O local ocupado pelas
ruínas da Central Termo-Eléctrica do Freixo esteve durante muitos anos na posse
do Estado (a bem dizer, da REN/EDP) que, mesmo perante o seu desmantelamento e
consequente desaproveitamento, teve sempre reticências em vendê-lo a privados,
apesar do antigo interesse da antiga Mota
& Companhia (actual Mota Engil) em adquiri-lo e do potencial notável
que apresenta tendo em conta a vista privilegiada que detém sobre um dos mais
assinaláveis meandros do rio Douro.
A origem desta Central
Termo-Eléctrica abandonada data do início do século XX, mais precisamente do
ano de 1919, quando a empresa espanhola Electra del Lima ergue a sua
sub-estação nesta colina de Campanhã próximo à Rua do Freixo, no lugar de Rego-Lameiro.
O primeiro edifício da subestação receptora e transformadora erguido pela
empresa espanhola seria diminuto em relação ao complexo que se desenvolveria
durante os anos seguintes em cooperação com a UEP (União Eléctrica Portuguesa,
que estaria na origem da EDP), mas em 1922 já poderia ser reconhecido como um
dos introdutores da linguagem Art Deco
a par da Casa de Serralves (1925) que viria a definir a arquitectura das
ampliações que se seguiriam (alguns reconhecerão, sem dúvida, também uma disposição
ecléctica, se bem que estilizada, em combinação da Art Deco com elementos da arquitectura medieval).
Mais tarde, a partir de
1926, perante a vontade da UEP em erguer uma central térmica, foram erguidas a
Casa das Caldeiras e a Casa das Máquinas, concluídas durante a primeira metade
dos anos 30, acompanhando desse modo a expansão de distribuição de
electricidade, em linha com o aumento de produção e da demanda de energia das
indústrias têxteis, vidraceiras, cerâmicas e fundições (entre outras), não
tendo sofrido muito com a crise que se iniciou em 1929. O complexo ampliado,
que ostentava orgulhosamente o logotipo da União Eléctrica Portuguesa, também
dispôs de uma Oficina de Montagem e Manutenção de Transformadores e do Edifício
das Bombas (embora já existisse uma primitiva casa das bombas da Electra del
Lima que aproveitava as águas do rio Douro). Hoje em dia só restam as ruínas da
Casa das Máquinas e o Edifício das Bombas (junto à marginal), em linha com a
arquitectura que definiu o diferente conjunto de blocos construtivos, segundo o
harmonioso projecto de 1927 do engenheiro José Bernardo Corte Real.
O complexo foi
actualizando-se ao longo das décadas que caracterizaram o Estado Novo,
sobretudo a nível social, com a inclusão de um refeitório e de uma cozinha para
os seus funcionários e de dispor de serviços médicos e apoios a partir dos anos
50, mas o seu mais significativo projecto de modernização deu-se a partir do
início dos anos 70, com a introdução de novos equipamentos e de uma série de
avanços tecnológicos, do qual resta também um edifício acrescentado durante
essa época, já distinto devido à sua linguagem modernista. Convém ainda frisar
que a primitiva central térmica já se encontrava desactivada desde os anos 60,
mas os restantes edifícios ainda se encontravam em funcionamento e o complexo
obteve algumas ampliações mesmo durante esta década, o que não impediu a
demolição polémica da parte norte da fábrica aquando da sua modernização
durante o ano de 1972 (o que é de lamentar), marcando o início do fim desta
estação.
No decorrer da
Revolução de Abril de 1974, as principais empresas de electricidade foram
nacionalizadas e incorporadas na EDP. Esta estação não sobreviveria durante
muito mais tempo e viria a perder importância e a encerrar definitivamente a
sua actividade. O que realmente lamentamos é que passados tantos anos ainda se
encontre no mesmo estado, mesmo com a recente inclusão na ARU de Campanhã por
iniciativa da Câmara Municipal do Porto, sem que entretanto se tenha dado maior
valor ao património que representa e como poderia servir outros propósitos,
passando pela área do comércio, de hotelaria ou até mesmo da habitação.
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