É uma afirmação já com
alguns anos de atraso – uma das maiores confirmações de que o Porto começou a
sair da sua Idade das Trevas (ou uma das suas Idades das Trevas, porque já
existiram várias e elas poderão sempre voltar a ressurgir) é a tolerância para
com a arte e sobretudo uma maior abertura para a cultura:«O Porto Despertou para a Arte Urbana» Trata-se de uma marca
de civilização óbvia que coloca a cidade num patamar verdadeiramente europeu.
Não deixando de estar atentos a tudo o que promete transformar o Porto (em muitos casos para o melhor), evidentemente que teriamos de assinalar a importância dos murais nesta cidade, desde o mural colectivo da Rua de Restauração que já passou por várias transformações ao mural de "D. Quixote e Sancho Pança" na Rua de Diogo Brandão e à obra expansiva de Hazul Luzah (para nomear apenas uma parte).
O despertar e a
promoção da Arte Urbana tomaram enfim repercussões assinaláveis, principalmente
a nível das pinturas murais, que finalmente deixaram de ser reconhecidas como
sinais de vandalismo (no que toca à Street
Art, por vezes as fronteiras são ténues) e a cidade ganha novas
tonalidades, quebrando de vez com o tom cinzento e sombrio que muitas das suas
áreas adquiriram por via de um vazio – vazio intelectual, vazio cultural, vazio
criativo, etc. – e devido a um conservadorismo ou a uma intolerância severa própria
da incompreensão daqueles que encaram a homogeneidade e o máximo rigor e a
ordem austera como um ideal próprio do espírito humano (curiosamente, esse é um
princípio que deve ser aplicado ao funcionalismo que deveria caracterizar o
urbanismo, a arquitectura utilitária, equipamentos, etc., mas nem por isso a
cidade do Porto é verdadeiramente funcional). O Porto há muito que carecia de
mais cor, de mais atitude e de maior expressividade que só a arte pode
conferir.
Perante o que encaramos
como um fenómeno positivo, que pode adquirir ainda maior amplitude, só
lamentamos que seja (quase) só a pintura mural a adquirir todo este
protagonismo. Certamente marcada por uma assinalável contemporaneidade falta ainda
valorizar alguns enquadramentos relacionados com o passado e com o futuro,
embora tenhamos de reconhecer que face à pintura mural, algumas intervenções
possam ser um pouco mais dispendiosas na execução e na manutenção.
Mas quando falamos de
um enquadramento passado, referimo-nos sobretudo à Azulejaria, que deveria
voltar a adquirir um maior protagonismo numa cidade onde os azulejos dotaram
fachadas mais antigas de maior beleza e apreciação (como os casos da Capela das
Almas na Rua de Santa Catarina e da Igreja do Carmo na Praça de Carlos
Alberto). Quanto a um enquadramento futuro, falamos de intervenções que não
estão apenas alinhadas com possibilidades tecnológicas mas antes com
preocupações ambientais e de renovação paisagística – por algum motivo, o Porto
ainda carece de Green Walls (Paredes Verdes) ou Jardins Verticais que
podem ajudar a absorver a poluição e a dar uma melhor aparência a muitos locais
e edifícios, tornando-se visualmente interessantes. O mesmo já se faz em várias
cidades europeias e são o fruto do trabalho de várias artistas dotados de maior
preocupação ambiental.
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