Classificado pela
UNESCO como Património da Humanidade, o centro histórico do Porto acabou por
considerado um dos principais pontos de visita a Portugal. Mas o Porto não deve
ser apenas considerado pelo centro histórico, mas igualmente pelo considerável
património que se estende muito para lá das linhas demarcadas do que seria uma
área classificada.
É difícil encarar a
cidade do Porto desconsiderando o emblemático Mercado do Bolhão, as várias
propriedades e casas do século XVIII que se situam na orla da principal malha
urbana, das antigas fábricas (algumas com séculos de existência) que marcaram o
desenvolvimento demográfico da cidade, das ilhas e das muitas habitações cuja
tipologia nos oferece um forte carácter do que deve ser apreciado no Porto.
Toda a cidade em si respira história e os exemplos que marcaram o progresso da
cidade ao longo dos tempos (habitacional, utilitária, industrial e comercial –
sem esquecer pontes, ferrovias e meios de transporte) devem ser reapreciados e
resguardados de uma forma que só uma forte vontade de manutenção, adaptação e
sobretudo de reabilitação podem apreender.
A cidade histórica não
está no seu melhor. Há demasiada degradação, abandono, ausência de manutenção e
até de reconhecimento de dados monumentos que cativam a curiosidade ao
visitante.
Parece hoje claro que a
SRU Porto Vivo não teve o melhor dos desempenhos na reabilitação da Praça dos
Cardosas e muito mais ficou por fazer, permitindo que os níveis de população
decrescessem para o início do século XX, a par de tantos prédios ainda
devolutos. Um injustificado centralismo também prejudica a afirmação de uma
área metropolitana sediada no Porto que em muito contribui em matéria de
criação de riqueza para o aumento do PIB (Produto Interno Bruto) e muito mais
poderia contribuir. O Porto continua a ter problemas de urbanismo, as praças
não tiram melhor proveito de si, o comércio tradicional agonia de dia para dia
e a própria apresentação do Mercado do Bolhão continua a ser um vexame.
Se existe alguma
vontade do município em inverter estas tendências e uma reabilitação
equilibrada e capaz de atrair maior população à cidade do Porto – e o programa
de reabilitação de ilhas assim o demonstra – por outro lado a exigência do
pagamento de IMI no centro histórico parece ser uma machadada que em tudo
limita a percepção de que há vantagens em recuperar as habitações da área
classificada pela UNESCO. A opacidade do processo elaborado pelo governo para
gerir fundos do QREN cedidos por Bruxelas também parece comprometer dadas
vontades políticas de recuperar tão valioso património – porque as típicas
habitações também devem ser encaradas como tal – que exige dispor de outras
condições para seduzir habitantes, visitantes e até, de certa forma, ajudar a
dinamizar o comércio tradicional.
Quando não há vontade
política, o que deve ser feito? Os portuenses também se devem unir pela defesa
e a afirmação da sua cidade. E não devem ser apenas os portuenses que residem
na cidade ou no centro histórico, mas igualmente os que ocupam toda uma área
metropolitana, pois o Porto, cidade histórica classificada, também é a sua
cidade.
Hoje é o dia 31 de
Janeiro e se havia uma data certa para inspirar esta reflexão no sentido de que
a cidade do Porto não deve continuar a ser desprezada certamente seria esta,
quando os portuenses se ergueram e manifestaram a sua revolta contra um dado
sistema vigente. A indignação dos portuenses ainda se justifica, face a uma
cidade que parece ter sofrido os efeitos de uma guerra, onde a procura da
resolução dos problemas económicos não vinga, a população residente diminui e a
determinação para levar a cabo toda esta recuperação reside nas mãos de uns
poucos, que certamente desejariam fazer muito mais pela afirmação do Porto.
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