Em cima: Fotografia da Avenida dos Aliados nos Anos 60 do séc. XX. Nota-se a alternância de vegetação com a Calçada à Portuguesa.
Pode parecer um assunto digno de controvérsia, de debate ou até polémico, mas quando se está do lado de quem protege a integridade do Património e da valorização de espaços históricos, não se pode olhar para a actual Avenida dos Aliados e compará-la com a antiga sem se referir à mesma senão como um processo de destruição.
José Marques da Silva e
Barry Parker idealizaram juntos uma das avenidas mais elegantes da Europa que
se destacava não só por incluir edifícios emblemáticos que transmitiam o melhor
do Eclectismo e das Beaux-Arts, como tiveram ainda a visão de valorizar o seu
conjunto de praças revestidas com a típica Calçada à Portuguesa (que já está em
extinção no Porto e foi retirada de todas as praças históricas). Não tiveram
problemas em adicionar-lhes elementos verdes e bancos de jardim que convidavam
as pessoas a passear e desfrutar do local.
Infelizmente, o que
aconteceu durante uma época em que existia mais dinheiro para alterar praças do
que para reabilitar edifícios classificados (e emblemáticos) devolutos, a
Avenida dos Aliados sofreu um atentado de quem pouco sabe valorizar o que há de
mais notável e exclusivo numa cidade. As justificações foram várias – mas
podemos contra-argumentá-las (e eventualmente iremos fazê-lo mais tarde) – mas
não convenceu todos. Na verdade, não convence historiadores, não convence
artistas, não convence visitantes ou turistas que se lembram de como era a
anterior avenida, não convence os que realmente apreciam grandes nomes da
arquitectura portuense como José Marques da Silva, não convence arquitectos
paisagistas ou urbanistas que dão maior importância à aprazibilidade e
mais-valia ambiental do espaço, não convence metade (ou até mais) dos cidadãos
do Porto.
Podemos apontar o erro
a vários responsáveis, mas não vamos só citar o que é óbvio. As Praças
Históricas já notabilizadas deveriam ser classificadas
e protegidas! E a velha Calçada
Portuguesa – que até pode ser reinventada – também deveria ser mais valorizada.
O que vemos hoje na Avenida dos Aliados é uma paisagem estéril, pobre e incoerente
com a sua própria história que uns teimarão em defender apenas porque se trata
de um projecto de Siza Vieira e Souto Moura (esquecendo-se que os próprios arquitectos
manifestaram o seu descontentamento quando a própria Câmara desconsiderou a
colocação de mais árvores nas praças como intencionavam, nomeadamente carvalhos
e bordos); mas se tivesse sido obra de alguém menos conhecido, maior teria sido
o protesto e apontavam o que seria evidente.
É por isso que, tomando
conhecimento de que a Fundação Marques da Silva e a Câmara Municipal do Porto assinalam no dia 1 de Fevereiro, pelas 19 horas, o centenário do lançamento da obra da Avenida dos Aliados somos levados a questionar: Vale a pena comemorar o que já foi destruído?
0 comentários:
Enviar um comentário
(Reservamo-nos ao direito de remover opiniões que, repetidamente, contenham comentários considerados ofensivos e descontextualizados.)