Ainda hoje se debate se
o estado de abandono avançado que resultou na completa degradação de uma das
mais interessantes partes do imenso complexo da EFANOR de Matosinhos e do seu
magnífico motor e parte de uma turbina a vapor é um crime contra o património
industrial da região. Um crime algo irónico, pois representa apenas uma pequena
parte de um complexo quase inteiramente demolido para dar lugar a outros
empreendimentos que não pareceu ferir as susceptibilidades dos que defendem a
protecção de vestígios industriais emblemáticos ou com décadas de existência,
mas que permitiu de certa maneira a “preservação” de um bem digno de
apreciação.
A história da EFANOR
(Empresa Fabril do Norte), bem conhecida, remonta a 1904 através da visão do
empresário Delfim Pereira da Costa, que a inaugurou em 1907 para a produção de
carrinhos de algodão para coser e bordar – pelo que ficou também conhecida pela
Fábrica dos Carrinhos da Senhora da Hora. O seu trabalho foi posteriormente
seguido pelo empreendedor Manuel Pinto de Azevedo (que está injustamente
relacionado com outros imóveis degradados já descritos neste blogue – sobretudo
na Rua do Bonfim), que adquire a fábrica em 1922. Representativa de uma era de
importante desenvolvimento industrial do nosso país, a EFANOR chegou a ter mais
de 3000 trabalhadores e foi pioneira tanto em maquinaria como no apoio social
concedido aos operários, que além de um bairro com dormitórios incluía uma
creche para os seus filhos e até um complexo desportivo, jamais descurando
ainda a garantia de cuidados médicos e amplos refeitórios para alimentar os
colaboradores.
É certo que os seus
trabalhadores passaram por tempos muitos difíceis ao longo dos tempos, mas a
machadada final ocorreu nos anos 90 do século XX, quando o complexo fabril encerrou
de vez na transição para uma era em que a China ganhou maior protagonismo na
produção têxtil e a União Europeia abriu os seus mercados para escoamento dos
seus produtos com as garantias fiscais com as quais indústrias têxteis dos estados-membros
como o nosso nunca (ou dificilmente) poderiam competir.
Histórias à parte, o
Colégio EFANOR, que é propriedade da SONAE, ainda ocupa o edifício
administrativo da antiga fábrica, mas o pequeno edifício da tintura, com a sua
visível chaminé e rasgado por amplos janelões, mais não é do que uma trágica
ruína que se destaca na paisagem. Aparentemente, o contrato com a Fundação de
Serralves para a instalação de um pólo no local ainda não permitiu que (o que
resta d)o edifício e a sua maquinaria sejam poupados à acção do tempo.
Recentemente, a Câmara
Municipal de Matosinhos demonstrou todo o interesse em dar um passo em frente
para auxiliar e agilizar o seu processo de reabilitação enquanto intervém na
requalificação do espaço envolvente.
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