior, estar entaipada.


Cinema Batalha



Não deve existir na cidade do Porto um edifício que exprima com tamanha elegância o cruzamento entre as linhas da arquitectura Art Deco com o autêntico Modernismo e um toque mais ténue do Português Suave (acusado por um painel em relevo exterior e noutros detalhes). Classificado como Monumento de Interesse Público desde 2012 quase admira que se encontre subaproveitado e careça de um projecto que o reanime e trave a sua degradação (quase, porque se tratando de Portugal casos do género não surpreendem – ou a burocracia para intervencionar num imóvel classificado continua a ser demasiado restrita e difícil de ultrapassar, ou não se sabe bem o que se fazer quando não se dispõe de muito dinheiro para intervir, ou teme-se inovar, ou o poder local manifesta o seu desinteresse ou completa falta de visão).

Arrojado e inovador para a época, o Cinema Batalha foi projectado pelo arquitecto Artur Andrade em 1944 para substituir a sala de projecção de cinema High Life de 1908 (certamente muito influenciada pelo espírito da Bélle Époque que introduziu no Porto as linhas da Art Nouveau). De planta trapezoidal e com quatro pisos (um ocupando o espaço da cave) este imóvel dispõe de dois auditórios e espaço para bares e restaurante, tendo vindo a integrar elementos notáveis de pintura e escultura. Inaugurado em 1947, funcionou durante décadas como um dos principais cinemas do Porto, até que a construção dos novos shoppings nos finais do século XX retirou espectadores para novas salas de cinema que deixaram os antigos, como este, em risco de encerrar de forma definitiva. O Cinema Batalha fechou, pois claro, embora posteriormente o Gabinete Comércio Vivo (uma parceria entre a Associação dos Comerciantes e a Câmara) exploraram um dos seus bares e espaço de restauração, bem como a maior sala de espectáculos para eventos diversos. Mas em 2010 voltou às mãos da empresa Neves & Pascaud, que o mantém aberto e procura dele fazer uso da forma que lhe é possível.

Talvez o problema actual do Cinema Batalha não seja a falta de empenho da Neves & Pascaud ou da Câmara para do imóvel fazer algo mais, nem deve ser a sua classificação enquanto monumento que restrinja amplas intervenções no edifício para que o torne viável do ponto de vista de quem nele pretenda investir. Talvez o problema seja admitir que para recuperá-lo e torná-lo novamente atractivo o poder local e a empresa proprietária tenham de apostar conjuntamente numa intervenção que engloba o estudo e o trabalho de uma equipa multidisciplinar e uma colaboração com outras entidades (na mesma linha em que terá funcionado o Gabinete Comércio Vivo) – poderá ser algo exigente, mas não é impossível.

Quando se pensou em construir a Casa de Cinema Manoel de Oliveira foi um erro não se ter pensado neste magnífico espaço cultural do Cinema Batalha, que era bem mais adequado do que o edifício caro de Souto Moura que permaneceu fechado durante tantos anos num local afastado do centro. O mesmo se poderia dizer da nova Casa da Música projectada para a Porto 2001 – porque construir algo que custou tanto e veio a ser inaugurado tardiamente quando o Cinema Batalha, se fosse devidamente reaproveitado, dispunha na altura de um auditório promissor? E se falamos de música, porque não poderia servir também de sede para o Orfeão do Porto? Curiosamente, numa cidade que se tornou recentemente aberta à cultura, há excepção de algumas associações e iniciativas privadas, o poder local nunca pondereu ter um espaço magnífico e mais convidativo para a projecção de cinema alternativo ou independente – mesmo tendo em conta algumas restrições, porque não o Cinema Batalha?

Outras ideias e projectos para o Cinema Batalha poderiam ser equacionados e conjugados, pois uma coisa certa: independentemente do que se pense ou não em fazer, tendo em conta as vontades das diversas entidades que aqui mencionamos, não convém é que se desista de recuperá-lo e dar-lhe nova vida; permitir que se continue a degradar poderá sair bem mais caro do que um projecto arriscado para reaproveitá-lo.

29/04/2016

Cavalete do Poço de S. Vicente

Integrando o antigo complexo mineiro de S. Pedro da Cova e classificada como Monumento de Interesse Público, a estrutura não escapa aos olhos dos curiosos que visitam esta freguesia de Gondomar com características únicas.

