Entre os exemplos
típicos de casas ou de prédios lado-a-lado degradados da cidade do Porto temos
estes dois notáveis imóveis na Foz (Nºs 531 e 523, respectivamente), na Avenida
Brasil, que se distinguem por dois motivos distintos: um é a casa onde residiu
e veio a falecer o poeta António Nobre e o outro é um prédio elegante com uma
morfologia e elementos Arte Nova
(atendendo que a arquitectura Art Nouveau
no nosso território é rara e muito presa a características tradicionais, este
prédio revela ser bem interessante).
A casa onde veio a
falecer António Nobre (1867 – 1900) permite esclarecer um detalhe no que toca
ao património edificado, que é o facto de que uma casa que não revele
características únicas ou dada relevância em termos de tendências da
arquitectura, não deixa de ser valiosa devido à sua importância cultural e
histórica. Curiosamente, a par de algumas outras casas onde vieram a residir
escritores do Porto, nunca foi classificada e a Câmara Municipal não demonstra
o menor interesse ou a intenção de fazê-lo – ou seja, tem demonstrado abertura
para a cultura só para algumas coisas, para outras nem por isso.
Não conseguimos
descobrir as origens do Nº531, onde veio a residir o poeta que felizmente ainda
é relembrado por muitos, mesmo sabendo sem sombra de dúvida, de que se trata de
uma casa da segunda metade do século XIX (mesmo pequena e simples, quantos não
a desejariam, no local onde se encontra?). No entanto, obtemos mais informação
sobre o prédio Nº523, que foi construído entre 1911 – 1912, após a demolição da
casa possivelmente contemporânea da de António Nobre que a antecedeu. De
fachada elaborada e de contornos elegantes, com painéis de azulejos de motivos
florais dignos de apreciação, teve como proprietário António Rodrigues Cardoso
e o seu mestre-de-obras foi o experiente Manuel Ferreira da Silva Janeira,
residente na Foz e certamente bem conhecido na área.
O Nº523, tratando-se de
uma verdadeira moradia situada num local invejável, virada para o mar, também
exibe os sinais de estar desabitada há anos e não tem o gradeamento original da
varanda central (que deveria ser sinuoso os restantes), mas continua bem caiada
de branco e mantém de tal modo a sua beleza que nos custa acreditar que até ao
momento, mesmo sendo o seu preço elevado, que não tenham surgido muitos
interessados em adquiri-la.
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