Esperança há sempre.
Mas a esperança alimentada por políticos em Portugal já sabemos o que vale: um
conjunto de boas intenções, criação de (falsas) expectativas, discursos para
referir o problema através de frases «temos
de…» é «necessário fazer…»,
iniciativas várias que apontam no sentido de que se vai fazer alguma coisa e
depois, passados alguns anos, vemos que as coisas pouco evoluem ou ficam
praticamente na mesma, quando não obtém os tristes resultados que deixam muito
a desejar.
Há que relembrar que os
problemas relacionados com o Caminho Português para Santiago são complexos e
não apresentam fácil resolução, tal como os problemas relacionados com a
eficácia da Reabilitação Urbana nos Centros Históricos (que de alguma forma
também está relacionado). E para termos em conta essa complexidade ou as
dificuldades de uma total adequação do Caminho Português para Santiago a
pedestres e às circunstâncias contemporâneas que passam por roteiros antigos
tomamos como exemplo o(s) Caminho(s) para Fátima – com décadas de existência e
ainda assim parcos ou inexistentes foram os esforços de sucessivos governos
para que as principais vias se tornassem seguras, fossem bem sinalizadas ou
desviadas de locais de maior tráfego automóvel (ao contrário do esforço de
cidadãos anónimos e associações que procuram fazer a diferença). É de supor se
isto já se passa com vias que todos os anos são percorridas por centenas a
milhares de peregrinos todos os anos e com os quais se verificam constantemente
acidentes ou dificuldades, imagine-se com o Caminho Português de Santiago que o
Eixo Atlântico quer candidatar à UNESCO!
De qualquer maneira não
vamos transformar uma notícia positiva que demonstra claramente a intenção de
várias autarquias do Norte em recuperar e valorizar este Caminho em algo
suspeito ou numa falsa promessa. É preciso salientar, isso sim, que tornar este
velho roteiro transitável e funcional vai implicar mais do que uma boa
sinalização, mas sobretudo a transformação e/ou a adaptação de muitas artérias
e vias que se encontram inadequadas ou desprezadas, complementando-as com melhores
serviços de informação, MAIOR PROMOÇÃO, e um claro auxílio aos peregrinos –
nomeadamente albergues (ou seja, vai implicar variadas estratégias, escolhas,
inteira dedicação, obras, intervenções, cooperação com diferentes entidades e
projectos faseados que poderão levar bem mais do que uma década a implementar
para que se torne inteiramente funcional). E depois há as pequenas questões por
esclarecer que deveriam ser salutares:
»Será que futuramente este Caminho tornar-se-á bem mais
seguro e que exija menos esforços e menores exigências por parte daqueles que
pretendem percorrê-lo?
»Será devidamente complementado com novas vias de acesso
para fugir a locais de maior tráfego automóvel e riscos de circulação?
»Áreas urbanas por onde passa o antigo Caminho terão prioridade em termos de Reabilitação, tornando-o mais cativante e convidativo?
»Áreas urbanas por onde passa o antigo Caminho terão prioridade em termos de Reabilitação, tornando-o mais cativante e convidativo?
»Terá em conta o meio ambiente e também irá dispor de
passagens e vias arborizadas ou minimamente salvaguardas para que os peregrinos
sejam poupados aos fumos e gases de tubos de escape automóvel ou à poluição
citadina?
»A reabilitação prevista da Circunvalação e de outras estradas principais na Área Metropolitana do Porto terá em conta passagens
preparadas ou adaptadas a este Caminho?
»Prevê-se que todo o Caminho possa conter uma longa
ciclovia, adequando-o também a ciclistas?
»O Caminho Litoral Português para Santiago terá em conta o
Caminho para Fátima, os problemas de segurança que presentemente apresenta e
ambos poderão ser fundidos num só?
»Estas vias que compõem o Caminho serão privilegiadas e
para além de uma sinalética própria o seu piso apresentará um padrão facilmente
identificável e coerente com as necessidades de caminhantes (mas também de
ciclistas) e ainda assim coerentes com os locais e centros históricos pelos
quais passam?
De momento, são questões sem resposta.
É óbvio que esta notícia não diz só respeito ao Porto ou
à sua área metropolitana, mas tendo em conta os esforços de outros municípios
do Norte do país em recuperar acessos e melhorar a sinalética para o velho
Caminho Português de Santiago, já era mais que altura do Porto começar a dar
também o exemplo – começando pela Sé e o rico Centro Histórico que a envolve.
Fonte:
https://www.publico.pt/local/noticia/valorizacao-do-caminho-de-santiago-com-apoio-do-governo-1727498
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