Já há algum tempo que o
pequeno Mercado de S. Sebastião na Sé chama a atenção; ou melhor, não chama o
tipo de atenção desejada: os visitantes e turistas que sobem ou descem a
Avenida D. Afonso Henriques em direcção à Sé Catedral passam junto ao local,
ocasionalmente espreitam ou fotografam, mas ainda assim raramente entram no
espaço ou compram o que quer que seja.
Ao contrário do Mercado
do Bolhão, que é emblemático e atraí visitantes todos os dias, mesmo no estado em
que actualmente se encontra, o Mercado de S. Sebastião quase passa despercebido
e afigura-se como pequeno e acanhado num espaço que a própria câmara e a
freguesia que o gere reconhece que terá de ser intervencionado devido ao enorme
potencial que o mesmo representa para que chame mais a atenção e os
comerciantes locais possam usufruir do mesmo.
O problema do Mercado
de S. Sebastião cruza-se com o desaproveitamento da própria Avenida D. Afonso
Henriques que isola o primitivo bairro da Sé em lugar de funcionar como
agregadora de outras áreas próximas da (antiga) freguesia. A limpeza e a retirada do arvoredo
que o ocultava prometia dar-lhe maior destaque, mas não funcionou a seu favor.
O edifício dos anos 90, que ainda assim não deixa de ser interessante por ser o
primeiro do Porto a ter uma cobertura verde, continua a ser acanhado (pouco
convidativo e quem por ali passa nem sempre percebe que se trata de um
mercado), não dispõe de casa de banho, força as vendedoras a colocarem
plásticos em volta das suas bancas para não estarem expostas às ventanias e já
expõe vários sinais de degradação. Adicione-se a isto a desertificação do
Centro Histórico registado desde há algumas décadas quando a clientela habitual
são por norma residentes locais e temos aqui uma situação complexa que só um
bom projecto de reabilitação urbana promete resolver – nem todos os casos são
assim tão complexos, só que este é. Mas se for resolvido promete mudar muito para
melhor esta área antiga da cidade.
Uma vez que já se
reuniram todos os consensos mais que necessários para que a câmara municipal
intervenha neste mercado, mesmo que a curto prazo só se preveja uma
requalificação de melhoria de acessos e condições, só desejamos que futuramente
surja um projecto de maior envolvência para que o Mercado seja muito mais
apelativo, funcional e coerente com os desejos dos comerciantes, residentes e
sobretudo com as normas e linhas de séculos que ditaram a exclusiva e típica
arquitectura do centro histórico classificado pela UNESCO – um desafio que um
sério amante do património não poderia recusar. Mas, por favor: não pensemos
num novo projecto sacrificando o pouco arvoredo existente; qualquer arquitecto
paisagístico, urbanista digno ou cidadão consciente que encare o imenso vazio e
a posição isolacionista que se tornou a Avenida D. Afonso Henriques quando foi
rasgada a meio do século passado não pode ignorar o valor que a plantação de
mais árvores ou a projecção de uma alameda poderia prometer a este local.
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