Para
quem costuma passear pela cidade do Porto, seja de carro ou a pé, não é
invulgar encontrar duas casas ou dois prédios, lado a lado, abandonados e
devolutos (até há exemplos de quatro ou cinco). Chamamos a esse fenómeno
«Contágio Duplo» que, pela força de vários motivos que merecem ser estudados,
leva-nos muitas vezes a confundir dois prédios como um só, principalmente
quando a sua arquitectura não é muito distinta ou interpretamos dois casos
distintos como se tratasse de algo único.
Esta
confusão é justificável em muitos casos – ainda mais se julgarmos que duas
casas ou dois prédios contíguos, idênticos, pertenceram ao mesmo proprietário.
Mas no que toca ao exemplo de duas habitações na Avenida Fernão de Magalhães
(os números 1207 e 1212 – 1216) não deveria haver margem para este género de
equívocos. Cada uma apresenta diferentes características, já que são de épocas
diferentes, embora não sejam completamente dissonantes entre si. Antes se diria
que existiu uma procura de coerência no mais novo imóvel, que corresponde aos
números 1212 e 1216.
Não
sabemos quem foi o primeiro proprietário ou o arquitecto responsável pelo
Nº1207, que apresenta alguns gradeamentos interessantes. A referência mais
antiga desta casa refere uma proprietária, Eufrásia da Costa Gonçalves
Vasconcelos, mas já é dos anos 30 e percebemos que fez obras de manutenção numa
casa com já várias décadas de existência, datando possivelmente da mesma altura
de abertura da Avenida Fernão de Magalhães (mas continuaremos a investigar para
ver se descobrimos mais).
Em
relação à casa com os números 1212 – 1216 dispomos de mais informação, que em
termos históricos, principalmente no que toca à História da Arquitectura do
Porto, é relevante. Um dos seus proprietários foi o arquitecto Mário Augusto Ferreira
de Abreu, a cuja autoria correspondem alguns dos prédios mais notáveis da
primeira metade do século XX situados na freguesia do Bonfim (e não só). O
outro proprietário da casa (pois possuiu duas habitações separadas, ao
contrário do que seria de esperar) era João Soares de Bastos, enquanto o
principal técnico da obra foi o engenheiro Joaquim Mendes Jorge. Foi construída
no ano de 1935 e reconhece-se uma ténue influência Art Deco (ou mais um vestígio
severo) que podemos identificar noutros prédios da cidade, como os muito
similares Nºs 32 – 36 da Rua de Brás Cubas da autoria de Mário Augusto Abreu, o
que nos leva a concluir que esta casa foi desenhada precisamente pelo seu
proprietário arquitecto.
0 comentários:
Enviar um comentário
(Reservamo-nos ao direito de remover opiniões que, repetidamente, contenham comentários considerados ofensivos e descontextualizados.)