Quando somos
confrontados com as mais recentes notícias de que dão conta da existência de 11
milhões de casas vazias para 4,1 milhões de sem-abrigo na Europa parece-nos
fácil resolver esta equação. Na verdade, já era fácil de fazê-la há dez ou mais
anos atrás, quando começamos a observar que as nossas cidades e os valiosos
centros históricos continham demasiadas habitações vazias, de entradas
emparedadas, e registávamos a existência de tantos sem-abrigo.
Ainda hoje observamos que é o conservadorismo a principal causa de
muitas casas (ou até edifícios públicos como antigas escolas, oficinas,
quartéis e palacetes) permanecerem ao abandono, desocupadas e não se dar uma
solução mais imediata para justificar a sua reabilitação e uso. Mais que
colocar casas vazias no mercado, sempre nos pareceu óbvia a ideia de darmos
maior sentido a projectos sociais de reutilização de edifícios que pode ir
muito para além da sua utilidade habitacional e é mais que justo afirmar que a
ocupação pura e simples por grupos que pretendem restituir dignidade e fazer
uso de espaços abandonados não pode ser visto na óptica de um estado de
ocupação pura e simplesmente anarquista, conforme descrevemos o movimento
“okupa”. Mais que ultrapassar a visão de propriedade privada que, mesmo
devoluta e inutilizada, não possa ser transgredida, convém que a nossa lei seja
mais dinâmica e as autoridades competentes encarem a utilização de edifícios
com um propósito renovador, permissivo, que funcionem sempre em prol de uma
comunidade e igualmente dos habitantes de uma cidade mesmo quando os seus
proprietários por direito não façam uso do mesmo e se permite que se degradem.
Se o movimento “okupa”
é consentido no Reino Unido e noutros países (mais conhecidos por squat) e acaba por adquirir todo o
protagonismo crítico, insubmisso e libertário, para que os edifícios vazios
acabem por ter utilidade e dar espaço a quem procura um lar quem não tem meios
ou sirvam um propósito de convívio comunitário, já não faz sentido que no nosso
país, e principalmente no Porto, não se consinta o mesmo para contrariar
“velhos hábitos” que nos legaram uma cidade cinzenta, envelhecida, vazia de
povoação e com demasiados imóveis degradados.
É inegável que o grupo
Es.Col.A e o movimento Terra Solta farão parte da história da cidade do Porto e
as suas ocupações são exemplares de um movimento que se rege pela lógica de
recuperação e a demonstra de um estado de preocupação pelas nossas cidades que
deveriam ser regidas por normas mais solidárias, integrativas, menos restritivas
e atractivas, dando espaço de intervenção livre aos cidadãos.
Gostaríamos que o termo
“ocupação livre” também fosse mais debatido para promover uma maior utilidade
dos nossos edifícios, encarando-os essencialmente como nosso património e
permitindo que seja dada uma resolução mais fácil e eficaz (não nos esqueçamos
que a isenção de IMI ou a venda de casas antigas degradadas a um preço
simbólico para posterior reabilitação são ferramentas simples) para permitir
que muitas das casas vazias do centro histórico também sejam habitadas.
Talvez já não faça mais
sentido consentir as situações degradantes, ou irónicas, de permitir o desuso
de tantos imóveis e a calamidade dos que dormem nas ruas ou de quem pretende
fazer uso dos mesmos de forma justa e criativa mas que não dispõe de recursos
para fazê-lo. E quem fala de habitações, fala do reaproveitamento de autênticos
monumentos, de fábricas ou de terrenos, para que se recupere toda uma dignidade
e se revalorize a nossa cidade.
CREIO QUE ESTÁ TUDO DITO-ESCRITO. APOIO INCONDICIONALMENTE. REPASSO.
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