S. Pedro da Cova é, tal como
muitos outras freguesias e territórios da Área Metropolitana do Porto, um
completo diamante em bruto no qual ainda há muito a trabalhar para que
futuramente se torne muito mais atractivo. Com uma actividade industrial
visível, a cultura local é indissociável das velhas minas de antracite (carvão)
que funcionaram desde os finais do século XVIII até aos anos 70 do século XX e
das serras verdes que as separam de Valongo; tirando proveito destas duas características
importantes, já se deram os primeiros passos para uma valorização substancial
da freguesia com a criação do Museu Mineiro e o começo da constituição de um
importante parque natural que, sendo bem gerido e devidamente reflorestado com
espécies autóctones (não com a manutenção da praga de eucaliptos) prometerá
causar um impacto ambiental muito positivo para o território, sem esquecer o
potencial dos campos e das áreas de cultivo locais, já que S. Pedro da Cova
ainda está marcado por uma ampla ruralidade.
No entanto, no muito
que ainda há por fazer, admira que não sejam previstas tomadas de melhores
atitudes em relação às ruínas e o conjunto de edifícios devolutos que ainda
permanecem num território onde outrora laboraram activamente milhares de homens
(e mulheres!) em condições extremamente duras. O desolado complexo,
parcialmente ocupado por mato, está nos dias, de hoje tão silencioso quanto
perigoso – quem se aventura pelo local corre sérios riscos, seja por causa do
terreno incerto, seja por causa das estruturas e restos de edifícios que podem
desabar a qualquer momento (nem sequer existe uma vedação ou avisos de PERIGO,
impedindo crianças ou os mais incautos de ali se aproximarem).
Entre as ruínas, o que
mais salta à vista é o Cavalete do Poço de S. Vicente (por onde descia um
elevador de acesso às minas), uma estrutura de betão armado em forma de torre dos
anos 30 do século XX. A curta distância encontra-se o que resta do antigo
edifício da Lavaria (onde se procedia à lavagem do carvão), que de tão
devastado que está corre a qualquer momento o risco de cair. Bem próximos
localizavam-se também a Casa das Máquinas e outros edifícios de apoio, que
serviam para armazenagem de vários bens, incluindo ferramentas e as famosas “zorras” que serviam para transporte de
matéria-prima. O complexo incluía ainda
uma cooperativa, a casa da direcção, farmácia, escola, capela, balneários,
casas de lavoura e residência para trabalhadores. Outrora existia o Cabo
Eléctrico que fazia a ligação por via aérea entre as minas e os depósitos na
cidade do Porto, que foi desmantelado nos anos 70, após o encerramento do
local, que permanece abandonado desde então.
Os antigos mineiros e grande
maioria de outros colaboradores que trabalharam diariamente no complexo não são
boas devido às condições desumanas a que estiveram sujeitas, mas a ideia de que
todo este património permaneça abandonado, por piores que sejam as suas
memórias, também lhes causa um amplo desagrado, apesar da existência do Museu
Mineiro que ocupou a antiga Casa da Malta,
a residência para trabalhadores oriundos de outras zonas do país. Para bem e
para mal, as minas fazem parte da sua história… e da história do seu território.
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