No cruzamento da Rua de
Diu e da Rua do Teatro, na Foz do Douro, quase passa despercebido um imóvel que
vários definem como «prédio» ou «antigo teatro», pois afinal de contas
terá existido um teatro na rua homónima e é natural, dadas às características
únicas deste edifício, que se confundam com algo de mais notável que uma
moradia. Mas trata-se realmente de uma moradia! E o antigo teatro que existiu na
área situava-se junto a esta casa (muito provavelmente onde hoje se situa um
prédio moderno da autoria do arquitecto Eduardo Souto Moura).
Apesar do conjunto de
intenções e das várias intervenções que esta moradia tem tido no sentido de
melhor preservá-la, principalmente a nível exterior, necessitará de obras mais
profundas de reabilitação para estar pronta a ser habitada. Mas o pior tem sido
no que toca à preservação dos painéis de azulejos – trata-se de um pequeno
conjunto que se situa entre os melhores exemplares de cerâmica Arte Nova que se podem encontrar na área
metropolitana do Porto e que nós atribuímos à Fábrica de Cerâmica das Devesas.
Infelizmente, cerca de um terço dos azulejos já desapareceram e quase outro
terço dos restantes apresentam danos que muito nos desagradam.
Além do seu valor a
nível decorativo, a arquitectura da casa é elegante e denota um traço único
pelas mãos do seu autor que, aliás, julgamos ser o seu primeiro proprietário: o
engenheiro Joaquim Gaudêncio Rodrigues Pacheco (n. 1875), profissional a que
temos de dar importância devido aos seus projectos a nível do alojamento
operário e da Habitação Social, tendo seguido e acompanhado de perto as linhas
programáticas do arquitecto José Marques da Silva (ver Nota no final). O proprietário, com apreço pelo detalhe e rigor, contou com
o mestre-de-obras Licínio Teixeira Cardoso para construir esta moradia em 1910
mas, pouco satisfeito com o primeiro projecto, manda alterá-lo em 1912
consoante o seu próprio gosto. Só muito mais tarde, em 1923, nas traseiras do
edifício, manda acrescentar uma garagem e é possível que várias alterações na
casa decorram em linha com esta adição a partir dessa data, pois nesta secção
já se reconhece uma influência Art Deco.
É precisamente nas traseiras desta casa, viradas para a Rua do Teatro que os danos e os sinais de abandono são mais visíveis. Lamentamos que assim seja - esta moradia é mais um pedaço de património da Foz do Douro que necessita de ser reconhecido... e bem protegido.
NOTA: Joaquim Gaudêncio
Rodrigues Pacheco tornou-se engenheiro-chefe da 3ª Repartição da Câmara
Municipal do Porto em 1909. Embora o seu papel como autor de importantes
projectos na cidade ainda carecem de estudos mais profundos, alimentou-se a especulação
entre vários investigadores de que poderia ser o verdadeiro autor (ou que
tivesse de alguma forma contribuído) do antigo Matadouro Industrial de Campanhã
e até da Escola Infantil do Passeio Alegre na Foz (inaugurada em 1916)
inspirado pelas linhas de Marques da Silva, mas adicionando elementos mais “classicistas”, se bem que não tenhamos como
o comprovar. Tal como o mais notável arquitecto da cidade do Porto, foi um
pioneiro na área da Habitação Social: projectou o Bairro do Bonfim no Monte
das Antas (inaugurado em 1904) e foi responsável pela Colónia Viterbo Campos na
Arrábida (1916/17).
NOTA: Joaquim Gaudêncio Rodrigues Pacheco tornou-se engenheiro-chefe da 3ª Repartição da Câmara Municipal do Porto em 1909. Embora o seu papel como autor de importantes projectos na cidade ainda carecem de estudos mais profundos, alimentou-se a especulação entre vários investigadores de que poderia ser o verdadeiro autor (ou que tivesse de alguma forma contribuído) do antigo Matadouro Industrial de Campanhã e até da Escola Infantil do Passeio Alegre na Foz (inaugurada em 1916) inspirado pelas linhas de Marques da Silva, embora adicionando elementos mais “classicistas”, embora não tenhamos como o comprovar. Tal como o mais notável arquitecto da cidade do Porto, foi um pioneiro na área da Habitação Social: projectou o Bairro do Bonfim no Monte das Antas (inaugurado em 1904) e foi responsável pela Colónia Viterbo Campos na Arrábida (1916/17).
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