Dispondo de seis andares, a torre-cavalete de betão armado foi projectada em 1934 e terminada em 1936 para substituir a antiga estrutura de madeira que explorava o Poço de S. Vicente, que se tornou o principal poço de extracção de carvão durante os anos 30. Ao todo teria treze pisos e na torre (de seis pisos à superfície) funcionavam as roldanas que puxavam o elevador. Tendo deixado de funcionar durante os anos 70 do século XX, permaneceu abandonado e foi-se degradando com o passar dos anos. De certa forma emblemático e valorizado pela população local, moveram-se esforços para que fosse classificado (tal veio a acontecer em 2010) e com essa intenção fosse reabilitado e protegido – tal se deve sobretudo ao Movimento Cívico em Defesa do Património Histórico-Cultural de S. Pedro da Cova.

Mas mesmo com este património agora valorizado espanta que o Cavalete do Poço de S. Vicente ainda se encontre em risco. O risco é de tal ordem que necessita de uma reabilitação urgente – caso contrário, segundo os especialistas da FEUP que conduziram recentemente um estudo para conservação desta estrutura, se nada se fizer a curto prazo, a sua degradação irreversível levará à perda de um bem que a freguesia só poderá recuperar futuramente se a reconstruirem. 

Ver também:


As Ruínas do Complexo Mineiro de S. Pedro da Cova



S. Pedro da Cova é, tal como muitos outras freguesias e territórios da Área Metropolitana do Porto, um completo diamante em bruto no qual ainda há muito a trabalhar para que futuramente se torne muito mais atractivo. Com uma actividade industrial visível, a cultura local é indissociável das velhas minas de antracite (carvão) que funcionaram desde os finais do século XVIII até aos anos 70 do século XX e das serras verdes que as separam de Valongo; tirando proveito destas duas características importantes, já se deram os primeiros passos para uma valorização substancial da freguesia com a criação do Museu Mineiro e o começo da constituição de um importante parque natural que, sendo bem gerido e devidamente reflorestado com espécies autóctones (não com a manutenção da praga de eucaliptos) prometerá causar um impacto ambiental muito positivo para o território, sem esquecer o potencial dos campos e das áreas de cultivo locais, já que S. Pedro da Cova ainda está marcado por uma ampla ruralidade.

No entanto, no muito que ainda há por fazer, admira que não sejam previstas tomadas de melhores atitudes em relação às ruínas e o conjunto de edifícios devolutos que ainda permanecem num território onde outrora laboraram activamente milhares de homens (e mulheres!) em condições extremamente duras. O desolado complexo, parcialmente ocupado por mato, está nos dias, de hoje tão silencioso quanto perigoso – quem se aventura pelo local corre sérios riscos, seja por causa do terreno incerto, seja por causa das estruturas e restos de edifícios que podem desabar a qualquer momento (nem sequer existe uma vedação ou avisos de PERIGO, impedindo crianças ou os mais incautos de ali se aproximarem).


Entre as ruínas, o que mais salta à vista é o Cavalete do Poço de S. Vicente (por onde descia um elevador de acesso às minas), uma estrutura de betão armado em forma de torre dos anos 30 do século XX. A curta distância encontra-se o que resta do antigo edifício da Lavaria (onde se procedia à lavagem do carvão), que de tão devastado que está corre a qualquer momento o risco de cair. Bem próximos localizavam-se também a Casa das Máquinas e outros edifícios de apoio, que serviam para armazenagem de vários bens, incluindo ferramentas e as famosas “zorras” que serviam para transporte de matéria-prima. O complexo incluía ainda uma cooperativa, a casa da direcção, farmácia, escola, capela, balneários, casas de lavoura e residência para trabalhadores. Outrora existia o Cabo Eléctrico que fazia a ligação por via aérea entre as minas e os depósitos na cidade do Porto, que foi desmantelado nos anos 70, após o encerramento do local, que permanece abandonado desde então.




Os antigos mineiros e grande maioria de outros colaboradores que trabalharam diariamente no complexo não são boas devido às condições desumanas a que estiveram sujeitas, mas a ideia de que todo este património permaneça abandonado, por piores que sejam as suas memórias, também lhes causa um amplo desagrado, apesar da existência do Museu Mineiro que ocupou a antiga Casa da Malta, a residência para trabalhadores oriundos de outras zonas do país. Para bem e para mal, as minas fazem parte da sua história… e da história do seu território.

