11/03/2014

Casa Neomanuelina da Foz


A Casa Neomanuelina, também conhecida por Casa do Relógio (por ter um relógio de sol incorporado) nunca deixou de atrair a curiosidade e o fascínio dos muitos visitantes que passam pela zona da Foz, na Avenida Brasil.

Fascinante e emblemática, é única na cidade do Porto. O projecto da casa terá sido desenvolvido por volta de 1907 e a sua construção prolongou-se até 1910, segundo vontade do capitão republicano Artur Jorge Guimarães e da sua mulher Beatriz. O desenho da casa é atribuído ao arquitecto José Teixeira Lopes − irmão do famoso escultor António Teixeira Lopes − igualmente responsável pelo projecto da sede do Banco de Portugal no Porto (em colaboração com Ventura Terra) e da casa do irmão (actual Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia).

Nesta casa, o revivalismo do Manuelino funde-se com os preceitos de uma bela moradia de quatro andares com um torreão central, quase palaciana, própria dos inícios do século XX. Realça-se a sua riqueza escultórica, de arcos e colunas, janelas emolduradas, a par dos magníficos azulejos com motivos dos Descobrimentos. Nos seus pormenores decorativos podemos contemplar cordames e as cruzes da Ordem de Cristo, além do relógio de sol que lhe deu o nome.


A questão é: Como pode uma casa tão emblemática permanecer neste estado, votada ao abandono? Aparentemente, a viúva do capitão Artur Jorge Guimarães deixou a moradia após o falecimento do marido, tendo-a deixado para os seus herdeiros, mas terá sido ilegalmente ocupada por um sapateiro durante os anos 70 do século XX, que dela fez a sua casa e local de trabalho. O sapateiro terá negligenciado a casa e entrou em litígio com os herdeiros da casa, processo que se arrastou nos tribunais durante anos e que nunca se acabou por resolver.

O sapateiro acabou por sair da casa, mas desde então, esta permaneceu abandonada. O seu interior acabou por servir os interesses de vândalos que não o pouparam. Para maior constrangimento da situação, as nossas últimas informações dão conta que a casa chegou a estar na lista para classificação de património, mas foi retirada pelo IGESPAR em 2008, por motivos que nos são alheios. Dificilmente ficaremos alheios à tristeza que causa aos que contemplam a sua impressionante fachada, virada para o mar, à espera de uma valorização mais adequada.

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