05/02/2016

Ruínas de Prédio-Fábrica na Rua da Bandeirinha



Do que resto do que outrora chegou a ser uma fábrica destinada a refinação de açúcar, torrefação de café e produção de chocolate é a sua bela fachada que dá conta de várias décadas de utilização (e provavelmente com propósitos diferentes) até cair no abandono. Não sabemos (ainda) a sua história recente; apenas de que está em ruínas «há uma dúzia de anos (?)» e que só passa despercebida por se situar na estreita e pouco frequentada Rua da Bandeirinha.

Apesar de tão pouco sabermos sobre o seu passado recente, conhecemos as suas origens. Antes de ser um prédio, com a actual configuração, foi na verdade um local ocupado por outros destinados a habitação. É preciso referenciar que esta rua tem séculos e uma ocupação muito antiga e assim o confirma a antiguidade de alguns edifícios presentes (séc. XVII – XVIII) e a história da freguesia de Miragaia, que revela a existência de habitações de pescadores e da população judaica neste arrabalde. No entanto, o passado mais remoto que conhecemos do terreno onde se situa o prédio em questão fala-nos de uma proprietária de nome Felismina Adelaide Rodrigues Aires de
Gouveia que em 1883 constrói aqui um primeiro prédio, cujos números indicam que seria bem mais estreito do que o actual (ou do que resta dele). Posteriormente, já em 1920 outro proprietário chamado Abel de Lacerda constrói outro prédio mesmo ao lado do mais antigo (erguido por Dona Felismina). Mas passados apenas três anos, em 1923, o empreendedor Tomás Augusto Ferreira é que adquire ambos os prédios e constrói sobre ambos o edifício que ocupará parte do antigo prédio de Dona Felismina e o de Abel de Lacerda, tencionando ali construir a sua fábrica. 

Como fachada de fábrica é sugestiva. Dá ideia de ser um palacete embelezado por alguns elementos vegetalistas de influência barroca que contrastam com a restante austeridade do edifício, contrária à opção de usar os mesmos detalhes em painéis de azulejos segundo a moda da Belle Époque (anterior à deste período de transição, que vai passar a incorporar uma linguagem mais severa, sem contudo abdicar de alguns ornamentos com toques de revivalismo, e abrir caminho à Art Deco). Mas é provável que a própria fachada tenha sido idealizada numa data posterior à instalação da própria fábrica e alguns registos comprovam que Tomás Ferreira alterou o seu projecto várias vezes entre 1923 e 1924, contando com o apoio do mestre-de-obras Justino de Fontes Santos - e sempre se referindo às suas alterações posteriores como «prédio» e não como fábrica.

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