27/04/2016

Casa de António Nobre e Prédio Art Nouveau



Entre os exemplos típicos de casas ou de prédios lado-a-lado degradados da cidade do Porto temos estes dois notáveis imóveis na Foz (Nºs 531 e 523, respectivamente), na Avenida Brasil, que se distinguem por dois motivos distintos: um é a casa onde residiu e veio a falecer o poeta António Nobre e o outro é um prédio elegante com uma morfologia e elementos Arte Nova (atendendo que a arquitectura Art Nouveau no nosso território é rara e muito presa a características tradicionais, este prédio revela ser bem interessante).

A casa onde veio a falecer António Nobre (1867 – 1900) permite esclarecer um detalhe no que toca ao património edificado, que é o facto de que uma casa que não revele características únicas ou dada relevância em termos de tendências da arquitectura, não deixa de ser valiosa devido à sua importância cultural e histórica. Curiosamente, a par de algumas outras casas onde vieram a residir escritores do Porto, nunca foi classificada e a Câmara Municipal não demonstra o menor interesse ou a intenção de fazê-lo – ou seja, tem demonstrado abertura para a cultura só para algumas coisas, para outras nem por isso.

Não conseguimos descobrir as origens do Nº531, onde veio a residir o poeta que felizmente ainda é relembrado por muitos, mesmo sabendo sem sombra de dúvida, de que se trata de uma casa da segunda metade do século XIX (mesmo pequena e simples, quantos não a desejariam, no local onde se encontra?). No entanto, obtemos mais informação sobre o prédio Nº523, que foi construído entre 1911 – 1912, após a demolição da casa possivelmente contemporânea da de António Nobre que a antecedeu. De fachada elaborada e de contornos elegantes, com painéis de azulejos de motivos florais dignos de apreciação, teve como proprietário António Rodrigues Cardoso e o seu mestre-de-obras foi o experiente Manuel Ferreira da Silva Janeira, residente na Foz e certamente bem conhecido na área.

O Nº523, tratando-se de uma verdadeira moradia situada num local invejável, virada para o mar, também exibe os sinais de estar desabitada há anos e não tem o gradeamento original da varanda central (que deveria ser sinuoso os restantes), mas continua bem caiada de branco e mantém de tal modo a sua beleza que nos custa acreditar que até ao momento, mesmo sendo o seu preço elevado, que não tenham surgido muitos interessados em adquiri-la.


26/04/2016

Escola Primária do Passeio Alegre



Já há mais de dez anos que o desaproveitamento desta antiga escola primária do início do século XX junto ao Passeio Alegre, na Foz do Douro, causa pena a antigos alunos e moradores próximos que a apreciam devido ao seu valor histórico e arquitectónico. Causa pena porque apesar de um dado conjunto de intenções demonstrado por diferentes executivos que passaram pela Câmara Municipal do Porto e pela Junta de Freguesia local o elegante edifício permanece abandonado.

Erguido em betão, de influência Arte Nova e com um toque claramente classicista acusado pela colunata dórica, relembra a arquitectura do antigo Matadouro Industrial (será possível atribuí-la ao mesmo ao mesmo autor que o projectou?) que, embora sendo em menor escala e obedencendo a uma planta mais estreita, parece igualmente obedecer a um plano basilical. Começou por ser um jardim-de-infância (escola infantil) já planeado em 1914, erguido a partir do ano seguinte para ser inaugurado em 1916, funcionando como colónia senatorial marítima durante os meses de Verão. Com a implantação do Estado Novo tornar-se-á a Escola Primária Nº85 – escola primária masculina (!) – e continuou a funcionar como tal até meados dos anos 90 do século XX.

Encerrada e sem utilidade, fez-se um levantamento em 1999 para aqui se instalar um Museu Vivo da Escola Primária, prevendo-se alterar e ampliar o edifício para tal (o que nos parece ridículo), mas foi um plano que não saiu do papel. Mais tarde, em 2004, previa-se a mudança da Junta de Freguesia da Foz do Douro para este edifício, mas foi mais um projecto que permaneceu na gaveta. Mais recentemente, em 2014, o actual presidente da câmara deu a conhecer a intenção de envolver esta antiga escola num projecto de total requalificação da área do Passeio Alegre, transformando-a numa «club house» dos campos de ténis que por enquanto se encontram adossados à velha Fortaleza de S. João Baptista e que deverão ser retirados e reerguidos junto à escola, mas ignoramos se esse plano virá ainda a concretizar-se.

