É um tanto desolador
constatar que um dos raros exemplos que ainda substituem da arquitectura Manuelina
na cidade do Porto continua a não passar de um conjunto inacessível de ruínas
que, apesar do seu valor patrimonial, poderia contribuir em muito para alterar
a paisagem do declive onde Miragaia se encontra com Massarelos.
O Convento, eternizado através
do célebre romance de Camilo Castelo Branco “Amor de Perdição”, foi erguido sobre uma antiga sinagoga
posteriormente ocupada pela Casa de Monchique, que pertencera ao nobre Pêro
Coutinho e que por não ter descendentes decidiu doar a sua propriedade a
religiosas para ali erguerem um convento dedicado a S. Francisco, tendo para
tal obtido autorização do Papa em 1535. É certo que já antes da bula com a
autorização ter chegado a Portugal, já o paço de Pêro Coutinho estava a ser
transformado numa casa conventual e parte do convento ficou concluída em 1538,
quando se instalam as primeiras monjas. O mestre-de-obras do convento foi o
célebre Diogo de Castilho (c. 1500 – 1574), que trabalhou no Mosteiro dos
Jerónimos em Belém e na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra.
O então designado
Convento de Madre Deus de Monchique estendia-se entre o cimo de Monchique até à
margem do rio Douro assinalado por um complexo de edifícios. Possuía uma
entrada monumental cuja estrutura ainda existe e é possível ver da Calçada de Monchique,
mas que foi posteriormente alterada, lembrando a entrada de uma fortaleza
medieval, só que com características do Manuelino, principalmente a nível de
ameias e pináculos que são reconhecíveis do lado oposto das ruínas, a poente (a
parte mais imponente contém um frontão triangular e um piso suplementar do séc.
XIX que ocultaram os ornamentos originais). O convento foi ampliado entre os
séculos XVII – XVIII, acabando por possuir os seus claustros ajardinados, cada
qual com o seu chafariz. Teve ainda hortas e várias fontes. Já a capela-mor
primitiva, foi profundamente alterada a partir de 1699.
Durante o século XIX o
convento acabou por ser desactivado e dividido em dois lotes, vendidos em hasta
pública. Uma parte foi adquirida por uma família inglesa enquanto o outro lote
ficou em posse do negociante Clemente Meneres, que aproveitou para fazer um
armazém de vinhos e uma fábrica de rolhas sem, contudo, ter destruído o corpo
principal do edifício. Actualmente o Convento encontra-se abandonado e
parcialmente arruinado. Também se previa reabilitá-lo para transformá-lo num
hotel pela empresa agrícola que veio a tomar conta deste monumento, o que é
provável que venha a acontecer, mas de momento encontra-se no triste estado em
que o reconhecemos.
0 comentários:
Enviar um comentário
(Reservamo-nos ao direito de remover opiniões que, repetidamente, contenham comentários considerados ofensivos e descontextualizados.)