10/02/2016

(A Falta de) Ideias para Reaproveitar as Cabines Telefónicas

As velhas cabines telefónicas públicas vermelhas foram uma marca da cidade do Porto do século XX, continuando a funcionar até tempos recentes, acabando por perder protagonismo com a massificação dos telemóveis. Actualmente, as poucas que existem no centro da cidade estão vazias e degradas, sem nenhuma utilização. Permanece o debate acerca da sua remoção, mas os que são a favor da sua retirada ignoram que estão a alienar não só uma pequena parte da história da sua cidade como um equipamento que deveria ser revalorizado e reaproveitado para outro tipos de funções na mesma medida em que os antigos quiosques continuaram a funcionar.

As cabines telefónicas vermelhas são também um sinal da influência britânica no Porto, assim como as velhas caixas de correio cilíndricas da mesma cor (qualquer visitante irá reconhecer de imediato o mesmo modelo numa visita a qualquer cidade do Reino Unido). Estas cabines foram desenhadas por Sir Giles Gilbert Scott em 1936, designadas então como Modelo K6, mas conhecidas no seu país de origem por «Jubilee Kiosk» (Quiosque do Jubileu). Giles Gilbert Scott era um notável arquitecto de profissão, mas ficou imortalizado no Reino Unido pelo design desta cabine telefónica clássica.

Numa nação marcada pela ávida protecção e defesa do seu património é perfeitamente natural que em 1988 tenham surgido manifestações públicas de desagrado contra a sua substituição por novas unidades como intencionava a British Telecom. E não é por acaso que, mesmo perdendo a sua utilidade em prestação de serviços telefónicos, tenham surgido nos últimos anos no Reino Unido novas ideias para reaproveitar as amadas cabines – muitas das quais têm sido utilizadas para ter máquinas de café e fazer outras prestações de serviços que se transformaram em lucrativos negócios, como as que têm equipamentos para engraxadores de sapatos que as alugam. E isso para não descrever as que já têm painéis solares com equipamentos para carregar telemóveis e tablets (as “Solarbox”) e, no caso das vilas e zonas rurais mais isoladas, algumas até já têm desfibrilhadores para casos de paragem cardíaca. E todo esse interesse pelo reaproveitamento das cabines obsoletas para funções distintas aumentou a partir do momento em que surgiram várias campanhas de publicidade que se traduziram num sucesso no Reino Unido.

Fora do Reino Unido, mas com outros modelos de cabines desactivadas, os EUA – nomeadamente em Nova Iorque – foram pioneiros em instalar pontos de wi-fi com internet gratuita e rápida além de ecrãs onde é possível encontrar informações sobre a cidade, fazer chamadas gratuitas e recarregar baterias via USB (infelizmente esse modelo levou mesmo à substituição completa das cabines, mas é uma ideia do que é possível fazer com as unidades, reaproveitando-as para outras utilidades de interesse público).

Já em Lisboa algumas cabines telefónicas foram utilizadas como pequenas bibliotecas – ideia que também surgiu no Reino Unido, mas já se chegou a debater a possibilidade de reutilizá-las igualmente como pontos de wi-fi gratuitos. O que é curioso é que alguns comerciantes e donos de cafés também já se lembraram de explorar as mesmas cabines como pequenos pontos de venda, enquanto vários cidadãos já se lembraram de que seriam ideais para implementar pequenas máquinas de venda automática (de café, artigos alimentares e até de preservativos).

Estas e outras ideias poderiam ser facilmente implementadas. O que não se compreende é como uma câmara municipal aberta a novas soluções tecnológicas para resolver problemas da cidade ainda não promoveu nenhum concurso aberto a designers (e não só) para desenvolver uma ideia para reaproveitar estas cabines abandonadas – que até dão uma má imagem. Não estamos contra a iniciativa de servirem de telas para arte urbana – até deveria ser menos discriminada e levaria a uma nova interpretação de um bem histórico da cidade, desde que fosse reaproveitado – o que nos aborrece é que permaneçam num estado de desprezo e desaproveitamento, abrindo caminho à sua degradação. 

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