(A Recuperação da) Fortaleza de S. João Baptista



A Fortaleza de S. João Baptista, na Foz do Douro, é um dos monumentos defensivos mais interessantes do nosso território, não só devido à sua localização privilegiada e à área compreendida, com um potencial enorme, mas devido ao seu enquadramento histórico e arquitetónico. Não sendo fácil ignorá-la, não será de admirar que a Câmara Municipal do Porto revele todo o interesse em recuperá-la (admira é que não manifeste o mesmo interesse em relação a outros monumentos de um valor patrimonial igualmente considerável, mas tendo em comparação com as últimas décadas, pelo menos evoluiu muito mais nesse sentido).

Sendo justos, na realidade o edifício que hoje vemos resulta da conjunção de dois monumentos distintos que serviram propósitos igualmente distintos: é simultaneamente religioso por enquadrar um espaço conventual beneditino com igreja (que hoje está em ruínas) e militar por englobar um conjunto de baluartes – no seu conjunto revelam parte do melhor da arquitectura portuguesa do século XVI, progressista a nível de introdução dos modelos classicistas da Renascença e progressista por ser a primeira fortaleza do território que quebrava em absoluto com os então obsoletos meios defensivos medievais para acomodar peças de artilharia. Foi a regente Dona Catarina, mãe de D. Sebastião, quem ordenou a sua construção (apesar dos protestos dos frades beneditinos aqui já estabelecidos desde o séc. XIII, vindo a perder o seu convento para a sua completa transformação e adaptação a fortaleza).

A fortaleza viria a ser sucessivamente alterada ao longo dos séculos seguintes, com melhoramentos e a inclusão de novas canhoeiras adaptadas a proteger a entrada do Douro, mas a capela-mor da igreja conventual, com a sua cúpula sextavada, sempre se manteve. No século XIX desapareceram o fosso e a ponte levadiça da fortaleza, assim como uma boa parte dos rochedos que a rodeavam, afastando-a do contacto com a foz do rio.

Actualmente, o seu estado e desaproveitamento indigna-nos. Uma igreja
renascentista em ruínas, canhões enferrujados expostos aos elementos, áreas completamente degradadas e uma manutenção básica ou muito fraca comprovam que o Estado português não sabe estimar o seu património. Sendo um local que há muito poderia ter servido de pousada ou espaço museológico (ainda não se sabe exactamente do que é feito do espólio do antigo Museu Etnográfico do Porto), se bem que não desagrada a ninguém enquanto espaço cultural aberto à literatura, música e exposições de pintura ou escultura (só precisando de maior promoção e estima), até como discoteca, a exemplo de outras fortalezas do género, serviria um melhor propósito do que algo votado à ruína.

O novo protocolo assinado entre a Câmara Municipal do Porto e o Ministério da Defesa pelo menos esclarece-nos de que realmente é possível diferentes identidades trabalharem em conjunto para reabilitar e cuidar de um monumento (ao contrário de muitas antigas desculpas que atiravam responsabilidades para cima de uns ou de outros para não se fazer absolutamente nada). Mesmo cientes de que não há dinheiro ou recursos para tudo, esperemos mesmo assim que este exemplo seja o quanto antes replicado em casos tão ou mais flagrantes… 

22/04/2016

A Reabilitação do Matadouro Industrial de Campanhã



Referenciado durante demasiado tempo como um dos monumentos mais mal-aproveitados do Porto e com sinais de degradação elevados, o futuro do antigo Matadouro Industrial de Campanhã nem sempre pareceu promissor. Faltaram ideias, faltaram vontades, faltou mais acção e fortes tomadas de medidas no sentido de valorizar um complexo com um potencial enorme cuja utilidade poderia ter tido um melhor impacto na freguesia mais oriental da cidade do Porto.

A par do Mercado do Bolhão, tratando-se igualmente de um monumento municipal e emblemático, a sua reabilitação era mais que desejada há bem mais do que uma década, sabendo-se que adiá-la só se traduziria num preço cada vez mais elevado com o passar dos tempos. Felizmente, talvez porque pela primeira vez em muitos anos a câmara municipal do Porto parece ter um presidente inteligente ou com maior visão do que muitos (somos forçados a admiti-lo), o notável edifício do início do século XX vai ganhar uma nova vida e a sua reabilitação vai-se afirmar como um dos projectos mais importantes da cidade do início do século XXI.



Apresentando-se orgulhosamente o projecto em Milão, contando com a parceria entre a CMP e a ESAD (pela primeira vez em muitos anos o poder local começa a reconhecer o valor dos designers no que toca a projectos interiores, urbanos ou para equipamento), realça-se a sua importância em termos de adaptação de um antigo edifício a um propósito cultural e económico: contará com um museu industrial, galerias para exposições, áreas reservadas a empresas criativas, espaços sociais e de lazer, além de zonas ajardinadas.

