Não pensamos em dar-lhe outra designação senão o edifício da «Ourivesaria do Bolhão», como foi tão conhecida durante décadas aquela esquina com o seu magnífico relógio de metal, de vitrines viradas para a Rua Formosa e a Rua Sá da Bandeira.
O edifício em questão começou a ser construído em 1916, por vontade do proprietário António da Cunha Tamegão e a sua arquitectura caracteriza-se por aquilo tantas vezes definido na cidade do Porto de Arte Nova Tardia, principalmente a nível das varandas e outros gradeamentos em ferro e dos azulejos com elementos vegetalistas, mas com características que ainda reconhecemos em edifícações mais antigas e com alguns mais modernos, ao qual não nos parece injusto designar o imóvel como portador de um eclectismo mais sóbrio.
Originalmente, o edifício tinha uma planta triangular, mas sofreu várias alterações, com o passar dos anos, sendo os mais marcantes a partir dos anos 20. O primeiro proprietário já havia exigido o levantamento de mais um andar, e Maria Estela de Azevedo P. Spratley, proprietária nos anos 20, também foi responsável por acrescentar mais. O que mais marcou este edifício foi a fundação da primeira ourivesaria - a Ourivesaria Jaime Gomes da Costa e Filhos -que já desde essa mesma altura se instala numa das áreas do edifício que mais tarde dará origem à Ourivesaria do Bolhão.
Foi assim que o conhecemos e talvez seja assim pelo qual os cidadãos do Porto ainda se lembrarão deste imóvel. Este era o local da Ourivesaria do Bolhão. Também acomodou nos pisos superiores a famosa "Casa Forte", um dos locais de comércio mais distintos da cidade, octogenária, onde se vendiam os mais diversos artigos relacionados com vestuário, calçado e material desportivo, que fechou abruptamente em 2004. Os sinais de abandono do prédio eram visíveis em contraste com a ourivesaria resistente. As entradas das montras (e outras) emparedadas representam um sinal de tristeza na Rua Sá da Bandeira - juntamente com outros edifícios vizinhos. Mas a derradeira tristeza para os que muito lamentam os sinais de desertificação no centro histórico do Porto foi quando no final de 2013 se fechou a dita ourivesaria.
Há um relato rude e crítico da forma como foi anunciado o fecho da Ourivesaria do Bolhão: comerciantes e transeuntes assistiram impávidos ao grosseiro derrube do antigo relógio que ficava na esquina; preferiram derrubá-lo e destruí-lo à martelada, na rua, como se não fosse um pequeno pedaço de história elaborado mas um antes um artefacto incómodo e sem valor pronto a ir para o lixo, como acabam muitos bens aos quais nem sempre reconhecemos como elementos dignos de ser preservados...
Os últimos dados que tinhamos davam conta que o edíficio pertencia à Invesprédio, do grupo Bragaparques, que pretendia reabilitá-lo para acomodar lojas de luxo. Até hoje continua a ser mais um edíficio histórico vazio e desprezado, à espera de melhores dias.
Os últimos dados que tinhamos davam conta que o edíficio pertencia à Invesprédio, do grupo Bragaparques, que pretendia reabilitá-lo para acomodar lojas de luxo. Até hoje continua a ser mais um edíficio histórico vazio e desprezado, à espera de melhores dias.