Desde há alguns anos
que os habitantes do Alto de Soutelo, na freguesia de Fânzeres em Gondomar,
lamentam o estado de declínio de uma casa em particular que sempre se destacou
na Avenida da Carvalha – é comummente referida como a «antiga casa dos Capotes». Este nome chamou-nos a atenção, tanto
mais que os descendentes desta família ainda são conhecidos por esta
designação, tanto em Fânzeres como em Rio Tinto (já que o Alto de Soutelo ocupa
a fronteira entre as duas freguesias e os “Capotes” foram donos de propriedades
que ocupam esta área). Ainda hoje se debate entre os cidadãos se «Capote» é uma
alcunha ou um nome próprio, embora a importância que este nome adquire para o
nosso blogue diz respeito à história desta casa.
A importância da
família para o local em questão corresponde precisamente ao “primeiro Capote”,
comprovando-se, através de registos monográficos de Fânzeres, que se tratava da
alcunha de José Martins Marques, que acabou por acompanhar os seus
descendentes. José Martins Marques Capote
era, por seu lado, herdeiro desta moradia que se presume ter sido erguida pelos
seus pais algures entre os finais do século XIX e inícios do século XX, que já
eram donos da fábrica ao lado, assinalada também por ruínas e um velho portão
enferrujado, de acessórios para a indústria têxtil que já funcionava por volta
de 1880. Mais tarde, em meados dos anos 30 do séc. XX, José Martins Marques
instala na mesma avenida, em frente à sua casa, uma fábrica de produção de
tecidos, expandindo o seu negócio, tornando-se uma das indústrias mais
importantes do território.
Hoje em dia já não
existe nenhuma fábrica ligada à indústria têxtil no alto da Avenida da
Carvalha. A mais antiga, assinalada pelas ruínas, chegou a ocupar uma oficina
automóvel durante os anos 80 que resistiu até aos primeiros anos do séc. XXI (e
já nessa altura havia perdido todo o seu «brilho»). A fábrica em frente deixou
de funcionar também e foi inteiramente demolida em 2004 para dar lugar a um
prédio de habitação que dispõe de várias galerias comerciais. A bela moradia
ainda resistiu… Ou foi resistindo, mediante o abandono (chegou-se a especular
que seria motivo de litígio entre os herdeiros). Apesar do seu valor
patrimonial, em termos históricos mas igualmente a nível de arquitectura e da
azulejaria encontrava-se desclassificada (ainda se encontra!) e desprotegida, o
que veio a facilitar o incêndio em Maio de 2013 que a destruiu e a
transformasse no triste monumento que é hoje – um monumento em ruínas.
Mais recentemente,
acompanhando o crescimento de mato incontrolado que agora envolve o que resta
das ruínas, foram retirados (roubados?) os painéis de azulejos que eram
visíveis no exterior da casa. Muito provavelmente são provenientes da antiga
Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho (mas não tivemos como o comprovar). Nas
áreas superiores os painéis eram bastante coloridos, de influência Arte Nova, com composições de flores. Na
fachada principal, virada para a avenida, destacavam-se como elo de ligação
entre as janelas da cave e do primeiro piso painéis de azulejos policromados,
azuis, com a representação das margens do Douro e de barcos rabelos.
0 comentários:
Enviar um comentário
(Reservamo-nos ao direito de remover opiniões que, repetidamente, contenham comentários considerados ofensivos e descontextualizados.)