Se na actualidade temos muitos motivos
para lamentar o fecho e desmantelamento de muitas unidades
fabris espalhadas pela Área Metropolitana do Porto que eram responsáveis pela
permanência de milhares de emprego e linhas de produção emblemáticas e
distintas que eram motivo de orgulho da região também lamentamos que as
escolhas da sua localização e o impacto ambiental não tivessem sido as
melhores. Por isso é que mete alguma pena que os terrenos da ampla e verdejante
propriedade da Quinta do Freixo tivessem sido ocupadas por unidades fabris
durante o século XIX que também contribuíram muito para danificar a nobre casa
projectada por Nasoni e descaracterizar a paisagem que hoje pode ser uma
mais-valia no aproveitamento de uma boa área da freguesia de Campanhã como
exclusiva zona de campo, pensada para o turismo e lazer.
Mas se será difícil um
dia interligar a Quinta do Freixo com o Parque Oriental bem próximo, estabelecendo
roteiros com outras quintas e caminhos de bosques com trajectos aprazíveis seguros
(esta idealização fantástica envolveria decerto uma ampla transformação
urbanística e paisagística que actualmente não é possível), pelo menos as
instalações fabris construídas nas imediações sempre podem servir um propósito
mais apelativo e integrar-se coerentemente com o melhor que a Pousada do Porto
possibilitou na zona oriental da cidade em termos de urbanismo.
Lamentavelmente, mesmo
que a reabilitação do Palácio do Freixo e a Fábrica de Moagens Harmonia se
apresenta como algo de magnífico, constatamos que as áreas que a rodeiam estão
mal aproveitadas e ainda temos conjuntos de ruínas fabris bem próximas que dão
a sensação que a Pousada do Freixo é uma ilha de distinção numa área urbana
parcialmente votada ao desprezo e ao abandono, não permitindo sequer que a
Marina do Freixo e o Museu da Impressa façam ampla diferença (com acessos rudes
que deixam um tanto a desejar). E o caso mais próximo, quase adossado à Pousada
e encarado pelos turistas que passeiam junto à margem do Douro com pasmo, é a
parte correspondente à Fábrica CUF do Freixo, próxima à fronteira com Valbom
(Gondomar).
Esta fábrica foi
construída em 1888 pela firma Monteiro
Santos & Companhia para produção de sabão e velas de estearina,
destacando-se deste período de tempo a chaminé de Lino Soares Guedes. Mais
tarde, em 1890, foi vendida à Companhia Fabril
Douro, que manteve o fabrico de velas. Quatro anos depois é adquirida pela Companhia Alliança Fabril (CAF) que não
mantém apenas a produção de estearina como reinicia a produção de sabão, optando
por desactivar a fábrica entre 1896/97 para expandir as suas instalações em
Lisboa. Em 1902 a Companhia União Fabril
(CUF) toma posse da fábrica, reactivando-a em 1911 após uma série de obras e
alterações profundas para produzir sabão e óleos vegetais.
Se em 1912 se verificam
alguns problemas com a produção de sabão, depressa acabam por ser ultrapassados
e a partir desse ano verifica-se um aumento positivo da produção justificando o
sucessivo investimento em infraestruturas que são vão verificar ao longo das
décadas seguintes, mas as remodelações mais significativas vão-se verificar a
partir dos anos 60 do século XX. Um contrato de exploração é firmado entre a
CUF e a Floral – Sociedade de Perfumarias
e Produtos Químicos em 1967 e em sociedade exploram as instalações fabris
do Freixo, pelo que não é por acaso que ainda hoje reconhecemos os logotipos da
CUF e da Floral nas ruínas da fábrica. Durante os anos 80 a Floral propõe-se a
adquirir a fábrica e a compra é efectuada em 1989 à CUF. Infelizmente, passados
poucos anos a fábrica voltou a ser desactivada e foi adquirida pela Câmara
Municipal do Porto. Desde então, mesmo com as tabuletas a anunciar «Propriedade
Privada» e tudo dando a entender que é utilizada como local de arrumações da
Pousada do Porto (estaremos errados?), mantém-se seriamente degradada.
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