Não é exemplo único, mas um entre os vários conjuntos de
habitações com décadas de existência que se encontram vazios de proprietários e
com as entradas entaipadas. Este excepcional conjunto de moradias é
paradigmático do que poderia ser considerado emblemático e digno de ser
classificado como Imóvel de Interesse Público na nossa cidade. Ignoramos o
motivo pelo qual as moradias se encontram devolutas e sem residentes. Sabemos
apenas que a Câmara Municipal do Porto não se absteve de salvaguardar uma parte
valiosa dos painéis de azulejos que outrora percorreram os frisos da parte mais
antiga do conjunto, azulejos esses de estilo Arte Nova e reconhecidos como
provenientes da célebre Fábrica de Sacavém (um painel desses mesmos azulejos
pode ser admirado no Banco de Materiais da Câmara).
Aplaudiremos sempre a iniciativa de salvaguardar tão
preciosos elementos históricos como os nossos azulejos, mas permitir a completa
degradação de moradias como estas é que não. Mais uma vez somos levados a crer
que a vontade de desenvolver novos conceitos de habitação social não alberga
casas antigas com possibilidade de integrar mas apenas e sobretudo blocos de
apartamentos que formam os bairros de exclusão que estão comummente afastados
do centro de uma cidade cada vez mais deserta (a reabilitação da Ilha de S.
Vítor e o programa daí decorrente parece ser a única excepção à regra).
Independentemente de se tratar de um conjunto privado ou não,
o poder local não deveria permitir que um conjunto de habitações que poderia
ser lar de várias famílias chegasse a este deprimente estado. E reabilitá-las
enobrecia esta área da Rua 5 de Outubro, já que o conjunto foi inteiramente uma
obra de dedicação do seu primeiro proprietário, que pediu licença para as
construir nos anos 20.
Foi em 1922 que José de Passos Mesquita pediu licença de
construção das primeiras moradias geminadas (supomos que para arrendar) neste
local, correspondentes aos números 527, 535, 543 e 551, rasgadas por elegantes
janelas e com típicos gradeamentos que juntamente com os azulejos enalteceriam
o conjunto. Será no ano a seguir que José de Passos Mesquita se dedica às obras
de ampliação e modernização das mesmas, acrescento barracões e lugares de
garagem nas traseiras das mesmas. Foi um projecto faseado. Em 1930 dá início à
construção de mais quatro moradias geminadas, em tudo similares às primeiras,
contando com um projecto assinado pelo arquitecto Inácio Pereira de Sá (provável
responsável pelo projecto do primeiro conjunto de moradias dos anos 20),
correspondendo aos números 559, 567, 575 e 583, que dispõem de frisos de
azulejos diferentes (serão igualmente provenientes da Fábrica de Sacavém?). Só
em 1933 é que estas habitações ganham lugares de garagem nas suas traseiras,
facilmente acedidas através da Rua Moreira de Sá.
Desagrada-nos muito o estado devoluto e o desaproveitamento
de todo o conjunto que já se perpetua há demasiados anos – faz-nos antever o
pior em relação ao futuro destas moradias, como se fossem mais um pedaço de
história pronto a ser devastado para dar lugar a outros empreendimentos contrários aos interesses de uma sociedade que protege e cuida do seu património.
Essas casas foram compradas por um empreiteiro, nos anos 90, para construir um bloco de apartamentos, como outros que edificou na rua de 5 de Outubro. O projecto, contudo, não foi aprovado pela CMP. Mais tarde, foram retiradas duas ou três fileiras de telhas junto às fachadas principais de todas as habitações, o que era observável a partir do viaduto de Pedro Hispano. O resultado está à vista.
ResponderEliminarAdorei o blog, os artigos, a informação!
ResponderEliminarMuito bom parabéns!