Mencionado desde sempre
em livros de história de arte ou do nosso património, reconhecido por
historiadores do nosso país ou estrangeiros, cativante para turistas, o Palácio
de S. João Novo foi atribuído durante décadas a Nicolau Nasoni. No entanto,
estudos mais recentes colocaram essa teoria de parte, tendo-se atribuído o
desenho da obra ao mestre António Pereira, que foi o principal arquitecto
responsável pelas obras na Sé Catedral no início do século XVIII, com uma ampla
actividade na nossa cidade (nem sempre reconhecida). O palácio foi erguido em
1727 para o fidalgo Pedro Costa Lima, administrador dos estaleiros da Ribeira e
apresenta uma fachada elaborada.
Tal como muitos outros
palácios e importantes casas do Porto, a prestigiada família que ali residia
fugiu no contexto das Invasões Francesas, sendo o Palácio de São João Novo
ocupado pelos franceses em 1811. Durante o Cerco do Porto serviu de hospital às
tropas liberais. Após o final da guerra, o palácio foi devolvido aos seus
proprietários originais, que o alugaram à Tipografia Comercial Portuense.
Nos anos 40 do século
XX, o palácio foi transformado no Museu de Etnografia e História do Douro
Litoral, um dos mais significativos museus da afirmação da nossa região,
estando em linha com a temática educativa seguida pelo Estado Novo. Contando
com o apoio de vários patronos, este rico museu que atraiu muitas visitas de
estudo levadas a cabo pelas escolas, começou a dar sinais de degradação desde o
início dos anos 70. Nos anos 80, o Instituto Português do Património Cultural
ficou responsável pela manutenção do palácio, sofrendo com um incêndio
devastador em 1984. Não intervindo de forma significativa no palácio, o mesmo
instituto permitiu que a degradação aumentasse ao ponto de colocar em causa a
segurança dos visitantes.
A responsabilidade do
monumento transitou do IPPC para o IPM (Instituto Português dos Museus) no ano
de 1989, que teve o apoio do DGEMN para apreender importantes obras de
recuperação ao nível das coberturas e da fachada. O IPM também foi responsável
por salvaguardar o espólio do Museu de Etnografia, permitindo que fosse
espalhado e entregue a diversos museus antes de se realizar um competente
inventário.
Em 1992, o Museu de
Etnografia e História fecharia para que o seu espólio (já espalhado) nunca mais
fosse visto pelo público.
Temos aqui dois casos
particulares, interligados: o do nosso valioso espólio que acabou por transitar
entre diferentes lugares e do palácio que até hoje não foi recuperado. Esse
espólio era uma colecção muito variada de valor incalculável que reunia peças
arqueológicas, milhares de objectos, equipamentos e documentos relacionados com
as artes, o artesanato, os ofícios, o folclore e a história da região (arte
sacra, brinquedos, livros, armas antigas, peças romanas, utensílios
pré-históricos, instrumentos científicos, mapas e plantas da cidade,
mobiliário, etc.). Actualmente, a localização de uma parte significativa desta
rara e valiosa colecção é uma incógnita.
O histórico palácio
sempre atraiu a atenção dos jornais, e com essa mesma atenção surgiram as
promessas das autoridades no sentido de reabilitá-lo e reaver a instituição que
acolheu durante décadas. Essas promessas não se cumpriram e nem com a Porto
2001 o Palácio de S. João Novo voltou a readquirir a sua função ou dignidade.
O Palácio de S. João
Novo não é apenas património classificado ao abandono. Pode ser um dos casos
mais graves de completo assassinato cultural que aos habitantes da nossa região
um pedaço importante e informativo da sua história, atentando contra as normas
do progresso e da civilização!
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