A Casa Neomanuelina,
também conhecida por Casa do Relógio (por ter um relógio de sol incorporado)
nunca deixou de atrair a curiosidade e o fascínio dos muitos visitantes que
passam pela zona da Foz, na Avenida Brasil.
Fascinante e
emblemática, é única na cidade do Porto. O projecto da casa terá sido
desenvolvido por volta de 1907 e a sua construção prolongou-se até 1910,
segundo vontade do capitão republicano Artur Jorge Guimarães e da sua mulher
Beatriz. O desenho da casa é atribuído ao arquitecto José Teixeira Lopes −
irmão do famoso escultor António Teixeira Lopes − igualmente responsável pelo
projecto da sede do Banco de Portugal no Porto (em colaboração com Ventura
Terra) e da casa do irmão (actual Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de
Gaia).
Nesta casa, o
revivalismo do Manuelino funde-se com os preceitos de uma bela moradia de
quatro andares com um torreão central, quase palaciana, própria dos inícios do
século XX. Realça-se a sua riqueza escultórica, de arcos e colunas, janelas
emolduradas, a par dos magníficos azulejos com motivos dos Descobrimentos. Nos
seus pormenores decorativos podemos contemplar cordames e as cruzes da Ordem de
Cristo, além do relógio de sol que lhe deu o nome.
A questão é: Como pode
uma casa tão emblemática permanecer neste estado, votada ao abandono? Aparentemente,
a viúva do capitão Artur Jorge Guimarães deixou a moradia após o falecimento do
marido, tendo-a deixado para os seus herdeiros, mas terá sido ilegalmente
ocupada por um sapateiro durante os anos 70 do século XX, que dela fez a sua
casa e local de trabalho. O sapateiro terá negligenciado a casa e entrou em
litígio com os herdeiros da casa, processo que se arrastou nos tribunais durante
anos e que nunca se acabou por resolver.
O sapateiro acabou por
sair da casa, mas desde então, esta permaneceu abandonada. O seu interior
acabou por servir os interesses de vândalos que não o pouparam. Para maior constrangimento da situação, as
nossas últimas informações dão conta que a casa chegou a estar na lista para
classificação de património, mas foi retirada pelo IGESPAR em 2008, por motivos
que nos são alheios. Dificilmente ficaremos alheios à tristeza que causa aos
que contemplam a sua impressionante fachada, virada para o mar, à espera de uma
valorização mais adequada.
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