Se não dissesse respeito à cidade do Porto,
talvez não o mencionássemos. Em primeiro lugar, há que admitir: Sim, o Porto
está muito melhor do que estava há alguns anos. Uma tolerância maior para a
Cultura, um esforço maior no sentido da Reabilitação de edifícios emblemáticos
como o Mercado do Bolhão e o Antigo Matadouro Industrial de Campanhã (entre
outros projectos), uma maior cordialidade com os moradores dos bairros sociais
e das ilhas (que se tencionam igualmente reabilitar), um esforço mais elevado
no acompanhamento dos interesses dos cidadãos, uma promoção ainda maior da
cidade e o desenvolvimento do relacionamento com outras autarquias leva-nos a
concluir que o Porto está a abandonar a sua "Idade das Trevas"; mas
como tudo o que se entende por política nada é a preto e branco.
Em matérias de construção, ainda hoje custa lidar com a realidade dos
grandes projectos de betão que marcaram Portugal nas últimas décadas quando se
faltou a outras responsabilidades. Temos boas redes de autoestradas que saíram
caras ao Estado (a todos nós) para não dizer de uma vez que nunca passaram de
projectos ruinosos devido às famosas PPP’s enquanto as nossas cidades e muito
do nosso património caiu no esquecimento a ponto de se transformarem num
cenário quase “apocalíptico” que muito nos envergonha e continuam a contribuir
para uma má imagem no que toca a zelar por aquilo que é nosso.
Devido ao desmazelo (quase) completo do Estado e
do seu relacionamento com a maioria dos municípios durante as últimas décadas,
até mesmo a «extraordinária energia»
do Porto ainda não é suficiente para restituir muito do que foi perdido (até
mesmo em termos de população) e que se encontra degradado. Este discurso do “é
preciso apostar na reabilitação urbana” já tem anos e pouco ou nada se fez
nessa matéria que fosse assim tão impactante — continuamos a viver a realidade
do “tanta gente sem casa/tanta casa sem gente” aliada à falta de um novo paradigma
para a Habitação Social (!), a ausência de esforços mais urgentes e de vontade
para proteger património essencial que poderia marcar pela diferença se fosse
reabilitado (Fábrica da Cerâmica das Devesas, Antigo Museu de Etnografia do
Porto), aumentam-se os riscos da especulação imobiliária, a ausência do IMI dos
centros históricos ou de áreas de protecção histórica/comércio tradicional
continua a ser em muitos aspectos uma miragem, o urbanismo e a circulação automóvel continuam marcados por
erros, é preciso ter em atenção a escassez de árvores nalgumas áreas e de falta de protecção de espécies
autóctones, praças que na sua essência são feias e pouco aprazíveis
(essencialmente por erros da Porto 2001, mas também sempre pusemos em causa a
desfiguração da Avenida dos Aliados) e muitos outros aspectos que ainda têm de
ser debatidos.
Por outras palavras, a “energia” do Porto provém
de um esforço, mas de um esforço que não pode ser apenas substanciado por
palavras ou planos e ideias de respostas fáceis — o empenho do Estado e a sua cooperação
podem ser cruciais para resolver uma larga maioria dos problemas. Vale a pena
acreditar que só a aposta por si só na reabilitação urbana resolverá tudo
quando problemas sociais/económicos, culturais, legislativos e até ambientais
continuam a limitar ou a causar transtorno à adequação do peso que esta
reabilitação terá nos próprios cidadãos? Ou a discussão em torno do que pode
potenciar a reabilitação poderá (terá de) ser mais abrangente?
Fontes:
http://www.dn.pt/portugal/interior/costa-defende-reabilitacao-urbana-motor-para-criar-emprego-4974814.html
http://www.noticiasaominuto.com/pais/517596/costa-destaca-importancia-da-reabilitacao-urbana-para-relancar-economia
http://www.jn.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Porto&Concelho=Porto&Option=Interior&content_id=4974008
http://www.porto24.pt/cidade/antonio-costa-o-pais-tem-beneficiar-com-energia-atual-porto/
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