O que têm em comum
distintos monumentos como a Igreja do Convento de S. Francisco (séc. XIV), o
Hospital de Santo António (séc. XVIII), a Igreja da Trindade (séc. XIX) e o
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (séc. XIX)? À partida pouco ou
nada, à excepção que alguns dos edifícios referidos são assinalados por uma
arquitectura de influência neoclássica e que todos são erguidos em granito. E é
precisamente sobre o estado do granito que tencionamos analisar.
Todos estes monumentos
assinaláveis do Centro Histórico do Porto têm as suas fachadas em granito e
representam claros problemas relacionados com filmes negros (e não só) que lhe dão uma aparência suja, castanha
ou verdadeiramente negra – em última análise sombria. Parece que só falta alguém gritar «LIMPA-ME A FACHADA» ou
pelo menos escrevê-lo nas paredes do mesmo que muitas vezes se fez o mesmo nos
vidros dos carros cujos ou completamente cobertos de poeiras («Limpa-me, Porco»). E é evidente que não
são os únicos que apresentam os mesmos casos, que podem ser reconhecidos em
vários prédios antigos e até na já na antiga Alfândega; nem nos podemos
esquecer que o próprio edifício dos Paços do Concelho também teve a mesma
aparência durante muitos anos (vários cidadãos até ficaram surpreendidos por
descobrir que a tonalidade do granito do edifício da Câmara era cinzento e não
dourado/acastanhado).
Estamos então aqui
diante de um problema de poluição que contamina o granito que é o material de
eleição da própria cidade. Mas é também um problema de conservação ou da
ausência de alguma vontade de zelo por parte das autoridades responsáveis pelo
nosso património (relembrando que não estamos propriamente a apontar o dedo à
Câmara Municipal, pois tratam-se de monumentos em pertença do Estado ou da
Igreja Católica, que por qualquer motivo mal-esclarecido nem sequer paga IMI).
São edifícios que não estão vazios nem devolutos mas que ainda assim dão uma
péssima imagem à cidade. Terão de ser intervencionados mais cedo ou mais tarde
(esperemos que não seja demasiado tarde) e realmente o município deveria
pronunciar-se em relação a esta sujidade,
que causa maiores problemas na pedra do que à partida estão à vista – no caso
do Hospital de Santo António e na Igreja do Convento de S. Francisco a acidez
dos filmes negros está por detrás de
outros, nomeadamente no desgaste da pedra e na presença de fissuras ou
infiltrações que podem incorrer em maiores danos.
É evidente que há mais
de duzentos anos atrás estes problemas não eram identificados na cidade e que
até mesmo composta por muitas vielas de ruas estreitas onde o Sol quase não
penetrava o granito de das fachadas tinha melhor tonalidade. Não nos é
difícil imaginar a Igreja do Convento de S. Francisco e o Hospital de Santo
António com as suas fachadas compostas por pedra de tonalidades mais claras ou
cobertas de líquenes (é que ao contrário do que muitos julgam, a presença de
líquenes é uma boa indicadora da qualidade do ar). Felizmente não faltam meios
para limpar o granito e devolver maior sobriedade a todos estes monumentos, mas
face à inércia de quem deveria ser responsável por denunciar esta situação ou
para intervir, parece que esta aparência sombria é para continuar… E o Porto
não pode continuar assim.
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