Mais que um ambicioso projecto, com ligação directa ao metro e mais próxima à zona do Estádio do Dragão, trata-se de fazer o que é justo e adequado. 


Fonte:




19/04/2016

PROJECTO RIM para Reaproveitar a Ponte Maria Pia



Embora uma alteração estrutural ou a adição de um novo tabuleiro para a emblemática Ponte Maria Pia por norma nos cause apreensão, também há que assumir que por vezes para melhor tirar partido de um monumento histórico há que saber “sair fora da caixa” e aceitar que há intervenções modernas bem pensadas em estruturas antigas que só as melhoram e as revalorizam – e foi exactamente o que pretenderam os mentores do PROJECTO RIM: o arquitecto e aluno de engenharia civil Miguel Lopes de Sousa em parceria com o colega arquitecto Rui Israel, que desejaram assim projectar uma nova via pedonal e uma ciclovia para unir as marginais do Porto e Gaia segundo um critério minimalista, vencendo o prémio do concurso de ideias do ISEP «Desafio 2016».

A ideia não nos desagrada, uma vez que o seu impacto seria reduzido e os critérios para a sua construção seriam claramente funcionalistas, além de tirar partido de um monumento classificado que merece ser reaproveitado (e bem mais estimado, diga-se). Mas em última estância deveriam ser os cidadãos do Porto a dar uma opinião final e a votar este projecto para assim reanimar a ponte que se encontra sem utilidade há demasiados anos.




Ao imaginarmos um novo tabuleiro parece óbvio questionarmos se esta adição não alterará profundamente o design único da ponte e o que poderia implicar em termos de paisagem. Em primeiro lugar isso acontece porque as imagens disponibilizadas (ainda) não nos fornecem dados suficientes para calcular o seu impacto no conjunto; mas tendo em conta a incoerência e o impacto do betão na paisagem da vizinha Ponte de S. João, um novo tabuleiro na emblemática ponte parece ser o menos – mais do que uma questão de estética, que poderia ser resolvida de vários modos, ainda para mais se prevendo minimalista, apenas declinaríamos a madeira como material de eleição porque alternativas igualmente neutras (discretas) e de melhor manutenção ou com maior resistência ao desgaste hoje em dia não faltam (placas compósitas de madeira com PVC são um mero exemplo).


Mas o mais importante desta iniciativa, além de comprovar o interesse pelo ISEP, Mota Engil e pelas Câmaras do Porto e de Gaia que a apoiaram e deram valor às ideias das mentes que por norma o nosso país desperdiça ou convida a emigrar, é realmente a adaptação da Ponte Maria Pia a um propósito de eficiência energética: neste caso englobaria a colocação de painéis solares no tabuleiro superior da ponte para produção de energia para iluminação própria – é apenas uma amostra (muita positiva, evidentemente) do potencial que esta ponte nos oferece em termos de captação de energias renováveis, algo que TODAS as outras pontes que atravessam o rio Douro deveriam conter, se existisse vontade para tal...  


Fonte:




18/04/2016

Comércio Cresce na Rua das Flores e em Sá da Bandeira



Trata-se de uma notícia do JN (do passado dia 14 de Abril) que comprova que a aposta na Reabilitação Urbana é uma mais-valia e compensa verdadeiramente. Não é por acaso que a Rua Mouzinho da Silveira, Rua das Flores e a Rua Sá da Bandeira são indicadas como as principais zonas comerciais emergentes do centro da cidade do Porto segundo a consultora Predibisa e a gestora de activos Capital Urbana.

Tendo em conta que a grave crise financeira que atravessa o nosso país ainda não cessou e que o crescimento económico ainda é lento, o que está a acontecer no Porto é mais do que resultado do empreendedorismo local, mas sobretudo de uma valorização e de uma aposta da Baixa que não tem antecedentes (tomando como ponto de partida a época contemporânea). A renovação e promoção do centro histórico, aliado ao forte interesse da Câmara Municipal – que reconheceu o potencial de converter a Rua das Flores numa via pedonal e de transformar a Praça de Lisboa junto aos Clérigos (quanto a nós, um dos projectos mais bem pensados das últimas décadas), por exemplo – permitiram que o turismo e os projectos de reabilitação dinamizassem um mercado muito próprio.


Uma vez que se trata de uma boa notícia e de um bom indicador para a cidade do Porto, talvez não haja mais a dizer senão o óbvio: esperamos que esta aposta se mantenha e se prolongue durante muitos mais anos, até ao dia em que a cidade adquira “maior brilho” e tire mais proveito de todo o seu potencial.

