Recentemente acusamos o estado de abandono de uma moradia
projectada pelo arquitecto Júlio de Brito na Rua de Sacadura Cabral; agora
acusamos o estado de desprezo de um prédio de outro conhecido arquitecto cuja actividade
também marcou a cidade do Porto durante o período do Estado Novo: Trata-se do
prédio Nº20 da Rua de Álvares Cabral, projectado por Rogério de Azevedo (1898 –
1989), responsável por obras modernistas com as linhas rígidas do Português Suave como a Garagem do
Comércio do Porto (1930 – 32) na Praça Filipa de Lencastre, a Maternidade Júlio
Dinis (1938) em coautoria com outros arquitectos, o Prédio Maurício-Rialto
(1942) na Praça D. João I e o Hotel Infante Sagres (1945).
O arquitecto Rogério de Azevedo desenhou este prédio em 1930
para os dois irmãos Álvaro Ferreira Alves e Eurico Ferreira Alves, acabando por
ser erguido em 1931, com o apoio do engenheiro Henrique Santos Peres Guimarães.
A entrada principal fazia-se através de um portão, o Nº20, que actualmente é
flanqueado por outros dois. Deveria servir de habitação colectiva para
arrendamento e inicialmente chegou a ter um consultório no rés-do-chão.
Destaca-se pelo contraste de materiais como o reboco e a
cantaria e pela sobriedade e simplicidade, de inspiração Art Deco. É uma linguagem comum de muitos edifícios da época, que
chegaram a servir propósitos tão similares. O motivo pelo qual este acabou
abandonado, e com marcas óbvias de degradação, escapa-nos; mas se a Câmara
Municipal desejasse reabilitar algum prédio antigo perto do centro da cidade
com o intuito de arrendamento social, este poderia ser um dos melhores
exemplos, devolvendo-lhe a sua função original e protegendo em simultâneo a
obra de um arquitecto com um legado marcante.