28/08/2014

Quinta dos Salgueiros ou dos Ingleses


Esta quinta situa-se na zona das Antas e é neste momento um verdadeiro conjunto de ruínas que acolhe toxicodependentes ou sem-abrigos temporários, bem como uma extensão de matagal propício à proliferação de ratos. Sem dramas e sem críticas de maior, escapa-nos o motivo pelo qual continua votada ao mais completo desprezo. Já está em ruínas há muito (demasiado) tempo, desde a altura em que foi construído o antigo Estádio das Antas. Está mais que comprovada a sua secularidade, nas quais detectamos elementos barrocos do século XVIII. Nos tempos em que foi habitada deve ter sido uma das propriedades mais aprazíveis da cidade do Porto; desde os finais do século XX que se encontra num estado lastimável.

Já muito foi escrito e debatido sobre esta propriedade abandonada (curiosamente, nunca foi sequer mencionada na Monografia de Campanhã). Estudos, soluções e interesses para reaproveitá-la nunca faltaram aos mais interessados instruídos no assunto. O que falta mesmo é uma acção para recuperá-la e restituí-la aos seus tempos de maior esplendor.


O número 341 ainda marca a entrada principal num portão da propriedade. Continuando por essa entrada deparamo-nos com um antigo obelisco barroco derrubado que fez parte de uma fonte. Atrás dessa fonte, escondida pelo mato, fica uma escadaria que liga à casa principal, de dois pisos e rasgada por várias janelas rectangulares, na qual ainda são vísiveis as várias chaminés das diversas lareiras que possuiu a casa. Do lado esquerdo de quem entra vê-se a capela; atrás da casa segue-se um conjunto de pátios, com mais ruínas de um tanque, de um estábulo e provavelmente do que deve ter sido a casa de criados. Tudo indica que noutra época deve ter tido um conjunto de jardins elegantes, que incluiriam os famosos salgueiros que baptizaram a propriedade.


Ignoramos se esta quinta terá sofrido com os combates do Cerco do Porto entre 1832-33 ou se nela se acomodaram tropas, uma vez que bem próximo existiram dois redutos fortificados onde foram colocados a artilharia dos liberais sitiados. Sabemos é que foi recuperada e continuou a ser habitada após o conflito, até meados dos anos 50 do século XX, pelo menos. Mas não foi a guerra que a destroçou, apesar da sua aparência; foi o desprezo, o tempo e o vandalismo de quem vê num conjunto histórico algo de pouco a estimar.

Poderiamos dizer muito mais sobre esta quinta, mas será escusado, pois as imagens do triste cenário falam por si. Talvez um dia alguém ainda se lembre de nela instalar uma pousada, por estar tão bem situada e conjugar elementos do campo e da cidade. Por enquanto, vai continuar a ser avistada por quem passa na VCI como o mais intrigante monumento no conjunto de outros tantos próximos da Alameda das Antas, que desce até ao Estádio do Dragão.

1 comentário:

  1. É da responsabilidade da CMP dar a esta Quinta uma reabilitação e dignidade!

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