Jardim do Morro em Vila Nova de Gaia será Reabilitado



A Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia irá investir meio milhão de euros na reabilitação do jardim junto à serra do Pilar, criando ainda um anfiteatro ao ar livre para fins culturais.

O jardim já existe desde 1927, faz parte da área de protecção do interessante Mosteiro da Serra do Pilar e a intenção de reabilitar este espaço próximo à Ponte Luís já é antiga. Através de um estudo elaborado pelos arquitectos Francisco Saraiva e Nuno Oliveira e o arquitecto paisagista Nuno Cunha Gomes, as obras de requalificação serão para arrancar no final da Primavera e deverão terminar num prazo de quatro meses. Contará com papeleiras, bancos e novas estruturas de saneamento, prevendo-se ainda a criação de um espaço infantil e a recuperação do lago, da gruta e ainda da estátua de Diogo Cassels, fundador da Escola do Torne. No fundo, será recuperar um desenho original do horticultor Alfredo Moreira da Silva e do capitão de engenharia João Oliveira Pombeiro.

Uma notícia que comprova a importância que as câmaras municipais do nosso território estão a dar à Reabilitação Urbana e à renovação dos espaços verdes como uma mais-valia para promoção e desenvolvimento das cidades, tornando-as mais convidativas. 

Fonte:



Fábrica CUF do Freixo



Se na actualidade temos muitos motivos para lamentar o fecho e desmantelamento de muitas unidades fabris espalhadas pela Área Metropolitana do Porto que eram responsáveis pela permanência de milhares de emprego e linhas de produção emblemáticas e distintas que eram motivo de orgulho da região também lamentamos que as escolhas da sua localização e o impacto ambiental não tivessem sido as melhores. Por isso é que mete alguma pena que os terrenos da ampla e verdejante propriedade da Quinta do Freixo tivessem sido ocupadas por unidades fabris durante o século XIX que também contribuíram muito para danificar a nobre casa projectada por Nasoni e descaracterizar a paisagem que hoje pode ser uma mais-valia no aproveitamento de uma boa área da freguesia de Campanhã como exclusiva zona de campo, pensada para o turismo e lazer.

Mas se será difícil um dia interligar a Quinta do Freixo com o Parque Oriental bem próximo, estabelecendo roteiros com outras quintas e caminhos de bosques com trajectos aprazíveis seguros (esta idealização fantástica envolveria decerto uma ampla transformação urbanística e paisagística que actualmente não é possível), pelo menos as instalações fabris construídas nas imediações sempre podem servir um propósito mais apelativo e integrar-se coerentemente com o melhor que a Pousada do Porto possibilitou na zona oriental da cidade em termos de urbanismo.



Lamentavelmente, mesmo que a reabilitação do Palácio do Freixo e a Fábrica de Moagens Harmonia se apresenta como algo de magnífico, constatamos que as áreas que a rodeiam estão mal aproveitadas e ainda temos conjuntos de ruínas fabris bem próximas que dão a sensação que a Pousada do Freixo é uma ilha de distinção numa área urbana parcialmente votada ao desprezo e ao abandono, não permitindo sequer que a Marina do Freixo e o Museu da Impressa façam ampla diferença (com acessos rudes que deixam um tanto a desejar). E o caso mais próximo, quase adossado à Pousada e encarado pelos turistas que passeiam junto à margem do Douro com pasmo, é a parte correspondente à Fábrica CUF do Freixo, próxima à fronteira com Valbom (Gondomar).

Esta fábrica foi construída em 1888 pela firma Monteiro Santos & Companhia para produção de sabão e velas de estearina, destacando-se deste período de tempo a chaminé de Lino Soares Guedes. Mais tarde, em 1890, foi vendida à Companhia Fabril Douro, que manteve o fabrico de velas. Quatro anos depois é adquirida pela Companhia Alliança Fabril (CAF) que não mantém apenas a produção de estearina como reinicia a produção de sabão, optando por desactivar a fábrica entre 1896/97 para expandir as suas instalações em Lisboa. Em 1902 a Companhia União Fabril (CUF) toma posse da fábrica, reactivando-a em 1911 após uma série de obras e alterações profundas para produzir sabão e óleos vegetais.




