A antiga fábrica de
Cerâmica das Devesas foi fundada nos anos 60 do século XIX pelo canteiro
marmorista António Almeida da Costa que fez sociedade com o notável escultor e
ceramista José Joaquim Teixeira Lopes e outros. Juntos, criaram uma das mais
importantes e bem-sucedidas fábricas de cerâmica da Península Ibérica, cujos
produtos vieram a ter uma ampla aplicação na arquitectura do nosso país. Só
para se ter em conta a sua importância, convém referir que José J. Teixeira
Lopes, principal artista da fábrica, criou um curso de desenho e modelação que
influenciou uma geração inteira de artistas, dando origem à Escola Industrial
Passos Manuel, em Vila Nova de Gaia, e servindo de inspiração para os seus dois
bem-sucedidos filhos António Teixeira Lopes (escultor) e José Teixeira Lopes
(arquitecto).
A Fábrica de Cerâmica
das Devesas tornou-se um gigantesco complexo industrial que incorporou os
melhores artistas da época. Actualmente, num único passeio pela cidade do Porto,
é possível reconhecer casas e palacetes cobertos de azulejos ou com tijolos e estatuetas
originais desta importante fábrica.
Como complexo
industrial, estendeu-se à própria Estação Ferroviária das Devesas e deu origem
a um completo bairro operário no qual residiam os seus trabalhadores. A fábrica
chegou a ter a sua própria fundição onde foram explorados objetos decorativos
em ferro. A sua loja no Porto, na Rua José Falcão, que corresponde a um palacete
revivalista islâmico, ainda conserva o que esta fábrica produziu de melhor, com
uma bela fachada revestida de azulejos neoárabes. Temos aqui o melhor exemplo
da associação entre a arte e a indústria que resultou numa grande empresa de
qualidade – uma característica que parece ser de outros tempos, quando Portugal
foi um país de maior capacidade produtiva.
A Fábrica de Cerâmica
das Devesas é no mínimo emblemática e tem espaço mais que suficiente para
servir de museu e albergar serviços ou pequenas empresas. Esteve inclusive para
ser transformada num museu em meados dos anos 80 do século XX, quando já estava
encerrada. E até o IGESPAR esteve em vias de classificá-la, nos anos 90. No
entanto, na actualidade, continua desaproveitada e é uma pena, pois toda a sua
recuperação (a par de outros locais emblemáticos como parte da Fábrica do Fojo
e a Fábrica de Santo António do Vale da Piedade) catapultaria Vila Nova de Gaia
como uma séria cidade candidata a ser classificada pela UNESCO, que só poderiam
nomear todos estes complexos no seu conjunto como o melhor dos exemplos do património
industrial da cerâmica do norte de Portugal que caracterizou toda uma época.
Tenho um post no meu blog sobre a filial da Cerâmica das Devesas na Pampilhosa do Botão na região de Coimbra. Vejam em: http://mikoslab.blogspot.pt/2013/04/devesas.html
ResponderEliminarCaro João Silvano, é com todo o prazer que apreciamos e gostamos de ler o seu post sobre a Fábrica da Cerâmica das Devesas e a sua filial. Toda a história acerca desta fábrica e relacionada com a sua actividade é longa e marcante. E até estamos dispostos a relembrar este tema, partilhando o mesmo post de blog na nossa página de facebook.
EliminarÉ com tristeza que dia após dia, mês após mês, ano após ano se vê que nada mudou na antiga Fabrica de Cerâmica das Devesas. Tive a oportunidade de fazer um estudo sobre esta unidade industrial sob a orientação da Professora Doutora Eduarda Moreira da Silva e mais tarde apresentado na Universidade do Minho, do não menos ilustre Professor José Manuel Lopes Cordeiro.
ResponderEliminarDesde esse tempo até hoje nada mudou a não ser a contínua destruição de um espaço que em muito engrandece a cidade de Vila Nova de Gaia na sua longa tradição cerâmica. A inoperância do poder político e camarário tem levado a esta situação de degradação que a continuar, irá levar ao desmoronamento total do edifício.
Faça-se justiça ao espaço e a todos os que nele trabalharam para dignificar ainda mais a cultura de Vila Nova de Gaia.