As velhas cabines
telefónicas públicas vermelhas foram uma marca da cidade do Porto do século XX,
continuando a funcionar até tempos recentes, acabando por perder protagonismo
com a massificação dos telemóveis. Actualmente, as poucas que existem no centro
da cidade estão vazias e degradas, sem nenhuma utilização. Permanece o debate
acerca da sua remoção, mas os que são a favor da sua retirada ignoram que estão
a alienar não só uma pequena parte da história da sua cidade como um
equipamento que deveria ser revalorizado e reaproveitado para outro tipos de
funções na mesma medida em que os antigos quiosques continuaram a funcionar.
As cabines telefónicas
vermelhas são também um sinal da influência britânica no Porto, assim como as
velhas caixas de correio cilíndricas da mesma cor (qualquer visitante irá
reconhecer de imediato o mesmo modelo numa visita a qualquer cidade do Reino
Unido). Estas cabines foram desenhadas por Sir Giles Gilbert Scott em 1936,
designadas então como Modelo K6, mas
conhecidas no seu país de origem por «Jubilee
Kiosk» (Quiosque do Jubileu). Giles Gilbert Scott era um notável arquitecto
de profissão, mas ficou imortalizado no Reino Unido pelo design desta cabine telefónica clássica.
Numa nação marcada pela
ávida protecção e defesa do seu património é perfeitamente natural que em 1988
tenham surgido manifestações públicas de desagrado contra a sua substituição
por novas unidades como intencionava a British
Telecom. E não é por acaso que, mesmo perdendo a sua utilidade em prestação
de serviços telefónicos, tenham surgido nos últimos anos no Reino Unido novas
ideias para reaproveitar as amadas cabines – muitas das quais têm sido
utilizadas para ter máquinas de café e fazer outras prestações de serviços que
se transformaram em lucrativos negócios, como as que têm equipamentos para engraxadores
de sapatos que as alugam. E isso para não descrever as que já têm painéis
solares com equipamentos para carregar telemóveis e tablets (as “Solarbox”)
e, no caso das vilas e zonas rurais mais isoladas, algumas até já têm
desfibrilhadores para casos de paragem cardíaca. E todo esse interesse pelo
reaproveitamento das cabines obsoletas para funções distintas aumentou a partir
do momento em que surgiram várias campanhas de publicidade que se traduziram
num sucesso no Reino Unido.
Fora do Reino Unido,
mas com outros modelos de cabines desactivadas, os EUA – nomeadamente em Nova
Iorque – foram pioneiros em instalar pontos de wi-fi com internet gratuita e rápida além de ecrãs onde é possível
encontrar informações sobre a cidade, fazer chamadas gratuitas e recarregar
baterias via USB (infelizmente esse modelo levou mesmo à substituição completa
das cabines, mas é uma ideia do que é possível fazer com as unidades,
reaproveitando-as para outras utilidades de interesse público).
Já em Lisboa algumas
cabines telefónicas foram utilizadas como pequenas bibliotecas – ideia que
também surgiu no Reino Unido, mas já se chegou a debater a possibilidade de
reutilizá-las igualmente como pontos de wi-fi
gratuitos. O que é curioso é que alguns comerciantes e donos de cafés também já
se lembraram de explorar as mesmas cabines como pequenos pontos de venda,
enquanto vários cidadãos já se lembraram de que seriam ideais para implementar
pequenas máquinas de venda automática (de café, artigos alimentares e até de
preservativos).
Estas e outras ideias
poderiam ser facilmente implementadas. O que não se compreende é como uma
câmara municipal aberta a novas soluções tecnológicas para resolver problemas
da cidade ainda não promoveu nenhum concurso aberto a designers (e não só) para
desenvolver uma ideia para reaproveitar estas cabines abandonadas – que até dão
uma má imagem. Não estamos contra a iniciativa de servirem de telas para arte
urbana – até deveria ser menos discriminada e levaria a uma nova interpretação
de um bem histórico da cidade, desde que fosse reaproveitado – o que nos
aborrece é que permaneçam num estado de desprezo e desaproveitamento, abrindo
caminho à sua degradação.
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