Se em 1912 se verificam alguns problemas com a produção de sabão, depressa acabam por ser ultrapassados e a partir desse ano verifica-se um aumento positivo da produção justificando o sucessivo investimento em infraestruturas que são vão verificar ao longo das décadas seguintes, mas as remodelações mais significativas vão-se verificar a partir dos anos 60 do século XX. Um contrato de exploração é firmado entre a CUF e a Floral – Sociedade de Perfumarias e Produtos Químicos em 1967 e em sociedade exploram as instalações fabris do Freixo, pelo que não é por acaso que ainda hoje reconhecemos os logotipos da CUF e da Floral nas ruínas da fábrica. Durante os anos 80 a Floral propõe-se a adquirir a fábrica e a compra é efectuada em 1989 à CUF. Infelizmente, passados poucos anos a fábrica voltou a ser desactivada e foi adquirida pela Câmara Municipal do Porto. Desde então, mesmo com as tabuletas a anunciar «Propriedade Privada» e tudo dando a entender que é utilizada como local de arrumações da Pousada do Porto (estaremos errados?), mantém-se seriamente degradada. 

Derrocadas

As notícias que dão conta de derrocadas em edifícios devolutos não são novas e só apontam para o perigo que representam devido ao estado em que estão. Não é incomum que pedaços de pedras ou de betão das paredes se soltem e ainda menos se se tratar de partes de telhados quando falamos de edifícios velhos que estão abandonados ou sem a mínima manutenção há mais de uma década.

A legislação portuguesa ainda falha em impedir que muitos imóveis das nossas cidades acabem no abandono e na consequente degradação – tanto mais que o mesmo se regista em muitos edifícios de valor histórico que estão classificados e que se encontram nas mãos do próprio Estado! Sendo a aposta na Reabilitação Urbana muito recente, também se questiona quando irão surgir projectos e iniciativas mais criativas para que novas derrocadas de edifícios devolutos não aconteçam ou que coloquem transeuntes em risco.

O caso recente da derrocada de uma parede de um prédio na Rua do Vilar, no Porto, por acaso não fez vítimas, mas causou estragos e levou a medidas de precaução. O caso ainda mais notório e recente de um antigo armazém que chegou a ser o Hard Club em Vila Nova de Gaia por acaso não também fez vítimas, mas causou estragos ainda piores, impedindo a circulação na marginal do Cais de Gaia (e levando provavelmente a outras medidas de precaução). Sérias medidas de contingência poderia ter impedido estes incidentes.

As últimas derrocadas de paredes e muros de edifícios devolutos são atribuídas à constante chuva que tem caído sobre o nosso território e prevê-se que continuem a ocorrer… Esperemos que entretanto as autoridades responsáveis decidam que há realmente alguma medida séria a tomar antes que aconteça o pior.

Fonte:

http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2016-04-16-Derrocada-corta-transito-na-marginal-de-Gaia



13/04/2016

AVISO


Torre da Antiga Casa da Câmara/dos 24

Entre as obras mais polémicas que foram erguidas na cidade do Porto durante os anos que se sucederam à classificação do seu Centro Histórico pela UNESCO, talvez nenhuma se destaque mais do que a reconstrução da Casa-Torre da Antiga Câmara, também conhecida por Casa dos 24.

A velha torre foi erguida entre os finais do século XIV e inícios do século XV junto à primitiva muralha, reaproveitando possivelmente um dos seus cubelos originais e material construtivo disponibilizado pelo seu desmantelamento parcial, uma vez que perdera o seu propósito defensivo há muito, através da ampla expansão da cidade que ultrapassava o alto de Pena Ventosa e com a construção das Muralhas Fernandinas. Erguida em granito, coroada por ameias e de portas e janelas de arcos ogivais próprios da arquitectura gótica, não será difícil imaginar o requinte do seu interior no período medieval, com tapeçarias e peças de mobiliária magníficas. Aqui se reunia o antigo senado da câmara portuense e ficou popularmente conhecida por Casa dos 24 por aqui se reunirem os 24 representantes dos vários ofícios da cidade do Porto.

Com a mudança das reuniões da câmara para outros locais a partir de meados do século XVI, a Casa-Torre começou a servir outros propósitos, como o de cadeia e de asilo, o que não impediu que se degradasse e a ameaçar ruína.

Manteve-se abandonado durante muito tempo e o que mais lamentamos é que mesmo com as sucessivas intervenções da DGEMN a partir dos anos 30 do século XX, responsável pela reabilitação dos troços que restaram das Muralhas Fernandinas e pela Casa-Torre mais próxima (aquando do alargamento do Terreiro da Sé nos anos 40) que esta antiga torre medieval não tivesse sido também reabilitada. Manteve-se em ruínas durante várias décadas e realmente surgiu um projecto para reconstruí-la… mas como entendemos que Reconstrução não é exactamente o mesmo que Reabilitação, realmente não poderíamos ser a favor da asneira que aqui se fez – porque é de uma asneira que aqui se trata, mesmo que muitos prefiram não reconhecer o óbvio.



