12/01/2016

Primeiro-Ministro Destaca Papel da Reabilitação Urbana para Relançar a Economia

Se não dissesse respeito à cidade do Porto, talvez não o mencionássemos. Em primeiro lugar, há que admitir: Sim, o Porto está muito melhor do que estava há alguns anos. Uma tolerância maior para a Cultura, um esforço maior no sentido da Reabilitação de edifícios emblemáticos como o Mercado do Bolhão e o Antigo Matadouro Industrial de Campanhã (entre outros projectos), uma maior cordialidade com os moradores dos bairros sociais e das ilhas (que se tencionam igualmente reabilitar), um esforço mais elevado no acompanhamento dos interesses dos cidadãos, uma promoção ainda maior da cidade e o desenvolvimento do relacionamento com outras autarquias leva-nos a concluir que o Porto está a abandonar a sua "Idade das Trevas"; mas como tudo o que se entende por política nada é a preto e branco.

Em matérias de construção, ainda hoje custa lidar com a realidade dos grandes projectos de betão que marcaram Portugal nas últimas décadas quando se faltou a outras responsabilidades. Temos boas redes de autoestradas que saíram caras ao Estado (a todos nós) para não dizer de uma vez que nunca passaram de projectos ruinosos devido às famosas PPP’s enquanto as nossas cidades e muito do nosso património caiu no esquecimento a ponto de se transformarem num cenário quase “apocalíptico” que muito nos envergonha e continuam a contribuir para uma má imagem no que toca a zelar por aquilo que é nosso.

Devido ao desmazelo (quase) completo do Estado e do seu relacionamento com a maioria dos municípios durante as últimas décadas, até mesmo a «extraordinária energia» do Porto ainda não é suficiente para restituir muito do que foi perdido (até mesmo em termos de população) e que se encontra degradado. Este discurso do “é preciso apostar na reabilitação urbana” já tem anos e pouco ou nada se fez nessa matéria que fosse assim tão impactante — continuamos a viver a realidade do “tanta gente sem casa/tanta casa sem gente” aliada à falta de um novo paradigma para a Habitação Social (!), a ausência de esforços mais urgentes e de vontade para proteger património essencial que poderia marcar pela diferença se fosse reabilitado (Fábrica da Cerâmica das Devesas, Antigo Museu de Etnografia do Porto), aumentam-se os riscos da especulação imobiliária, a ausência do IMI dos centros históricos ou de áreas de protecção histórica/comércio tradicional continua a ser em muitos aspectos uma miragem, o urbanismo e a circulação automóvel continuam marcados por erros, é preciso ter em atenção a escassez de árvores nalgumas áreas e de falta de protecção de espécies autóctones, praças que na sua essência são feias e pouco aprazíveis (essencialmente por erros da Porto 2001, mas também sempre pusemos em causa a desfiguração da Avenida dos Aliados) e muitos outros aspectos que ainda têm de ser debatidos.

Por outras palavras, a “energia” do Porto provém de um esforço, mas de um esforço que não pode ser apenas substanciado por palavras ou planos e ideias de respostas fáceis — o empenho do Estado e a sua cooperação podem ser cruciais para resolver uma larga maioria dos problemas. Vale a pena acreditar que só a aposta por si só na reabilitação urbana resolverá tudo quando problemas sociais/económicos, culturais, legislativos e até ambientais continuam a limitar ou a causar transtorno à adequação do peso que esta reabilitação terá nos próprios cidadãos? Ou a discussão em torno do que pode potenciar a reabilitação poderá (terá de) ser mais abrangente?

Por enquanto ficam as palavras (válidas, claro) — mas o resto está para se ver.

Fontes:

http://www.dn.pt/portugal/interior/costa-defende-reabilitacao-urbana-motor-para-criar-emprego-4974814.html

http://www.noticiasaominuto.com/pais/517596/costa-destaca-importancia-da-reabilitacao-urbana-para-relancar-economia

http://www.jn.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Porto&Concelho=Porto&Option=Interior&content_id=4974008

http://www.porto24.pt/cidade/antonio-costa-o-pais-tem-beneficiar-com-energia-atual-porto/

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