Há locais e arruamentos
na cidade do Porto tão singulares quanto típicas, que se demarcam pelas suas
histórias e pelas memórias de cidadãos, cidadãos esses muitas das vezes
anónimos, mas que se demarcam pela vontade em dar voz – e alma! – aos
acontecimentos que marcaram lugares nesta cidade que mereciam ser mais bem
preservados e reconhecidos que actualmente são encarados com uma tristeza
nostálgica por aqueles que os conheceram em tempos de maior actividade e
animação, quando a desertificação do centro urbano ainda era ficção científica.
Há muita coisa que
gostaríamos de contar e relatar sobre o Largo do Camarão, principalmente
naquilo que se basearia em relatos vivos de quem já aqui residiu ou quem se
lembra de como era outrora, quando não era ocupado por tantos veículos
automóveis, quando as crianças da zona brincavam no exterior ou jogavam futebol
(curiosamente o termo mais adequado é quando «jogavam à bola»), ou quando a vizinhança se encontrava após um dia
de trabalho e conversavam ou ainda se reuniam para ir ao S. João às Fontainhas
entre outras centenas de ditos e histórias que marcaram este lugar.
Infelizmente, por mais extensivo que fossemos, seria difícil ser justo para
quem ainda pretende incluir uma memória ou um acontecimento neste local – só tudo
o que envolve o seu passado e a dos moradores dava para ocupar centenas de
páginas de um blogue (e não, não estamos a exagerar).
Já há muito que
estávamos para descrever o Largo do Camarão, cuja toponímia até é bem
conhecida: um dos seus mais distintos moradores durante o século XVII era
Manuel Gonçalves, de alcunha Camarão,
nome que veio a prevalecer para identificar o local. E tanto assim era que o
Recolhimento das Viúvas Pobres de Nossa Senhora das Dores que ali foi fundado
no século XIX ficou popularmente conhecido por Recolhimento do Camarão.
Ao longo dos tempos o
largo foi sofrendo alterações e parte dos prédios ali existentes, que datam
então da época em que a cidade se expandiu fora de muralhas, sobretudo entre os
séculos XVII – XVIII, acabaram por ser demolidos para dar origem a novas
edificações (tanto assim que há registos que o mesmo tenha vindo a acontecer
durante o século XIX e inícios do século XX). No entanto, não podemos deixar de
frisar o conjunto composto por quatro prédios típicos com vários sinais de
degradação que se encontram neste largo. O seu estado deixa muito a desejar…
0 comentários:
Enviar um comentário
(Reservamo-nos ao direito de remover opiniões que, repetidamente, contenham comentários considerados ofensivos e descontextualizados.)