A Casa-Torre foi reconstruída em 2002 segundo um projecto de Fernando Távora e desde então causa desagrado aos que reconhecem a incoerência de uma obra que nunca deveria ter sido erguida num centro histórico já classificado, quando a reabilitação da torre medieval, devolvendo-lhe a traça original e a sua identidade medieval, teria sido bem mais apelativa. Claro que há quem defenda esta obra – e ainda mais por se tratar de uma obra de um arquitecto conhecido –, mas quem o faz está a negar o valor acrescentado que seria a devolução de uma torre gótica à zona da Sé e à cidade, que dispensa completamente qualquer “arranjo” moderno para expor o que há de melhor em termos expressivos, materiais e imateriais.


Nota: Com a crítica a este projecto específico não pretendemos descrever ou opinar contra a obra do arquitecto Fernando Távora, que na realidade merece um maior destaque e reconhecimento do que é dado na actualidade - não pretendemos misturar as coisas. É como se pedissemos a Júlio Pomar ou  a qualquer outro pintor da actualidade que pintasse por cima de um quadro inacabado do século XIII em lugar de restaurá-lo; por mais expressivo, original ou até genial que fosse, não deixaria de ser um atentado.

12/04/2016

Mercado de S. Sebastião



Já há algum tempo que o pequeno Mercado de S. Sebastião na Sé chama a atenção; ou melhor, não chama o tipo de atenção desejada: os visitantes e turistas que sobem ou descem a Avenida D. Afonso Henriques em direcção à Sé Catedral passam junto ao local, ocasionalmente espreitam ou fotografam, mas ainda assim raramente entram no espaço ou compram o que quer que seja.

Ao contrário do Mercado do Bolhão, que é emblemático e atraí visitantes todos os dias, mesmo no estado em que actualmente se encontra, o Mercado de S. Sebastião quase passa despercebido e afigura-se como pequeno e acanhado num espaço que a própria câmara e a freguesia que o gere reconhece que terá de ser intervencionado devido ao enorme potencial que o mesmo representa para que chame mais a atenção e os comerciantes locais possam usufruir do mesmo.

O problema do Mercado de S. Sebastião cruza-se com o desaproveitamento da própria Avenida D. Afonso Henriques que isola o primitivo bairro da Sé em lugar de funcionar como agregadora de outras áreas próximas da (antiga) freguesia. A limpeza e a retirada do arvoredo que o ocultava prometia dar-lhe maior destaque, mas não funcionou a seu favor. O edifício dos anos 90, que ainda assim não deixa de ser interessante por ser o primeiro do Porto a ter uma cobertura verde, continua a ser acanhado (pouco convidativo e quem por ali passa nem sempre percebe que se trata de um mercado), não dispõe de casa de banho, força as vendedoras a colocarem plásticos em volta das suas bancas para não estarem expostas às ventanias e já expõe vários sinais de degradação. Adicione-se a isto a desertificação do Centro Histórico registado desde há algumas décadas quando a clientela habitual são por norma residentes locais e temos aqui uma situação complexa que só um bom projecto de reabilitação urbana promete resolver – nem todos os casos são assim tão complexos, só que este é. Mas se for resolvido promete mudar muito para melhor esta área antiga da cidade.











Uma vez que já se reuniram todos os consensos mais que necessários para que a câmara municipal intervenha neste mercado, mesmo que a curto prazo só se preveja uma requalificação de melhoria de acessos e condições, só desejamos que futuramente surja um projecto de maior envolvência para que o Mercado seja muito mais apelativo, funcional e coerente com os desejos dos comerciantes, residentes e sobretudo com as normas e linhas de séculos que ditaram a exclusiva e típica arquitectura do centro histórico classificado pela UNESCO – um desafio que um sério amante do património não poderia recusar. Mas, por favor: não pensemos num novo projecto sacrificando o pouco arvoredo existente; qualquer arquitecto paisagístico, urbanista digno ou cidadão consciente que encare o imenso vazio e a posição isolacionista que se tornou a Avenida D. Afonso Henriques quando foi rasgada a meio do século passado não pode ignorar o valor que a plantação de mais árvores ou a projecção de uma alameda poderia prometer a este local.

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