Tinha tudo para
funcionar bem e acabou por não funcionar. É a isto o que se resume a existência
de um Laboratório de Habitação Básica e Social para acompanhar a Reabilitação
da Ilha da Bela Vista, o que nos deixa apreensivos.
Há muito que estamos
familiarizados e destacamos o notável papel do antropólogo Fernando Matos
Rodrigues, um dos maiores especialistas sobre os antigos bairros operários e
ilhas (embora semelhantes, não devem ser confundidos) instalados durante o
século XIX na cidade do Porto. Poucos se deram a um estudo tão extensivos deste
género de habitações e comunidades únicas que estiveram em vias de desaparecer
ou que lamentavelmente se degradaram até obterem a actual imagem que temos
destes locais – pobres, devolutos, sem as mínimas condições para habitação. No
entanto, através do trabalho desenvolvido por Fernando Matos Rodrigues, fomos
levados a considerar estes velhos bairros populares e os seus moradores como
parte do rico Património do Porto, um património que convinha ser preservado e
sobretudo reabilitado para garantir o máximo de qualidade e dignidade para os
residentes ainda fiéis às antigas moradas dos seus pais e das suas distintas
comunidades (que em muitos aspectos, devido à proximidade entre os vizinhos,
ainda são bem mais solidárias do que muitas espalhadas pelos bairros sociais do
Porto desenvolvidos durante o Estado Novo e cujo modelo de habitação,
infelizmente, ainda não foi inteiramente ultrapassado).
Como fundador do LABH
Social – Laboratório de Habitação Básica e Social e no seu acompanhamento no
processo experimental de recuperação da Ilha da Bela Vista, equacionando projectos de alunos da Escola Superior do Porto (ESAP), estamos perfeitamente
conscientes que Fernando Matos Rodrigues deu um passo importante no sentido de
replicar um modelo de reabilitação que futuramente (esperamos) seja aplicado na
requalificação das restantes ilhas do Porto. Esse é um aspecto que teremos de
frisar dado todo este interesse em menosprezar algo tão importante quanto um
LABH Social e o papel de outras disciplinas na área da Reabilitação Urbana. É
por isso que lamentamos este afastamento, tão mal-esclarecido, de um verdadeiro
profissional e de um valioso meio que ainda podem representar um papel de maior
destaque no futuro da requalificação e repovoação do centro da cidade e no
debate em torno de um novo paradigma (ainda ausente, mas em meados de ser
desenvolvido) para a Habitação Social nos Centros Históricos.
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