Do
que resto do que outrora chegou a ser uma fábrica destinada a refinação de açúcar,
torrefação de café e produção de chocolate é a sua bela fachada que dá conta de
várias décadas de utilização (e provavelmente com propósitos diferentes) até
cair no abandono. Não sabemos (ainda) a sua história recente; apenas de que está
em ruínas «há uma dúzia de anos (?)»
e que só passa despercebida por se situar na estreita e pouco frequentada Rua
da Bandeirinha.
Apesar
de tão pouco sabermos sobre o seu passado recente, conhecemos as suas origens.
Antes de ser um prédio, com a actual configuração, foi na verdade um local
ocupado por outros destinados a habitação. É preciso referenciar que esta rua
tem séculos e uma ocupação muito antiga e assim o confirma a antiguidade de
alguns edifícios presentes (séc. XVII – XVIII) e a história da freguesia de Miragaia,
que revela a existência de habitações de pescadores e da população judaica neste
arrabalde. No entanto, o passado mais remoto que conhecemos do terreno onde se
situa o prédio em questão fala-nos de uma proprietária de nome Felismina
Adelaide Rodrigues Aires de
Gouveia que em 1883 constrói aqui um primeiro
prédio, cujos números indicam que seria bem mais estreito do que o actual (ou
do que resta dele). Posteriormente, já em 1920 outro proprietário chamado Abel
de Lacerda constrói outro prédio mesmo ao lado do mais antigo (erguido por Dona
Felismina). Mas passados apenas três anos, em 1923, o empreendedor Tomás
Augusto Ferreira é que adquire ambos os prédios e constrói sobre ambos o edifício
que ocupará parte do antigo prédio de Dona Felismina e o de Abel de Lacerda,
tencionando ali construir a sua fábrica.
Como
fachada de fábrica é sugestiva. Dá ideia de ser um palacete embelezado por
alguns elementos vegetalistas de influência barroca que contrastam com a
restante austeridade do edifício, contrária à opção de usar os mesmos detalhes
em painéis de azulejos segundo a moda da Belle
Époque (anterior à deste período de transição, que vai passar a incorporar
uma linguagem mais severa, sem contudo abdicar de alguns ornamentos com toques
de revivalismo, e abrir caminho à Art
Deco). Mas é provável que a própria fachada tenha sido idealizada numa data
posterior à instalação da própria fábrica e alguns registos comprovam que Tomás
Ferreira alterou o seu projecto várias vezes entre 1923 e 1924, contando com o
apoio do mestre-de-obras Justino de Fontes Santos - e sempre se referindo às suas alterações posteriores como «prédio» e não como fábrica.
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